terça-feira, 30 de outubro de 2018

Soldados do Araguaia( 2018,Belisário Franca)



Apresentação do filme e roda de conversa com o roteirista Ismael Machado.


SOLDADOS DO ARAGUAIA: EXPERIÊNCIA FÍLMICA E SENSORIAL

Elias Rodrigues chora ao lembrar a cena.No auge da Guerrilha do Araguaia, foi obrigado a prender o próprio pai em Marabá, sudeste do Pará.Corriam os anos 70 e a ação subversiva do pai do então soldado Elias era manter em casa livros considerados subversivos.Durante dois dias, ele foi submetido a torturas na famigerada Casa Azul sem que o filho pudesse fazer qualquer coisa..Depoimentos como esse estão contidos no documentário " Soldados do Araguaia", mais recente longa da produtora carioca Giros Projetos Audiovisuais..O filme foi convidado para a 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em outubro de 2017, com excelente recepção.O documentário também obteve o terceiro lugar no Prêmio Nacional de Direitos Humanos(categoria documentário) em Porto Alegre, dezembro passado.
Com roteiro de Ismael Machado e Belisário Franca, dirigido por Franca- que também assina Menino 23- e fotografia de Mário França, o longa tem,o apoio do Cinebrasil TV e aborda de forma inédita o ainda nebuloso episodio da Guerrilha do Araguaia.Dessa vez o relato é feito pelos  próprios soldados de baixa patente que precisaram combater guerrilheiros nas matas do Araguaia sem que houvesse preparo adequado para isso.E pior,foram submetidos a praticamente os mesmo tipos de tortura e humilhações que deles se queriam no confronto com os combatentes esquerdistas.
Há relatos de soldados que se tornaram mutilados físicos e mentais após o conflito,Praticamente todos foram abandonados à própria sorte logo que a Guerrilha foi exterminada.Sem amparo econômico e psicológico, restaram aos soldados os traumas e seqüelas de uma campanha militar inglória.
O pontapé inicial para o documentário foi uma série de reportagens feitas por Ismael Machado no Pará em 2013 abordando relatos de ex-soldados da guerrilha.A reportagem, publicada no  jornal Diário do Pará, chegou a ser finalista do Prêmio Esso.Já atuando como roteirista, Machado levou  a história até a Giros, iniciando  a partir dai  o trabalho de pesquisa e seleção de personagens junto a produtora executiva do documentário, Michelle Maia.
As filmagens foram realizadas em Belém, Barcarena, Marabá e Rio de Janeiro.Os depoimentos colhidos por Machado e Belisário Franca relatam situações onde a violência imposta pela ditadura militar não poupava sequer seu próprio  braço armado.O episodio é descrita pela psicóloga paraense Jureuda Guerra ,como o "Vietnã brasileiro", pois também se tratou de uma guerra suja , que o Exercito buscou manter sob o mais  profundo silêncio.
"Soldados do Araguaia" tem um grande diferencial em relação a outros filmes do gênero.É um documentário que foge das amarras dos simples depoimentos, buscando complementar os relatos com imagens e sons característicos da região.É  uma experiência fílmica e sensorial impactante.