sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

CICLO DE FILMES "GRANDES DIRETORES" - WOODY ALLEN : Manhattan (1979)

                                                     
MANHATTAN

Conheço muitas pessoas que ao assistir à um filme de Woody Allen me perguntam como posso gostar tanto de seus filmes já que muitos deles dizem que nem conseguem chegar na metade da duração de seus filmes. Independente da resposta que dou, muito acontece pela falta de olhar sem realmente ver. Antes de assistir a um filme dele eu já sei que no mínimo seu roteiro será interessante apenas pelas suas piadas rápidas (que parecem meio escondidas) e seus diálogos levemente complexos. Em Manhattan ele consegue ser simples e ao mesmo tempo complexo. Além de ser uma das mais belas homenagens de um cineasta a uma cidade, ele consegue tocar em tantos assuntos (uns à frente do seu tempo) que ao acabarmos de assistir ficamos perplexos de termos assistido tudo aquilo em um pouco mais de noventa minutos. (...)
Entre tantas tentativas de definir Manhattan, uma delas parece ser a que mais se encaixa com a visão de que o filme quer construir. Ele fala sobre valores em decadência. Mas o ponto central do filme é o desamparo do homem frente a sociedade. Issac é uma pessoa neurótica e insegura. Que parece não conseguir viver sem alguém por perto, seja amigos ou uma companheira. Esse seu problema psíquico remete a Freud e então sua insegurança e seu desamparo é o estado em que se encontra o homem frente a chance de entrar em sofrimento. Além disso, os valores em decadência citados acima parece ser construído mais uma vez em cima da individualidade humana e na necessidade de se apontar para o norte das vontades emocionais em detrimento das racionais e assim o “se dar conta” de onde está a verdadeira felicidade pode ser algo perdido.
O roteiro é construído através de uma riqueza impressionante. Allen, e não podemos deixar de citar Brickman como coautor, constrói algo que é extremamente grandioso seja em piadas rápidas ou em temas que são abordados durante a narrativa. Temos definições para o que é arte (“a essência da arte é oferecer um tipo de resolução para as pessoas, para que entrem em contato com sentimentos que pensavam não ter”), a subjetividade da obra de arte nas discussões entre Isaac e Mary, a decadência jornalística (“fofoca é a nova pornografia dos jornais”), e a definição do espectador televisivo assim como os programas apresentados pelas emissoras (“os padrões do público foram rebaixados através de anos. Esses caras sentam nas poltronas e os raios gamas devoram os leucócitos de seus cérebros”). No campo das piadas as citações a Nabokov ou ao comparar os amigos de Mary a um elenco do filme de Fellini entre outras são rápidas e não deixam de fazer o espectador sorrir (uma cena em um teatro em que temos os dois casais centrais da trama também é extremamente hilária).
Fotografado por Gordon Willis em preto e branco, este é o típico filme que não poderia ter sido fotografado de outra maneira. Com ora carregado em cenas escuras e ora em cenas mais claras o contraste é extremamente natural em uma cidade extremamente urbana como Manhattan. Logo no início, quando Yale faz uma confidencia a Isaac vemos os dois entrando em uma parte escura e clara funcionando metaforicamente como algo escondido no interior de Yale. Há inúmeras cenas que se destacam por formar quadros tão bonitos.
A do planetário, a da ponte de Manhattan etc. Outro destaque é a trilha sonora (outro ponto essencial na filmografia de Allen e que me faz gostar tanto de seus filmes). Realmente ele acertou ao dizer que a cidade pula ao som de George Gershwin. A música se funde perfeitamente a cidade. Não podemos deixar de destacar também a montagem que funciona perfeitamente ao percebermos uma estrutura que se desenvolve de forma funcional (reparem no desenvolvimento do enredo como uma cena leva a outra de forma tão orgânica). É tão perfeito que em certo momento escutamos as notas musicais de ‘S Wonderful e quando acaba essa cena a primeira frase de Mary é justamente: “É maravilhoso”.
Por fim não poderia deixar de citar o elenco. Muitos criticam, mas não acho Allen um ator ruim para os papéis que se escalou. Combinam perfeitamente com a história. Não poderia deixar de citar todo lado cinéfilo de Allen que filma de forma mais parecida com um cinema europeu. Não só a esse tipo de cinema, mas a um cinema antigo que não existe mais na Hollywood de hoje. Ele nunca se deixou levar por cortes rápidos. No roteiro de Manhattan ainda enxergamos colocações a filmes como as citações ao computador de 2001 a piada já citada sobre o elenco de Fellini, citações a Bergman, o cigarro no início que nos remete a Bogart, os filmes de Veronica Lake entre outras citações que discorre sobre o seu lado cinéfilo.Ao terminar o filme ficaríamos facilmente debatendo vários temas abordados no filme. Uma outra observação é que sua visão está a frente de seu tempo, pois o filme é de 1979 e já aborda temas contemporâneos. É nisso que por si só os filmes de Allen me conquistam. Quando vem o todo então se torna irresistível
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Crítica de Márcio S. - http://www.adorocinema.com/filmes/filme-1617/criticas/espectadores/#review_3061535

Democracia em Vertigem ( Petra Costa,2019)



terça-feira, 28 de janeiro de 2020

CICLO DE FILMES "GRANDES DIRETORES"- WOODY ALLEN


PRECISAMOS FALAR DE WOODY ALLEN

Woody Allen vem protagonizando uma polêmica terrível há algum tempo com sua ex-mulher ,a atriz Mia Farrow .Acusado de abuso infantil, o cineasta teria assediado sexualmente sua filha adotiva , Dylan Farrow . É apropriado admirar a obra de Woody Allen, apesar dessa denuncia pairar sobre sua imagem ? Deveríamos boicotar seus trabalhos? Ou podemos admirar seus filmes sem entrar em méritos pessoais do diretor e de sua vida privada? Ao contrário de Roman Polanski,por exemplo, que foi condenado de fato, nunca houve uma investigação ou pelo menos não se encerrou, que tivesse sido levada a cabo no caso de Allen. Polanski, foi condenado por ter estuprado uma menina de 13 anos no final dos anos 1970 nos EUA mas livre até hoje por ter fugido para a Europa.O curioso , nesse caso, é que na época. Polanski teve em Mia Farrow uma de suas mais importantes defensoras. Conforme biografia do diretor parecia que "talvez o julgamento de Roman estivesse errado nesta ocasião ", mas ele foi " perseguido" em consequência", disse Mia Farrow . O problema é a espetacularização do fato. Mídias sociais não podem ser usadas como provas e como júri..A dificuldade de esclarecimento passa também pelo ritmo da justiça e sua morosidade seletiva por conta do dinheiro e influência , que podem ter um papel decisivo para amenizar a imagem de personalidades publicas famosas como o diretor nova-iorquino . Vivemos uma onda de levantamento de bandeiras para a causa de grupos pouco valorizados dentro e fora da indústria cinematográfica, notadamente de mulheres e negros. A partir dessa atmosfera de maior conscientização, fica cada vez mais claro como a permissiva indústria do cinema estadunidense  vai de encontro a um apagamento de relatos como o de Dylan Farrow. Contudo, esses casos precisam ir para julgamento para que sejam punidos e vítimas futuras possam se proteger através do precedente legalO caso Bill Cosby nos EUA de 2018 foi uma prova contundente de que a grande mídia e a justiça precisam estar atentas aos relatos de “supostos” sobreviventes de abuso sexual. Cosby foi acusado e condenado por inúmeras mulheres por crimes como estupro, agressão, assédio sexual e abuso sexual de menores. entre 1965 e 2018. Silenciadas por décadas, as vítimas de Cosby ganharam voz e levaram à justiça o crime cometido por um dos comediantes mais populares da televisão norte-americana . Antes disso tudo acontecer, no entanto, essas dezenas de vítimas foram silenciadas ou ridicularizadas por décadas. Redes sociais não podem , ser consideras como júri. Para isso, a organização racional e pública da justiça precisa ser mais ágil e menos "seletiva." Nesse cenário, é complexo julgar antecipadamente Woody Allen. O julgamento pessoal é moralmente mais fácil. Mas se ele é culpado, que seja condenado! E quantas grandes obras não foram produzidas por pessoas de caráter no mínimo duvidoso? O relato de abuso da atriz Tippi Hedren contra o diretor Alfred Hitchcock é um exemplo do quanto Hollywood tem um longo histórico de ignorar o problema.O ator e diretor Sean Penn não foi também o agressor de Madonna? E Charles Chaplin ? E o que dizer de Robert Downey Jr. e seu passado como um usuário de drogas quase irrecuperável? D.W. Grifith é considerado um dos mais influentes diretores da história do cinema e obrigatório para qualquer estudante de cinema .Grifith é conhecido pelo seu controverso filme "O Nascimento de uma Nação", e também pelo filme "Intolerância", de comprovado cunho racista e de relações com a Ku Klux Klan As obras desses e outros artistas são o objeto do gosto pelo cinema e não exatamente quem eles são como pessoas ao admirar suas filmografias. Conhecer a filmografia de Allen é simplesmente obrigatório para quem realmente quer entender o cinema .Sua importância na história do cinema é indiscutível. Woody Allen , por varias vezes, declarou que seus personagens, seus roteiros e suas reflexões em seus filmes, são pistas sobre sua vida pessoal .Ver “Annie Hall” (1977), “Interiores” (1978), “Manhattan” (1979), “A rosa púrpura do Cairo” (1985), 'Zelig(1983) “Hannah e suas irmãs” (1986), “Tiros na Broadway” (1994) "Crimes e Pecados (1989) ou “Meia noite em Paris” (2011), para citar alguns filmes do diretor, é um rito essencial para saber algo de básico sobre cinema, narrativa, construção de personagens , dramaturgia e cinema de autoria.

 
Joaquim Ferreira




[1] Polanski - uma Vida : Christopher Sandford;2007 (pp.302)

O Pagador de Promessas (Anselmo Duarte;1962)





   Indicação, apresentação do filme e  texto: Joaquim Ferreira

 O PAGADOR DE PROMESSAS [1]
 O Pagador de Promessas, filme dirigido por Anselmo Duarte (1920-2009) é uma adaptação do texto teatral homônimo de Dias Gomes (1922-1999), filmado na Bahia entre agosto e setembro de 1961. A peça de Dias Gomes foi encenada pela primeira vez em 1960, em São Paulo.  O filme está na lista dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos, segundo a Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine)[2]
A história consiste na tentativa de Zé do Burro cumprir a promessa de entrar na Igreja de Santa Bárbara com a cruz que carrega do interior do sertão baiano até Salvador, depois que seu burro é curado de uma infecção causada por uma ferida. A promessa fora feita em um terreiro de candomblé, diante de uma imagem de Iansã-Santa Bárbara. Além da peregrinação com a cruz, Zé havia prometido que, caso o burro sarasse, repartiria sua pequena propriedade
Para o papel principal, Duarte escala o ator Leonardo Vilar (1923), que protagoniza a encenação da peça teatral em São Paulo. No elenco principal, temos Glória Menezes (1934), Dionísio Azevedo (1922-1994) e os baianos Geraldo Del Rey (1930-1933), Antônio Pitanga (1939), Roberto Ferreira (Zé Coió) e Othon Bastos (1933). Norma Bengell (1935-2013) faz a prostituta Marli.[3] O diretor de fotografia é o inglês Chick Fowle, que, a exemplo do resto da equipe técnica, vem de experiência anterior na companhia Vera Cruz.
O Pagador de Promessas é selecionado para representar o Brasil em Cannes em 1962, (o outro filme cotado era Os Cafajestes, de Ruy Guerra, 1962) .É o único filme brasileiro a ganhar a Palma de Ouro em Cannes, concorrendo com filmes como "O Anjo Exterminador", de Luis Buñuel, "O Eclipse ", de Michelangelo Antonioni e "Cléo de 5 à 7", de Agnés Varda. O longa-metragem de Anselmo Duarte também foi indicado ao Oscar no ano seguinte.
Apesar de não ser considerado um filme do Cinema Novo ,esse filme, lançado durante o governo de Jango, momento de grande agitação política e social no Brasil, inaugurou um importante momento do cinema brasileiro, o cinema engajado, preocupado com as questões sociais.Com Anselmo Duarte, assim, impulsiona-se o novo cinema brasileiro:
O segundo filme dirigido por Anselmo Duarte,[ o primeiro foi "Absolutamente Certo", de 1957] galã da Vera Cruz e da Atlântida, é um caso único nas artes brasileiras. Constitui um dos filmes-ponte entre a tentativa de se fazer um cinema industrial, vigente ao longo dos anos 1950, e a proposta revolucionária do então nascente Cinema Novo. O Pagador de Promessas foi talvez o ápice do “velho” cinema brasileiro, neorrealista, convencional, baseado em regras de verossimilhança e continuidade. A luz do fotógrafo Chick Fowle ainda evocava a estética rebuscada da Vera Cruz, assim como a trilha sonora de Gabriel Migliori. No entanto, o filme já continha elementos que iam explodir no Cinema Novo: atores como Othon Bastos e Geraldo Del Rey (presentes logo depois em Deus e o Diabo na Terra do Sol) e principalmente o desejo de refletir sobre a realidade brasileira do momento.( O velho e o novo 30/05/2012 ,Carlos Alberto Mattos)
Contudo, o destaque dado ao filme pela premiação da Palma de Ouro gerou uma das histórias mais lamentáveis dos bastidores do cinema brasileiro. Grande parte dos realizadores do Cinema Novo renegou o filme. Glauber Rocha,por exemplo, que antes o havia elogiado, acusou Duarte de filmar uma realidade de esquerda com ideologia de direita.
O  Pagador de Promessas excita o tempo todo: não provoca a menor reflexão. O homem humilde e simples é contaminado pelo misticismo de Zé do Burro e, como ele, quer destruir aquele padre para entrar na Igreja. E, mesmo que a entrada na Igreja fosse simbólica, o símbolo da Igreja é maior em si mesmo: a exaltação é puramente sensual. Eis porque classifico O Pagador de Promessas como filme baiano. É o resultado típico de um espírito retórico, que encontra no poeta condoreiro dos escravos seu príncipe legítimo. Como espetáculo, O Pagador de Promessas é mais importante que O Cangaceiro e Orfeu Negro: Anselmo Duarte é um diretor que conhece seu ofício com segurança, e desde Absolutamente certo que denota senso de observação humana e social. Em O Pagador de Promessas esteve preso às limitações exigidas por Dias Gomes e teve pouca liberdade criadora. Glauber Rocha Revisão crítica do cinema brasileiro(1963).
O elogio da simplicidade do homem comum foi visto como uma celebração do atraso, do conformismo e da derrota, em lugar do espírito revolucionário. Como resultado dessa rejeição, o filme caiu em relativo esquecimento:
Não merecia. É um clássico incontestável e desperta admiração até hoje. A sequência em que Zé do Burro "namora” com a imagem de Santa Bárbara poderia ter sido assinada por Buñuel. O uso dramático da escadaria da igreja como símbolo de ascese espiritual e o esforço do personagem para entrar no templo usando a cruz como aríete são, com certeza, momentos culminantes do nosso cinema.( O velho e o novo,Carlos Alberto Mattos;30/05/2012)
Tecnicamente, o filme é extremamente correto. A decupagem trabalha dentro do essencial e demarca as relações entre os personagens de forma enfática, seja através de trocas de olhares (como as do primeiro encontro visual entre Rosa e Bonitão), seja por meio de campo-contracampo que, ao alternar o foco em câmera baixa e câmera alta, traz o peso de uma hierarquia e de uma opressão. No primeiro confronto entre Zé e padre Olavo, nos momentos em que o diálogo atinge pontos de conflito (por exemplo: quando Zé revela que fez sua promessa num terreiro de candomblé), o padre sobe alguns degraus, para ficar num nível mais elevado que o de Zé, e é enquadrado em contra-plongé, o que reforça sua figura de autoridade.
A mise en scène [4] de Duarte é bem elaborada em termos de fluência dramática; há equilíbrio de composição, uniformidade técnica, desenvolvimento realista da ação, aproveitamento da profundidade de campo (cf. cenas em que, de dentro do bar, vê-se nitidamente a escadaria da igreja, confrontando os dois espaços na mesma imagem, demarcando a ruptura entre o que eles representam para a sociedade e, ao mesmo tempo, a continuidade entre as ações que neles se desenvolvem).
O roteiro de Duarte, que o adiciona novos cenários (o hotel onde; o jornal; a sala onde os profissionais da Igreja se reúnem amenizam o impacto da representação da escadaria em síntese, o local da ação dos personagens.
O filme mantém a unidade espacial do drama, desenvolvendo a maior parte da ação em uma única locação, na escadaria da Igreja de Santa Bárbara que, por sua própria disposição arquitetônica parece um anfiteatro, com as escadarias assemelhando-se a arquibancadas. Os arredores da igreja, situada no centro histórico de Salvador, também são utilizados, a exemplo do bar em frente, ao pé da escadaria, onde são encenados alguns dos mais importantes momentos da trama.
André Bazin, acerca do teatro e do cinema, vai dizer que "ou o filme é a pura e simples fotografia da peça (logo, com seu texto), e é precisamente o famoso 'teatro filmado', ou a peça é adaptada às 'exigências da arte cinematográfica'". Portanto, Anselmo Duarte ao adaptar a obra teatral de Dias Gomes não subverte a história e os diálogos e promove a passagem do texto para o cinema através da linguagem cinematográfica.
O filme hoje reveste-se uma atualidade importante no sentido das relações fundamentalistas das religiões com a sociedade.
A religião é uma das atividades sociais mais remotas e significativas da história humana e inseparável da cultura de cada indivíduo. Há milhares de anos, a religião exerce forte influência sobre a vida dos indivíduos na ação de construção de mundo. O vocábulo latino relig, do latim religio1denota o sentido de uma ação perante a algo desconhecido que se faz sentir cotidianamente: a (re) ligação do ser humano com o transcendental. A religião, no entanto, não é só crença no sobre-humano. Ela é também a existência de idéias e práticas sociais que regulam ética e moralmente a vida dos indivíduos. O filme " O Pagador de Promessas" mostra o catolicismo oficial, hierarquizado e fundador chocando -se com autênticas manifestações religiosas mais populares , inferindo um questionamento da ordem .A formação cultural do Brasil em termos religiosos é sincrética e se um por lado o sincretismo contem um esvaziamento teológico de significados,por outro o transito de elementos sincréticos aproxima a religião da dinâmica social. A parte final do file que opõe capoeiristas e as mães-de-santo à policia e ao padre, em torno do corpo de Zé do Burro e seu corpo carregado na cruz derruba, mostra uma concepção classista que supera a transcendência das religiões salvacionistas marcando o embate religioso nas relações sociais opondo fundamentalismo e tradição à cultura e religião populares .
NOTAS:

[1] The Given Word/ La Parole Doné ( A Palavra Dada): A copia exibida é de um DVD europeu, contendo legendas em inglês e francês embutidas, assim como, tem explicação em francês na abertura contextualizando a promessa do Zé do Burro.
[2] 
Lista_dos_100_melhores_filmes_brasileiros_segundo_a_Abraccine
: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_dos_100_melhores_filmes_brasileiros_segundo_a_Abraccine
[3] Inicialmente, Glória Menezes interpretaria Marli, e Maria Helena Dias seria a protagonista, Rosa. Porém Maria Helena pegou pneumonia e foi substituída por Glória, que deixou o papel de Marli para Norma Bengell.
[4] Mise en scène é uma expressão francesa que está relacionada com encenação ou o posicionamento de uma cena. É tudo aquilo que aparece no enquadramento, como por exemplo: atores, iluminação, decoração, adereços, figurino, etc. O termo ficou conhecido por ser empregado nos primeiros "filmes de autor" no começo do século XX. Cada "diretor-autor" tinha o seu modo particular de construir uma cena, ficando conhecido por seu mise en scène (modo de posicionar a cena, ou seja, os efeitos de luz, enquadramento da câmera, entonação de voz, gestos e movimentos no cenário, etc). Não ficando limitado apenas à parte técnica da produção, o mise en scène possui uma característica marcante em cada "cineasta-autor" pelo teor dramático que transmite, ao mesmo tempo que utiliza de modos não convencionais de construir a cena. Mesmo o mise en scène ser uma expressão utilizada maioritariamente na indústria cinematográfica, o termo pode ser usado para definir qualquer tipo de situação onde se "constrói" uma cena, definindo o cenário ou outros elementos.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Que Horas Ela Volta ? (Anna Muylaert;2015)


Indicação do filme: Cristina Felício

Barravento ( Glauber Rocha;1962)


Indicação,apresentação do filme e texto : Virgílio Roma

  

BARRAVENTO (1962)
 
A- SOBRE GLAUBER ROCHA.
Nasce em 1939 e filma Barravento com 23 anos e Deus o Diabo com 25. Elogiado por Fellini e Buñuel.Era considerado elemento perigoso pela ditadura militar. Aceitou a abertura promovida por Geisel no final dos anos 70. Morre em 1981 aos 42 anos. B- FILMOGRAFIA DE GLAUBER ROCHA.
Barravento (1962)
Deus e o Diabo na Terra do Sol(1964) -  Indicado a Palma de Ouro em Cannes.
Terra em Transe (1967).Indicação a Palma de Ouro em Cannes.
Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro(1968).Melhor diretor em Cannes.
Cabeças Cortadas (1970)
Idade da Terra (1980)
Di Calvalcanti.1977- Documentário ; Premio do Júri em Cannes.
Sobre Glauber Rocha :  “A Rocha Que Voa”, de Eric Rocha C- BARRAVENTO.
Filme do Cinema Novo, influenciado por Visconti ( A "Terra Treme",  clássico do neorrealismo italiano).
Para ele cinema era “uma idéia na cabeça e uma câmera na mão”.G.R. era um expoente  do Cinema Novo.
Resumo do Filme:
Firmino ,antigo pescador que foi pra cidade, volta a sua  aldeia questionando os valores da comunidade que aceitava a dominação comercial e a vida por conta da religião Africana e a fé em Iemanjá. Essa  fé lhes traria prosperidade. Firmino tenta quebrar o encanto que dominava o novo mestre da aldeia.
TEMA:  A FÉ  E A RELIGIÃO COMO INSTRUMENTO DE DOMINAÇÃO  E SEU COMBATE.
Tema que aparece em Deus e o  Diabo. Ali para enfrentar a fome e vida do sertão nordestino o caminho era a fé  ou a luta dos cangaceiros contra os coronéis.




quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Rio 40 Graus (Nelson Pereira dos Santos,1955)



Indicação ,apresentação do filme e texto: Mageca C. Gomes

 Rio 40 graus( Diretor Nelson Pereira dos Santos, 1955)
Musica tema – A VOZ DO MORRO – Ze Ketti – 1921 a 1999
Logo na apresentação do filme, lemos:
“Cidade de são Sebastião do Rio de Janeiro em RIO, 40 GRAUS”
 Portanto a intenção é apresentar o Rio em suas belezas e cruezas e logo de inicio nos leva a um passeio aéreo sobre a cidade, já mostrando as diferenças entre Zonas Norte e Sul, praia e favela - e também o TODO que é a cidade - e é nesse cenário que acontece a historia de 5 meninos pobres em um dia  de forte calor, que vão a 5 pontos turísticos do Rio vender amendoins (Maracanã, Corcovado, Copacabana, Pão de Açucar e Quinta da Boa Vista). A historia se dá com as situações vividas e sofridas por eles e os personagens secundários.
Existe uma clara influência do Neo Realismo Italiano que acontece no pós 2ª guerra e que por isso, busca uma forma mais simples e novas técnicas cinematográficas, como a filmagem fora de estúdio, a câmera na mão e uso de atores não profissionais. Diretores representantes no neo realismo italiano são:

Roberto Rosselini – Roma, cidade Aberta – 1945
Vittorio de Sica – Ladrões de Bicicleta – 1948, e
Luchino Visconti – A Terra Treme – 1948

Outro recurso muito usado é o ‘profundidade de campo’, onde uma cena ocorre em 1º plano e outra em 2º. Então a 1ª sai da cena e a 2ª se desenrola, e daí em diante.
DE modo geral o filme é bastante maniqueísta na medida em que carrega nas tintas ao mostrar a classe rica como cheia de defeitos e a pobre e preta o inverso.
Após ser finalizado em 1955, o filme foi aprovado pela censura, mas o chefe do Departamento Federal de Segurança Publica, Cel Menezes Cortes, o proibiu de novo para exibição em salas publicas. Então, diretor e atores correram para os jornais e organizaram sessões privadas chegando a reunir ,ais de 1 mil intelectuais, artistas e jornalistas, e foram eles que iniciaram uma grande discussão, discursos inflamados em jornais com muitos artigos publicados a favor da liberação do filme. Mais a frente políticos tb se envolveriam da discussão facilitando a liberação em dez/56.
Bom, o argumento do Cel  foi de que o filme ‘apresenta delinquentes, viciosos e marginais, cuja conduta é até certo ponto enaltecida’ e entre outras consideraçõesm dizer que o filme era totalmente inverídico até porque jamais se chegaria a 40 graus no Rio (rsss).
Alguns comentários da época diziam que  ‘Rio, 40 graus, deveria ser exibido nas escolas (e não apenas em salas de exibição) publicas’ (Zero Hora), e Jorge Amado publica um artigo em 27/09/55, dizendo:
“A proibição do chefe de Polícia toma como pretexto o filme mostrar “elementos marginais” ... e não apresentar conclusões morais. (os “elementos marginais” devem ser os vendedores de amendoins, os moradores das favelas, os jogadores de futebol, os trabalhadores, os Sócios das Escolas de Samba, pois esses são os heróis do filme). É evidente a ilegalidade da proibição e odioso o pretexto apresentado. Caso se mantenha tal proibição, não poderão mais os nossos cineastas mostrar o povo em seus filmes ... e o olho da câmara deve limitar-se aos grandes automóveis, aos milionários, aos senhores de champanhota e às senhoras do café-society.”
Toda essa argumentação serviu, entre outras coisas, para firmar o cinema nacional como uma arena política onde o povo, as injustiças, as mazelas teriam que ser mostrados para que todos soubessem e discutissem. Esse já era o entendimento da maioria dos cineastas mas não tinha ganhado as ruas ainda, algo que só aconteceu após essa briga ocupar as primeiras paginas de jornais durante meses.
Por fim, ao ser liberado, foi premiado em SP com o Premio Saci de Menção Especial para o diretor, e o Premio Governador do Estado, de Melhor Roteiro. No DF, recebe prêmios de melhor filme, Diretor e Argumento (Nelson Pereira dos Santos) e melhor Ator (Jece Valadão).