quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Rashomon ( Akira Kurosawa;1950)






 Indicação e apresentação do filme e texto : Fábio Martins

Rashomon (Às Portas do Inferno)
Ano: 1950
Direção: Akira Kurosawa
Roteiro: Ryunosuke Akutagawa, Akira Kurosawa, Shinobu Hashimoto
Elenco: Takashi Shimura (O lenhador)
Toshirô Mifune (Tajômaru)
Minoru Chiaki (O sacerdote)
Machiko Kyô Masako Kanazawa (esposa do Samurai)
Masayuki Mori Takehiro Kanazawa (Samurai)
Kichijiro Ueda (O camponês)
Noriko Honma (Médium)
Daisuke Katô (O policial)

Sinopse:
Em 1950, Kurosawa se interessou por um roteiro de um jovem aspirante, Shinobu Hashimoto, com uma história de um estupro e assassinato, contada por diferentes e conflitantes pontos de vistas, baseado em dois contos de Ryunosure Akutagawa. O diretor viu potencial no roteiro e, a quatro mãos com o autor, o melhorou e expandiu. Rashomon, cujo título no Brasil é Às portas do Inferno, recebeu críticas mornas no Japão, mas o desempenho comercial foi razoável.
A história se passa no Japão do século XI, durante uma forte tempestade um lenhador (Takashi Shimura), um sacerdote (Minoru Chiaki) e um camponês (Kichijiro Ueda) procuram refúgio nas ruínas de pedra do Portão de Rashomon. O sacerdote e o lenhador, testemunhas do crime, começam a contar os detalhes do julgamento. O crime ocorreu num bosque onde um bandido (Toshirô Mifune) intercepta um casal que viaja, depois estupra a mulher e mata o marido.
No julgamento, os depoimentos das testemunhas são divergentes, cada um narrando os fatos de forma conflitante. No filme, Kurosawa revela seu pioneirismo narrativo, construindo uma parábola sobre a honestidade e os limites da dignidade humana. Do ponto de vista técnico, devido à dificuldade de se filmar no meio de uma floresta, Kurosawa inova ao usar espelhos para refletir a luz do sol nos rostos dos atores.
No exterior, o filme foi sucesso de público e crítica, chocando o mundo cinematográfico internacional que ainda não conhecia a tradição dos filmes japoneses de época e a genialidade de Kurosawa. Rashomon recebeu diversos prêmios, como: Leão de Ouro e Crítica no Festival de Cinema de Veneza de 1951; venceu o National Board of Review de Nova York em 1951 nas categorias de melhor diretor (Akira Kurosawa) e melhor filme estrangeiro; ganhou um Oscar honorário em 1952 (na época não havia a categoria para filmes estrangeiros, que só foi criada em 1956).



quarta-feira, 7 de setembro de 2022

O Labirinto do Fauno (Guillermo del Toro;2006)


Indicação e Apresentação  do Filme:João Miguel




Considerações sobre o filme "O Labirinto do Fauno".

Exibido ontem pelo Lumière-Loucos por Cinema/Cineclube ,o "Labirinto do Fauno" é certamente um filme que deixa impressões distintas a cada exibição.É uma das condições,a meu ver,para que um filme torne-se excepcional.Sua atualidade política,sua âncora histórica ,o recurso a dialética e a arte ,colocam o filme de Guillermo Del Toro como fundamentais para a compreensão do cinema contemporâneo.É o que  vários críticos classificam como "os novos clássicos". Enquadrado equivocadamente como "filme de terror ",o terror narrativo e condutor do filme é o terror fascista.Ambientado em 1944 ,no fim da Guerra Civil Espanhola,Del Toro utiliza-se dessa âncora histórica para aproximar afantasia e a imaginação à difícil realidade da menina Ofélia , protagonista que desenvolve uma percepção original diante do "monstro" fascista.Orfã de pai e tendo que acompanhar a mãe para que esta componha sua "segunda família "após o casamento  com o capitão Vidal, Ofélia cria uma realidade imaginativa que, paralela a narrativa histórica da Guerra Civil Espanhola, tenta atenuar sua condição existencial. Ofélia sente-se abandonada, sua mãe está doente , está grávida e recusa-se a chamar  o capitão de pai.A partir daí,Del Toro , ao classificar o filme como "um conto de fadas para adultos", constrói a narrativa redimensionando a tradição dos contos de fada que, invariavelmente, opõe o bem e o mal numa luta que no final é favorável ao primeiro.Del Toro, brilhante ao usar esse recurso,trabalha com o duplo da condição bem x mal,ao mostrar as realidades de Ofélia  e do Capitão Vidal buscando o sentido para ambos naquele  momento vivido.Para Ofélia, é buscar a saída e o conforto diante da situação pela imaginação infantil .Para o Capitão Vidal,a saída é obedecer e combater. As cenas de violência destacadas pela atuação do Capitão,além de tecnicamente muito bem feitas, são necessárias  e com o exagero de quem precisa mostrar e denunciar a violência fascista ,seja lá o momento histórico que ela exista .Caso contrário,o  diretor romantizaria a realidade e abandonaria a História.Como colocou o João Miguel que apresentou o filme, não é a típica violência "hollywoodiana" mas a violência existente na História.

Assim,Ofélia e o Capitão possuem duas crenças distintas , fés inabaláveis ,bem e mal paralelos que no fim do filme encontram-se,tangenciam-se. E nesse sentido,a montagem do filme é excepcional , reforça antagonismos  e analogias e destaca a realidade dialética.Tive a percepção também que Del Toro, além da necessária crítica ao franquismo,critica também a monarquia espanhola,que por ser monarquia  já é anacrônica.Afinal o Fauno parece uma porta voz da família real espanhola  ao considerar Ofélia como uma princesa.E a saída do labirinto é uma proclamação ao sacrifício inevitável da luta política e seu exemplo e necessidade para gerações futuras-Ofelia e seu irmãozinho - e da indicação de possibilidade do triunfo sobre o fascismo - a cena final sobre o Capitão Vidal.Assim,bem e mal não desaparecem mas,na sua luta  criam o entendimento e o  olhar diferentes sobre a realidade que é  também o recurso contido na função social da arte.Assim o cinema como tal cumpre esse papel sobretudo com filmes como o "Labirinto do Fauno "

Joaquim Ferreira

sábado, 3 de setembro de 2022