domingo, 22 de abril de 2018

A Classe Operária Vai ao Paraíso (1971,Elio Petri)


Indicação e Apresentação do filme : Ricardo Costa

Capitães de Abril ( 2000,Maria de Medeiros)


Indicação e Apresentação do filme :Joaquim Ferreira

Vidas Secas ( Nelson Pereira dos Santos;1963)





Nelson Pereira dos Santos

Nascido em São Paulo, em 22 de outubro de 1928, Nelson Pereira dos Santos iniciou suas experiências com o cinema na década de 1940. Advogado de formação, no início da década de 1950 veio para o Rio de Janeiro e, a partir desse momento, inaugura o caminho que o tornaria um dos mais admiráveis diretores do cinema brasileiro.
Cineasta engajado politicamente, marcou a história do cinema nacional como integrante ativo de diversos movimentos sociais e cinematográficos. Conforme o próprio Nelson indicou, “foram os dez anos de minha formação, do ginásio à Faculdade de Direito, uma viagem a Paris, o casamento, serviço militar, cineclubes, Juventude Comunista, primeiro emprego em jornal, primeiro filme (…) Estava impregnado da certeza de que o Brasil encontraria o bom caminho para ter uma sociedade mais rica e mais justa.(…)”.
Nelson oficialmente fez 27 filmes, destacando-se nessa produção: “Boca de Ouro”(1955) , “Rio, 40 Graus” (1955), “Vidas Secas” (1963), “Rio, Zona Norte”(1957), “Amuleto de Ogum (1974)” e “Memórias do Cárcere” (1984), destaques que são referência da originalidade da obra de Nelson por conta da perspectiva das camadas populares na condução das narrativas, criando assim a base da estética do Cinema Novo no país, movimento do qual Nelson foi um dos precursores e autores mais destacados.
Foi membro do Partido Comunista Brasileiro nos anos de 1940 e 1950, tendo atuado em escolas de formação. Conforme depoimento do próprio cineasta em 2007: “É importante assinalar que, para mim, e acredito tenha sido para muita gente, o Partido foi uma outra universidade. Uma universidade pelo avesso, pois questionava a versão tradicional da história do Brasil, por exemplo. Outra coisa que o Partido proporcionou foi um convívio amplo com pessoas de classes sociais, origens e formações diferentes (…) “.
Em 1950, fez o curta “Juventude”, sobre trabalhadores de São Paulo, destinado à apresentação num encontro da Juventude Comunista em Berlim Oriental e cujo negativo foi perdido. Essa experiência, para Nelson, foi a sua descoberta para o cinema. Em 1951, escreveu na antiga revista “Fundamentos”, que era preciso inventar uma cinematografia que refletisse “na tela a vida, as histórias, as lutas e aspirações do povo brasileiro”.
Em 1955, com a conclusão de “Rio, 40 graus”, Nelson já indicava a trajetória política que marcaria sua carreira. Filme proibido com o pretexto de ser filme de “comunista”, segundo a censura da época, o próprio PCB liderou uma campanha exitosa para retirar a censura ao filme, que foi lançado em março de 1956. Outros dois filmes importantes da obra de Nelson Pereira dos Santos retomam, em momentos distintos, duas obras do escritor alagoano Graciliano Ramos(1892-1953) outro destacado militante do PCB: “Vidas Secas”, de 1938, e ” Memórias do Cárcere”, de 1953, transformadas em filmes em 1963 e 1984, respectivamente.
Em 1963, no período de efervescência política e cultural que antecedeu o golpe que mergulharia o pais na ditadura político-militar de 1964, Nelson lançou “Vidas Secas”, um dos mais importantes filmes cinemanovistas. Indicado à Palma de Ouro em Cannes em 1964, “Vidas Secas” abordava pelo cinema os problemas sociais do Brasil. O filme prima pela honestidade intelectual de Nelson na adaptação da obra de Graciliano para o cinema. Quem leu o livro de Graciliano Ramos percebe a perfeita sincronia entre as duas representações: roteiro preciso, filme conciso, seco, econômico nos diálogos, tal qual o estilo de Graciliano, mas perfeito nas lentes que, sem recursos artificiais, integram imagem, som e texto de forma equilibrada. Os únicos excessos são o retratos da desumanização, da imensa miséria, exclusão e violência sociais retratadas no filme, bem ao neorrealismo italiano, referência importante do estilo de Nelson Pereira dos Santos. Assim, o diretor mostrava que era possível contar histórias com atores não profissionais, cenários externos e escassos recursos. O filme “Vidas Secas” transformou-se num elemento a mais para pensar o Brasil dos anos 1960.
Na adaptação de Memórias do Cárcere em 1984, para o cinema, Nelson retorna a Graciliano Ramos e a sua autobiografia sobre o Estado Novo. Premiado nos Festivais de Cannes e Havana do mesmo ano, o diretor, na realidade, apresenta uma imagem atemporal das ditaduras, das perseguições políticas e dos problemas crônicos da República brasileira, construindo um retrato social do Brasil, que vivia, naquele momento, os anos finais da ditadura militar. E de acordo com Nelson, “no Brasil estava acontecendo o movimento pelas ‘Diretas já’. Vidas Secas aconteceu no começo da ditadura e Memórias do cárcere festejou o final”.
Com a morte de Nelson Pereira dos Santos, o Brasil fica mais vazio intelectualmente. Morreu uma parte significativa do pensamento contemporâneo brasileiro expressado por uma relação da arte com a cultura popular que transcende a tela e trata o cinema não como mero entretenimento cultural, mas como arte que possibilita uma análise profunda da realidade e aponta para a necessidade de sua radical transformação.

Joaquim Ferreira
https://pcb.org.br/portal2/19446/nelson-pereira-dos-santos

terça-feira, 17 de abril de 2018

Queimada( 1969, Gillo Pontecorvo)


Indicação do filme: Mauricio Siaines
Apresentação e texto  :Joaquim Ferreira;Miguel Armando


Realizado em 1969, Queimada ,dirigido  pelo italiano Gillo Pontecorvo é  ambientado em uma ilha caribenha fictícia,  revelando  tramas e artimanhas da exploração que sustenta o  capitalismo, em especial nos termos da globalização contemporânea.No filme, Queimada é uma ilha portuguesa, mas a verdade é que foi rodado na Colômbia. Outro ponto é que Portugal não colonizou nada nas Antilhas.
Marcando a passagem do colonialismo (dominação direta) para o imperialismo (dominação indireta), a narrativa traz Marlon Brando interpretando o aventureiro Willian Walker  enviado à ilha para fomentar rebeliões e derrubar o domínio português, estimulando o nacionalismo e a constituição como nação independente.
Manipulador habilidoso, Walker instiga a rebelião aliciando líderes e organizando grupos guerrilheiros entre a população escrava que sustenta a monocultura canavieira da ilha, promovendo, também, a substituição da exploração escravocrata pelo liberalismo, incluindo a mão de obra assalariada “livre”. A comparação das relações entre marido, esposa e prostituta, simbolizando patrão, escravo e empregado é um momento marcante do filme, atestando a incomparável habilidade narrativa cinematográfica do diretor no tratamento crítico de temáticas políticas.
Os escravos lutam, ganham, mas não levam. Walker convence a liderança negra que a conquista da liberdade não significa capacidade para governar. A burguesia branca assume o poder e os negros voltam à condição subalterna, com a substituição da opressão colonialista lusitana pela exploração imperialista britânica.Parte da liderança negra retoma a luta, agora contra os novos opressores e Walker é enviado uma vez mais para Queimada, com a missão de caçar e exterminar o líder que ele mesmo criara.
Os governantes fazem com que o povo acredite que eles ocuparão o poder e terão oportunidade de decidir seus destinos, mas, ao final, constata-se, no círculo vicioso da História, que o povo, ainda que sob uma nova roupagem, continua a ser “massa de manobra” daqueles que detém o capital e o conhecimento, já que o saber também é uma forma de poder.
Seja como aula de história, seja como crítica política ou como obra de arte que desnuda a lastimável organização social, Queimada faz parte daquela relação de filmes que leva o espectador a pensar criticamente a globalização, apesar de produzido muito antes do termo virar moda.
“Queimada!” é  essencial para se entender os mecanismos do mundo. Não defende opressores nem oprimidos, mas mostra com inteligência como as coisas se operam na política, com todos os seus jogos e interesses.
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QUEIMADA- Texto de Miguel Armando Perez

No último sábado (21-04-2019) tivemos a oportunidade de assistir um desses filmes inesquecíveis, por vários motivos. Para mim ,que não sou crítico de cinema e sim um admirador dessa arte, foi uma dessas noites maravilhosas.
O filme é uma verdadeira lição de historia (com algo de fantasia), mas, é um desses filmes que deixa muitas perguntas no ar, nos coloca para pensar, pelo tema que aborda, pois, tem uma atualidade impressionante.
Longe de querer falar do filme, queria fazer um simples comentários que pode ate parecer muita pretensão vindo de um cubano, mas foi algo que me chamou a atenção.
O filme foi rodado no ano 1969 e pelo tema que toca, acho que o diretor se inspirou na Revolução Cubana de 1959.
Numa fala do filme se comenta que ficaram 12 guerrilheiros na Serra Madre e logo ao triunfar eram centenas de homens que triunfaram.
A Revolução Cubana começou quando Fidel Castro e 82 homens saíram no iate GRANMA, do México para Cuba para dar inicio a luta armada. Chegando a costa oriental de Cuba, eles foram traídos e praticamente aniquilados pelas forças do regime de Batista, mais que uma emboscada, foi um massacre. Doze homens sobreviveram e subiram a Sierra Maestra iniciando a luta armada. Vitoriosos entram em Havana, já eram centenas que consolidam o Exercito Rebelde, em janeiro de 1959, justo dez anos antes se rodar o filme.
Pode parecer uma pretensão como falei no início, mas para mim, se não foi fonte de inspiração para o diretor, é uma enorme coincidência.
Pretensão ou coincidência é um fato que queria compartilhar com os Loucos deste blog.
No inicio da luta armada ficaram 12 sobreviventes na SIERRA MAESTRA e no relato do filme se fala de 12 na SERRA MADRE e que centenas triunfaram então, tirem as suas próprias conclusões.



O Artista (2011, Michel Hazanavicius)


Indicação e apresentação do filme: Dalvinha Vieira
Texto : Dalvinha Vieira

"O Artista" é uma homenagem ao cinema.O diretor e roteirista francês recua à estética do cinema para contar a história de um astro de cinema mudo que se recusa a adaptar-se  ao início do som nos ano 1930. O som no cinema surge em 1927, com o cantor de jazz.Em 1928, de 294 filmes em Hollywood, 220 era mudos.Em 1929, 28 não tinham som
O galã, George Valentim, não tem este nome à toa: faz uma homenagem a Rodolfo Valentino.E por este motivo, exagera nas feições,num festival de caras e bocas, tão comum no cinema mudo.
Essa fábula surpreendentemente contemporânea sobre um ator engolido pelos avanços tecnológicos, revela muito o nosso momento presente onde tudo é descartável ao menor sinal de uma novidade.
Valentim tem o mundo aos seus pés e não havia nenhum sinal de que  isso mudaria.Mas a realidade é implacável. De repente o mundo é hostil e ele é descartado como algo antigo, superado.Mas paralelamente, uma dançarina e aspirante a atriz, ganha seu lugar ao sol.Esses dois grandes artista vivem o mesmo momento,mas realidades diferentes.
"O Artista! é merecedor de aclamação pela critica e publico: é engraçado, encantador.É uma obra de arte.A atuação de Jean Dujardim é impecável.Ele expressar em sua face cada palavra que não se ouve.Ele e Berenice Bejó estão perfeitos, sozinho ou em dupla.Assistir ao filme é uma viagem no tempo, á era de ouro de Chaplin, Buster Keaton e outros. O enredo é simples , contado de forma leve , mudo e em preto-e-branco, embora tenha sido feito colorido e depois "vestido" para preto-e-branco digitalmente, o que permite maior controle dos contrastes.