sexta-feira, 8 de setembro de 2023

A Faca na Água (Roman Polanski;1962)


 

RETROSPECTIVA ROMAN POLANSKI



 Em 2019 o Lumière Cineclube   organizou uma série de exibições mensais, “Grandes Diretores”, que divulgou e discutiu o legado de diretores considerados clássicos visto que suas filmografias influenciam até hoje a produção cinematográfica. Com curadorias diversas, assim foi ao exibirmos filmes dedicados a Alfred Hitchcock, Pedro Almodóvar, Orson Welles, François Truffaut Woody Allen e Agnès Varda, sendo que as exibições da cineasta francesa foram interrompidas por causa da pandemia do coronavírus em março de 2020.Quando as sessões presenciais foram restabelecidas os filmes da cineasta francesa foram exibidos nas sessões regulares.

Retomaremos essas exibições em 2023 ao longo dos meses de setembro e outubro de 2023 com o diretor franco- polaco Roman Polanski. E ao longo da programação outros diretores serão abordados.
 Polanski nasceu em Paris no ano de 1933, e hoje aos 90 anos acumula uma conturbada e intensa trajetória de vida particular, emocional, pública, policial e profissional.
O diretor de origem judia sobreviveu ao Holocausto na Polônia onde sua mãe foi morta pelos nazistas.  Em 1969 sua mulher Sharon Tate, grávida de seu filho, foi assassinada pela Seita Manson nos Estados Unidos. Nesse mesmo país em 1977 cometeu crime de abuso sexual de uma jovem de 13 anos. Condenado pela justiça estadunidense, até hoje é proibido de entrar nos Estados Unidos onde é considerado foragido. O próprio Polanki assumiu o delito.
E em meio a essas tragédias pessoais, é importante também destacar a genialidade demonstrada por Polanski em seus filmes. Deste modo as apresentações das sessões querem também discutir se podemos separar a obra de um artista de sua vida pessoal. O crime de Polanski implicou diretamente na importância que a sua obra teve e continua tendo para o cinema?  Se sim, devemos cancelá-lo? Devemos não assistir os seus filmes?  Ou o gênio está acima do bem e do mal? Cabe ao crítico de cinema e ao cinéfilo que quer conhecer melhor os filmes e os diretores a tarefa de julgar o artista como se fosse um juiz?  Sei que cabe à justiça julgar o artista em termos de penalização. E no caso de Polanski isso foi feito. As zonas de sombra nas quais coabitam e se intrincam a lei, a política, a moral e a ética, devem ser devidamente clareadas.
Não se trata de defender determinados artistas e suas condutas intoleráveis, mas de propor uma visão crítica sobre a chamada “cultura do cancelamento”. Negar uma obra por quem a produz não é conhecimento e impede a possibilidade de critica-la. Por outro lado, esses questionamentos são resultantes de um momento atual extremamente importante para a própria indústria cinematográfica. O cinema precisa de maior representatividade social pois excluiu e apagou, em mais de 100 anos, mulheres, minorias raciais, pessoas LGBTQIA+ e muitos outros grupos.
A partir de uma maior conscientização, fica cada vez mais claro a importância em levantar tais questões e aprofundá-las em conversas nas nossas sessões e em textos que serão publicados posteriormente nas redes sociais do Lumière Cineclube.

Joaquim Ferreira