quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Mar Adentro (2004;Alejandro Amenábar)



Indicação ,apresentação do filme e texto : Reinaldo Silva


Qual a vida que merece ser vivida?

                                                    *Filme Mar Adentro
Premiações: Vencedor do Oscar 2005: Melhor Filme Estrangeiro; Indicação ao Oscar 2005: Melhor Maquiagem; Vencedor Globo de Ouro 2005: Melhor Filme Estrangeiro; Indicação Globo de Ouro 2005: Melhor Ator Javier Bardem; Festival de Veneza 2004 Grande Prêmio do Juri: Melhor ator Javier Bardem; Prêmio Goya (Espanha) 2005: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Javier Bardem e em mais 12 categorias

Um dos filmes mais significativos da história do cinema, capaz de mobilizar reflexões e opiniões diferentes sobre um tema atual e complexo, envolvendo Família, Religião, Estado e sentimentos afetivos.
As questões são abordadas de forma direta e com uma aguda sensibilidade pelos atores. O diretor e toda equipe técnica merecem os prêmios que receberam e os inúmeros elogios por parte da crítica. A poesia está em cada cena. A frase “o cinema é a composição das imagens em movimento”, acrescento em relação a este filme: imagens em movimento com poesia. O que impressiona é o primor da fotografia, a composição narrativa, diálogos, roteiro, interpretação dos atores e atrizes, a humanização do tema central, a habilidade e o equilíbrio das cores na iluminação e nas tomadas de câmaras das cenas filmadas em locais internos, a montagem cirúrgica no corte e nas sequências das cenas. Puro talento da equipe técnica e da sua direção. Esse filme merece ser visto em câmara lenta, merece ser interrompido para que possamos observar cuidadosamente a sensibilidade artística de determinadas cenas. 
Vida é movimento. Sem movimento estamos despossuídos de liberdade. Foi se deslocando de um lado para outro que criamos a nossa estória. A vida no planeta seria diferente se não houvesse movimento. Temos total consciência de que só somos capazes de nos sentirmos livres se possuirmos a capacidade de nos movimentar. De podermos nos movimentar para abraçar amigo(a)s, segurar uma criança no colo, correr, subir em árvores, escrever, coçar os dedos dos pés e das outras partes do corpo, nadar, girar a cabeça em direção do que desperta a nossa atenção ...resumo: se não existisse movimento seríamos corpos inertes. Pense nisso por alguns segundos. 
É justamente o que será ensinado por Ramon, personagem vivido por Javier Bardem. Ele quer o compartilhar sobre a sua decisão com a Família, com instituição jurídica do Estado, com o dogma religioso representado pela igreja católica e os amores que surgem. Ramon quer que ouçam os seus argumentos. Sim, Ramon está convicto da sua decisão, ele respondeu para si a pergunta qual a vida que merece ser vivida. Ele irá se expor, partirá para o combate, tentará convencer, atrair cúmplices, quer provocar as crenças irrefletidas ao mostrar sem nenhum pudor o seu corpo. É argumentando e mostrando o seu corpo que ele desafia a todos nós a responder: qual é a vida que merece ser vivida?
Ele não será ouvido ou melhor, só será ouvido quando colocar em dúvida e para efeito de comprovação: o “verdadeiro” amor só será possível se o altruísmo de quem o ama for superado. É com essa explicação que Ramon consegue ser compreendido. O altruísmo é o seu mais violento inimigo. 
Em toda ação altruísta há egoismo. É assim que Ramon fala com os seus interlocutores que tentam persuadi-lo de que a vida que merece ser vivida não lhe pertence. 
Por que a Família, o Estado, o Padre e os amores, não entendem Ramon? É justamente o que Ramon denuncia. Nas minhas palavras é como se Ramon falasse: “deixem cair as suas máscaras, vocês são todos egoístas e querem se fazer passar de altruístas desinteressados. O entendimento que voces possuem do altruísmo só atendem aos seus interesses”.
Eles não entendem Ramon porque negam que a vida seja movimento. Por isso, Família, Estado, Padre e os amores são egoístas que se imaginam altruístas. Querem apenas manter a fachada de defensores altruístas negando e calando com a lei Ramon, quando ele comparece ao tribunal para apresentar seus argumentos sobre a vida que merece ser vivida.
Há uma cena lindíssima em que o diretor utiliza a câmara simulando o sobrevoo de um pássaro, com uma breve orquestração de acordes. Uma imagem poética relatada por Ramon, misturando imaginação e desejo. 
Para finalizar, declaro que os argumentos de Ramon me convenceram. Sou cúmplice da sua vontade. O combate de Ramon não foi em vão. Ele respondeu para si mesmo a pergunta que tem como título este comentário: qual a vida que merece ser vivida?




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