quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Cine São Paulo (2017;Ricardo Martensen e Felipe Tomazelli)


Distribuição : Taturana Mobilização Social

CICLO DE FILMES "GRANDES DIRETORES" - FRANÇOIS TRUFFAUT

Indicação , apresentação dos filmes e texto: Joaquim Ferreira


FRANÇOIS TRUFFAUT
Nascimento: 6 de Fevereiro de 1932 
Falecimento: 21 de Outubro de 1984
Paris - França

Um dos  criadores do movimento cinematográfico conhecido como Nouvelle Vague . Os temas principais de sua obra foram as mulheres, a paixão, a infância e o cinema . Foi  também roteirista, produtor e ator. François Truffaut fez seu primeiro filme em 1955, o curta  Uma Visita, filmado em preto-e-branco e 16mm. Naquele mesmo ano, produziu o argumento de Acossado, de Jean Luc-Godard, outro importante nome da Nouvelle Vague.

FILMOGRAFIA
 1983 - De Repente,Num Domingo (Vivement Dimanche!)
1981 -A Mulher do Lado (La Femme d’à Côté)
1980 -O último metrô (Le dernier metro)
1979 -O amor em fuga (L’amour en fuite)
1978- O Quarto Verde (La chambre verte)
1977- O homem que amava as mulheres (L’homme qui aimait les femmes)
1976 -Na idade da inocência (L’argente de poche)
1975 -A História de Adèle H. (L’Histoire d’Adèle H.)
1973 -A noite americana (La nuit americaine)
1972- Uma jovem tão bela como eu (Une belle fille comme moi)
1971- As duas inglesas e o amor (Les deux anglaises et le continent)
1970 -Domicílio conjugal (Domicile conjugal)
1969 -O Garoto Selvagem (L’Enfant Sauvage)
1969 -A Sereia do Mississipi (La Sirène du Mississipi)
1968- Beijos Proibidos (Baisers Volés)
1967- A noiva estava de preto (La mariée etait en noir)
1966- Fahrenheit 451 (Fahrenheit 451)
1964 -Um Só Pecado (La Peau Douce)
1962 -Amor aos 20 anos (Antoine et Colette)
1962- Uma Mulher Para Dois (Jules et Jim)
1960 -Atirem no Pianista (Tirez Sur le Pianiste)
1959- Os Incompreendidos (Les Quatre Cents Coups)
1958-Une Histoire D'Eau(co-dirigido com Jean-Luc Godard )
1957-Les Mistons(Os Pivetes)
1955-Une Visite(Uma Visita)
  
INFÂNCIA
 Truffaut  nunca conheceu o pai biológico e foi criado pelos avós maternos - já que a mãe o rejeitara.  Com sete anos, François viu o primeiro filme no cinema.Aos 10 anos, François perdeu a avó e foi morar com a mãe, que estava casada com Roland Truffaut, um arquiteto católico que registrou  o garoto com o seu sobrenome. Foi o período mais difícil da infância de Truffaut. Rechaçado pela família ,seu espírito rebelde transformou-o em um mau aluno na escola e o induziu a cometer alguns atos de delinqüência, como pequenos furtos. Esta fase de convívio com os pais inspiraria futuramente na construção de Os Incompreendidos de 1959, longa-metragem  de estréia de Truffaut.
A paixão pelo cinema fez o jovem Truffaut fundar, em 1947, um cineclube, chamado Cercle Cinémane. numa época de enorme efervescência cultural na França do pós-Segunda Guerra Mundial.Sobre isso, dizsse Truffaut: "Naquela época na minha vida (...)o cinema agia como uma droga,ao ponto do Cineclube que fundei em 1947 ostentar o nome pretensioso  mas revelador de Cercle Cinémane( Círculo Cinemamiaco)"  [1] François TruffautOs filmes de minha vida, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1989.pp.15
Mas o Cercle não teria vida longa, já que ele concorria com o Travail et culture, cineclube do escritor e crítico de cinema André Bazin. Quando este soube que o Cercle estava à beira da falência, foi conhecer o jovem Truffaut e, sensibilizado com o menino cinéfilo, passou a ser uma espécie de "tutor" para ele.

A NOUVELLE VAGUE
Truffaut desenvolveu seu famoso conceito de Politique des Auteurs (Teoria Autoral),  no qual a obra é considerada uma produção individual, seja ela uma canção, um filme ou um livro. Defendia que a responsabilidade sobre um filme dependia quase que exclusivamente de uma única pessoa, em geral o diretor. Para ele, o grande representante de sua teoria era o diretor britânico Alfred Hitchcock. Estilisticamente, Truffaut desenvolveu a teoria da Câmera-Stylo. O  cineasta tal qual um escritor ,"escreve" com sua câmera . algumas das características da Nouvelle Vague :  Câmera na mão, pequenos orçamentos, montagens transgressoras, filmagens nas ruas com  atores pouco conhecidos interpretando personagens marginais como criminosos, rebeldes e adúlteros ,roteiro livre e ligado a temas cotidianos e foco no psicológico dos personagens foram 

CAHIERS DU CINÉMA
Em abril de 1951 - época em que François Truffaut estava preso - foi criada a Cahiers du cinéma. F undada por André Bazin(1918-1958), influente crítico e teórico do cinema É uma das mais importantes revistas de cinema do mundo. 
 Em 1956, Truffaut foi assistente de produção de Roberto Rossellini .
Truffaut alistou-se nas Forças Armadas francesas. Arrependido ,tentou escapar  mas acabou preso por tentativa de deserção. Novamente, André Bazin intercedeu por ele e Truffaut livrou-se do serviço militar depois de dois anos, em fevereiro de 1952. Desempregado, aceitou morar com a família de Bazin e se dedicou a ver filmes e escrever artigos como freelancer.

A MISE-EN-SCÈNE
Derivado da terminologia do teatro, é  ato de encenar uma peça ou de pôr em cena um espetáculo teatral ou de dirigir um filme. André Bazin usa a expressão para descrever um estilo de direção fílmica distinto daquele conhecido como montagem. Enquanto esta deriva seu significado da relação entre uma tomada e a próxima através da edição, a "mise-en-scène" enfatiza o conteúdo da tomada ou "shot" ou "frame", Seus proponentes vêem a montagem como disruptivo para a unidade psicológica do homem com seu ambiente e citam filmes tais como "Citizen Kane", de Orson Welles, como exemplo  para o apoio aos seus argumentos. O cisma entre a "mise-en-scène" e montagem é mais profundo na teoria do que na prática: a maioria dos cineastas emprega ambos quando dirigem seus filmes. Aqui e ali algum cineasta prefere a "mise-en-scène", outros, a montagem.

A MONTAGEM NA ARTE DO FILME

O termo "montage", como é geralmente entendido hoje, está associado ao trabalho e à teoria de Sergei Eisenstein e Lev Kuleshov., na qual veio a representar o arranjo retórico de planos em justaposição, de modo que o choque ("clash") entre duas imagens limítrofes sugere uma terceira entidade independente e cria um significado inteiramente novo. americano .Eisenstein via a montagem como meio de evocar reações emocionais dos espectadores.



domingo, 20 de outubro de 2019

As Vinha da Ira( John Ford,1940)



Indicação e apresentação do filme: Joaquim Ferreira

Vinhas da Ira (The Grapes of Wrath, EUA – 1940)
Diretor: John Ford
Roteiro: Nunnally Johnson (baseado no livro de John Steinbeck)
Fotografia: Gregg Tolland
Elenco: Henry Fonda, Jane Darwel, John Carradine, Charley Grapewin, Doris Bowdon, Russell Simpson, O. Z. Whitehead, John Qualen
Duração: 129 min.

 Filme cheio de momentos onde palavras não sobram e a fotografia de se expande, John Ford dialoga com o  deserto em Preto e Branco — uma maneira relacionada a sua  marca dos filmes de faroeste, gênero com o qual é usualmente associado. —   que reforça  o pessimismo que os personagens sofrem durante o filme , com paisagens extremamente sombrias, como as almas daqueles  que perderam tudo por causa da crise . A Grande Depressão ocorreu no período após a quebra da bolsa de Nova Iorque, em 1929 e  muitas pessoas perderam o emprego, suas terras e o crédito no banco. O filme mostra como milhares de cidadãos dos Estados Unidos fizeram viagens para vários lugares, saindo de suas propriedades em busca de colheitas de frutas ou de algodão, para trabalhar, em troca de um salário e de um teto para dormir. A  maior parte da história se desenrola na estrada - um road fiction, - , que é um elemento importante no filme, porque promove uma possibilidade para a família Joad, de encontrar um lugar onde possam viver e dar continuidade ao trabalho na agricultura , experiência capaz de mudar a vida dos personagens
Ford se apropria do romance homônimo, ganhador do Pulitzer, escrito por John Steinbeck e constrói uma história na qual a terra é um personagem indispensável e dela advém a ira e a indignação que será combustível para uma maneira diferente de enfrentar os desafios e lidar com a vida. 
O título do filme " As Vinhas da Ira"  relaciona-se a  uma metáfora do verde vale da Califórnia, onde há produção de uva e que representa o alimento, o trabalho e a esperança, numa época tão difícil naquele país.
Em uma narrativa repleta de diálogos contundentes  ,Tom Joad — interpretado por Henry Fonda —, começa a questionar e pensar sobre o que ainda não conhece: uma forma justa e decente de conviver em sociedade.
E é assim que o relato da fome e da dureza é desenhado. A falta de comida e dinheiro podem muito bem serem capazes de arrebentar o espírito de solidariedade, facilitando a tentativa do egoísmo de vencer esta batalha árdua a favor da certeza de que tudo vai dar certo, de uma forma ou de outra.
O argumento para tecer a crítica ao capital é a desumanização de bancos e autoridades, ou seja, os responsáveis passam a ser corporações e não mais homens. Não existe mais um rosto para dialogar ou apontar a espingarda. Não existe contra o que lutar, o desconhecido é o grande culpado.
Este filme foi indicado a 7 Oscars ao lado de O Grande Ditador de Charles Chaplin, Rebecca de Hitchcock e outros grandes nomes. Tendo como pano de fundo a Grande Depressão, a história da família Joad rendeu o Oscar de Melhor diretor a John Ford, em 1941 e o de Melhor Atriz Coadjuvante para Jane Darwel, que interpreta a mãe. A personagem exibe a força e a coragem acesas pelo medo. Medo da separação da família e do futuro incerto. Mas é ela também a figura mais cheia de intensidade e facilidade de se adaptar em meio às adversidades.
Outros personagens ganham forma e destaque ao longo desta jornada. O pregador que em uma das cenas mais marcantes explica porque jamais voltará a pregar a palavra de Deus:

Pregadores devem saber e eu não sei. 


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Início este comentário lançando mão sobre a definição do título deste filme que se tornou um clássico por inúmeras virtudes. Ultrapassou o campo literário e cinematográfico e seu conteúdo serve como suporte para a historiografia da época, análises sociológicas e para a filosofia política. Meu comentário vai nesta direção, ou seja, será político na medida em que temas como opressão, exploração da força de trabalho no campo, luta por direitos fundamentais, capital financeiro, consciência de classe ... são expostos sem nenhum subterfúgio no filme de John Ford.
O forte significado religioso do título do filme
Vinho simboliza fertilidade, conhecimento, prazer e iniciação, bem como o sagrado e o amor divino. No cristianismo simboliza o sangue de Cristo. Além do catolicismo outras religiões adotam o vinho como bebida santificada: judaica e cristã ortodoxa, dentre outras.
Na mitologia grega, Dioniso (Baco para os romanos) é o deus do vinho que representa a divindade do excesso, da expansão, do riso e da alegria profana, além de ser cultuado nas colheitas de outono, associando-se aos deuses da agricultura. Dioniso é retratado com uma coroa de vinho, símbolo da eternidade. O vinho também estava relacionado aos cultos pagãos. Portanto, o vinho possui uma dupla simbologia oposta: união e desagregação, eternidade e desunião, concórdia e discórdia. Já a palavra ira é de origem latina, refere-se a fúria e violência, uma paixão da alma humana que causa raiva e indignação.
Luta política em que as noções da simbologia religiosa unem-se as questões sociais
Do início ao fim do filme vemos por intermédio de cenas, fotografia e diálogos a trajetória de uma família do campo despojada dos seus direitos, expulsa pelo capital financeiro visível na brutalidade de seus capatazes, que não reconhecem velhos e crianças, produz loucura. Aquela família não é um caso isolado. Seus bens e a cultura comunitária a qual pertenciam foi implodida, como tantas outras. A alternativa para sobrevivência é ter esperança, sentimento incerto, duvidoso, mas a única crença que alimenta a precariedade que a fome causa e antídoto contra a loucura. Expulsos e em
busca de um local onde a sua força de trabalho debilitada poderá ser empregada para o seu sustento, aquela família causa por onde passa, constrangimento e pequenos atos de acolhimento.

O pregador que não acredita mais que possa levar amor e compaixão para os homens, acaba sendo um personagem chave no filme. Ele no final do filme abre a porta, ou como sugere suas palavras, “ilumina com a lanterna”, o despertar da consciência de classe. A personagem mãe é fundamental não só pelo amor e dedicação a família, sobretudo pela capacidade de resistir e lutar não só contra a opressão do capital financeiro, mas também contra o pior inimigo interno existente em sua família: o conformismo, principalmente de seu marido. Seu discurso nos minutos finais do filme é de uma potência presente até os dias atuais.
Reinaldo Silva

Lênin em Outubro( 1937,Mikhail Romm)



Apresentação do filme: Prof. Ricardo Costa( Fundação Dinarco Reis)

Mikhail Romm Ilich nasceu na cidade siberiana de Irkutsk. Serviu no Exército Vermelho durante a guerra civil e graduou-se em escultura pelo Instituto Artístico-Técnico de Moscou. Em 1931 ingressou no Estúdio Mosfilm, onde atuou como produtor e diretor. No Instituto de Cinematografia Gerasimov (VGIK), a partir de 1962 foi professor de proeminentes cineastas como Andrei Tarkovsky, Grigori Chukhrai, Gleb Panfilov e Elem Klimov. Realizou 18 longas-metragens, entre os quais "Bola de Sebo” (1934), “Treze” (1936), “Lenin em Outubro” (1937), “Lenin em 1918” (1939), “Sonho” (1941), “Garota nº. 217” (1945), “Missão Secreta” (1950), “Nove Dias em Um Ano” (1962), “O Fascismo de Todos os Dias” (documentário, 1965) e “A Questão Russa” (1947). Recebeu o Prêmio Stalin nos anos de 1941, 1946, 1948, 1949 e 1951. De seu filme “Sonho”, disse o presidente Franklin Roosevelt: “é um dos maiores do mundo”.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

CICLO DE FILMES "GRANDES DIRETORES " - PEDRO ALMODÓVAR :Tudo Sobre Minha Mãe (1999)


Indicação ,apresentação do filme e texto : Cristina Felício


TUDO SOBRE MINHA MÃE(1999)
Drama/Comédia com Cecília Roth, Penélope Cruz, Marisa Paredes;Música:Alberto Iglesias;Oscar de melhor filme, Prêmio Goya: melhor filme,Cenografia,Direção,Melhor Atriz, Trilha Sonora e Maquiagem.Homenagem ao filme  A Malvada"(1950, Joseph L. Mankiewicz) com Bette Davis

O filme surgiu de uma breve cena da "Flor do meu segredo"(1995) .Quando lançou "Tudo Sobre Minha Mãe", Almodóvar era "apenas" um excêntrico e interessante diretor espanhol que fazia da fauna suburbana madrilenha,o seu espaço de problematização, sátira e denuncia entre cores quentes, direção kitsch e temas que giravam em torno do vicio, prostituição, homossexualidade e travestimo, com humor ,mesclando tragédia e comedia no cotidiano das pessoas à margem da sociedade.
O refinamento temático veio com " A Flor do Meu Segredo"(1995) e "Carne Trêmula"(1997) e coloco '"Tudo Sobre Minha Mãe" no caminho do amadurecimento definitivo do diretor.
A história acompanha Manuela ( Cecília Roth) que vê seu único filho Esteban morrer no dia que completava dezessete anos, em um acidente de recria uma das famosas cenas de "Noite de Estréia "(John Cassavetes).Arrasada, Manuela vai a Barcelona em busca do pai de seu filho.
Em comparação aos filmes anteriores, assistimos a uma obra mais plácida e, ao mesmo tempo,mais profunda.O ambiente sanguíneo, cor símbolo fundamental do principio da vida ,é explorado pelo fotografo brasileiro Afonso Beato.
A direção mantém o ritmo de valorização e destaque da mulher, com toda a delicadeza e fúria necessárias para tratar questões de gênero, mixando os estilos formais e temáticas femininas de George Cukor, Douglas Sirk e Werner Fassbinder, onde o desejo, a ausência , a sublimação e o desespero andam de mãos dadas com inúmeras variações sexuais.A "cidade das mulheres" almodovarianas, explicitamente felinnianas, recria um gênero, a partir da transgressão dos tabus, fabricados sobre o amor, o sexo, o casal, a maternidade e a família burguesa..O grande encanto do roteiro é que tendo plantado a tragédia desde o inicio, toda a trajetória acaba desaguando em um ode a vida, o amor , as pessoas e ao perdão.



Yesterday( 2019;Danny Boyle)