domingo, 15 de outubro de 2017

O Grande Ditador(1940,Charles Chaplin)

Indicação do filme: Lyz Almeida
Apresentação do filme e Texto: Joaquim Ferreira
Como apresentar um filme de Chaplin sem ser redundante?  Diante de seus filmes,  como falar de montagem, enquadramento, ritmo, trilha sonora, fotografia,  ,sendo original? Quantos e quantos filmes analisamos, assistimos, compartilhamos e  não percebíamos que falávamos  de Chaplin? Ao   falar de cinema, falamos implicitamente em  Chaplin ,Falamos  em  genialidade  em  atualidade e em  poesia , aquela  tipifica o homem com seus  sentimentos da  razão objetiva das coisas simples que podem mudar o mudo.   Até o choro em Chaplin é diferente: a lagrima contorna a boca,a origem  do riso. Temos o enlace da comédia com a  tragédia equilibradas:temos a vida como ela é!   Não é a poesia  da emoção barata e  da superficialidade  lacrimogênea.Chaplin  é "poesia de raiz" (se permitem  o termo  atualíssimo). E se o cinema não consegue mais falar de Chaplin  sem lugares-comuns, sem ser redundante,  recorro a  Carlos  Drummond de Andrade, o mineiro que escrevia quieto. Poeta não precisa ser espalhafatoso e  assim como Chaplin,  Drummond , não era .Na sua vasta obra, dedicou  linhas e mais linhas   a Carlitos ,a Chaplin , enfim ,ao vagabundo. Drummond é o  poeta do amor que"  bate na aorta", e na falta do amor, e da frustrada  tentativa do amor,  sugere  " Meu bem, não chores, hoje tem filme de Carlito" . E o consolo vem através de  um " filme de 16 milímetros [que]  entra em casa por um dia alugado e com ele a graça de existir mesmo entre os equívocos, o medo, a solitude mais solita. Agora é confidencial o teu ensino, pessoa por pessoa, ternura por ternura, e desligado de ti e da rede internacional de cinemas, o mito cresce. O mito cresce, Chaplin, a nossos olhos Velho Chaplin, a vida está apenas alvorecendo e as crianças do mundo te saúdam. " .
Charles Chaplin,  ao balançar sua bengala, desloca as  possibilidades e trilha um caminho diferente do senso-comum . Como Drummond disse, - "  Vai, Carlos! Ser gauche na vida" !  ..um homem do povo.


Canto ao Homem do Povo - Charles Chaplin(Trecho) .

" Era preciso que um poeta brasileiro, não dos maiores, porém dos mais expostos à galhofa, girando um pouco em tua atmosfera ou nela aspirando a viver como na poética e essencial atmosfera dos sonhos lúcidos, era preciso que esse pequeno cantor teimoso,de ritmos elementares, vindo da cidadezinha do interior onde nem sempre se usa gravatas mas todos são extremamente polidos e a opressão é detestada, se bem que o heroísmo se banhe em ironia, era preciso que um antigo rapaz de vinte anos, preso à tua pantomima por filamentos de ternura e riso dispersos no tempo, viesse recompô-los e, homem maduro, te visitasse para dizer-te algumas coisas, sobcolor de poema. Para dizer-te como os brasileiros te amam e que nisso, como em tudo mais, nossa gente se parece com qualquer gente do mundo - inclusive os pequenos judeus de bengalinha e chapéu-coco, sapatos compridos, olhos melancólicos, vagabundos que o mundo repeliu, mas zombam e vivem nos filmes, nas ruas tortas com tabuletas: Fábrica, Barbeiro, Polícia, e vencem a fome, iludem a brutalidade, prolongam o amor como um segredo dito no ouvido de um homem do povo caído na rua.(..)Falam por mim os abandonados da justiça, os simples de coração, os parias, os falidos, os mutilados, os deficientes, os indecisos, os líricos, os cismarentos, os irresponsáveis, os pueris, os cariciosos, os loucos e os patéticos.Ó  Carlito, meu e nosso amigo, teus sapatos e teu bigode caminham numa estrada de pó e de esperança." ( A Rosa do Povo ,1945)


domingo, 8 de outubro de 2017

O Encouraçado Potemkim(1925;Serguei Eisenstein)



Apresentação do filme: Ricardo Costa

O Encouraçado Potemkin (1925)
Sergei Eisenstein (1898 – 1948), almejava transformar o cinema de entretenimento vazio em ferramenta política. Para Vladimir Lenin, líder da revolução socialista, o cinema era a mais importante das artes, e foi logo estatizado em 1919 .
Filmes  como A Greve (1924) e Outubro (1928), transmitiram o  espírito revolucionário de sua época. Alexandre Nevsky (1938), sobre as invasões germânicas durante a Idade Média, incentivou os soviéticos a resistirem ao ataque nazista na Segunda Guerra Mundial.
Sua obra-prima incontestável é  O Encouraçado Potemkin, um dos filmes mais influentes de todos os tempos, produzido em 1925 para comemorar os vinte anos do levante ocorrido na cidade de Odessa contra o Czar Nicolau II.,evento considerado uma espécie de ensaio para a revolução de 1917. 
O enredo do filme é a  dramatização de um  grupo de marinheiros, retornando à Rússia após serem derrotados em uma guerra contra o Japão, que se amotinam em função da carne podre servida na ração. Lutam contra os oficiais. A insurreição espalha-se pela cidade e recebe apoio popular. O povo lhes doa alimentos. O governo czarista lança o exército contra a multidão de rebeldes. Ocorre um massacre de civis. O encouraçado bombardeia o teatro da cidade (QG dos generais inimigos e templo da arte burguesa). Ao amanhecer, os amotinados recebem apoio de outros navios e, juntos, navegam rumo ao futuro, rumo à revolução. O verdadeiro protagonista de “O Encouraçado Potemkin” é o próprio navio: símbolo do coletivo humano construído na transição de uma época para outra, resumindo o lema do filme (um por todos e todos por um), que atinge a tensão máxima entre o épico e a tragédia. O filme apresenta características do cinema mudo tradicional, com diálogos na tela, imagens em preto-e-branco e a trilha sonora (de Edmund Meisel); (sempre pontuando as cenas, com um tom sombrio nos momentos dramáticos e acordes mais agitados na tensa cena da escadaria).
Para contar essa história, o diretor russo fez uso de recursos até então inéditos. o que chamaria de “montagem das atrações”. Eisenstein explicou que sua teoria cinematográfica apropriava-se da dialética marxista: propunha o choque da tese e da antítese, sua superação, gerando uma síntese. Os cortes são abruptos: ponto, contraponto, fusão. Para ele, o impacto provocado por um filme acontecia em função do ritmo, não do enredo narrado. Um dos pontos chave para o estabelecimento da moderna técnica da narrativa cinematográfica foram os estudos da escola de cinema do mundo, a Escola de Filmes de Moscou (VGIK;1919). Um de seus professores, Lev Kuleshov, professor de Einsenstein. O chamado "Efeito Kuleshov" que seria a base da chamada Teoria da Montagem, que defende a justaposição de uma imagem com outra provoca um conflito cujo resultado é uma terceira idéia distinta, que acaba sendo maior que a soma individual de suas partes (processo da dialética). O “efeito Kulechov mostrou que a arte cinematográfica é, sobretudo, montagem. A famosa quarta parte de “O Encouraçado Potemkin”, conhecida como “a escadaria de Odessa”, é um exemplo da emoção artística que a combinação de plano e montagem, característica do cineasta. Contrariando a técnica da época, Eisentsein força os planos, transformando-os ao colocá-los ao lado de outros aparentemente incompatíveis (“montagem de atrações”), o que faz com que o choque de duas imagens crie, na psicologia do espectador, uma nova síntese que foge das imagens apresentadas e se apresenta na dialética da montagem. Em sua estréia “O Encouraçado Potemkin” teve um sucesso indiscutível. Eisenstein tinha, então, apenas 27 anos. Apesar do sucesso, poucos países assistiram o filme: na França, por exemplo, só foi exibido publicamente em 1953, no Japão em 1959 e na Itália em 1960. Na Espanha, esteve proibido até a morte do ditador general Francisco Franco, em 1975. Nos Estados Unidos, após corte de cerca de um terço do filme, “O Encouraçado Potemkin” estreou em 1926, fazendo um sucesso tão grande que os estúdios americanos convidaram Eisenstein a filmar nos Estados Unidos.
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120 anos de Eisenstein: cinema é revolução
26/01/2018
Por Joaquim Ferreira*

https://pcb.org.br/portal2/18510/120-anos-de-eisenstein-cinema-e-revolucao

A Revolução Soviética de 1917 é um dos acontecimentos mais marcantes do século XX. As dimensões sociais do antigo Império Russo foram solapadas e redimensionadas em torno do ideal socialista.O cinema teve a oportunidade não só de acompanhar a mudança, mas também de ele próprio filmar essa mudança com a eclosão de novas formas e conceitos estéticos. Nasce o cinema como arma de agitação política. Para Vladimir Lenin, o cinema era a mais importante das artes e foi logo colocado a serviço da revolução com a criação do Vsesoyuznyi Gosudarstvenyi Institut Kinematografii (VGIK), ou Instituto de Cinematografia de Todos os Estados da União, em 1919, a despeito das dificuldades encontradas durante a Guerra Contrarrevolucionária (1918-1921). Foi a primeira escola no mundo a profissionalizar a prática do cinema, e um de seus primeiro alunos foi Serguei Eisenstein, que transformou o cinema de entretenimento vazio em ferramenta política.Nascido em 22 de janeiro de 1898 e falecido em 11 de fevereiro de 1948, Esisenstein revolucionou a linguagem cinematográfica e colocou a sua arte a serviço da Revolução Bolchevique. Filmes como “A Greve” (1924) e “Outubro” (1928) transmitiram o espírito revolucionário de sua época. Outro de seus filmes, “Alexandre Nevsky” (1938), sobre as invasões dos cavaleiros teutônicos durante a Idade Média, incentivou os soviéticos a resistirem ao ataque nazista na Segunda Guerra Mundial. No entanto, é com “O Encouraçado Potemkin”(1925) que Eisenstein revela todo a sua competência técnica e engajamento político , mostrando que arte e política podiam andar juntas. O ” Encouraçado Potemkin” registrou os vinte anos do levante ocorrido na cidade de Odessa contra o Czar Nicolau I durante as lutas de 1905, movimento considerado como o “Ensaio Geral” para a Revolução de 1917. O filme é considerado uma das melhores obras da história do cinema, e Eisenstein passou a figurar como um dos mais influentes diretores de todos os tempos.No “Encouraçado Potemkin”, o ator principal é a própria tripulação do navio, símbolo do coletivo humano construído na transição de uma época para outra. A injunção de um herói coletivo em detrimento do vulgar herói individual do cinema norte-americano e a indicação dos inimigos de classe do proletariado (burguesia, oficiais militares, o czarismo, a Igreja Ortodoxa) são elementos que constroem a obra que é matriz do cinema engajado e revolucionário. O filme oferece elementos do cinema mudo tradicional, com intertítulos entre as cenas, imagens em preto-e-branco e trilha sonora pontuando o ritmo ora sombrio, ora mais agitado, como a célebre cena da escadaria de Odessa. A famosa cena da escadaria é um exemplo da emoção artística originada da combinação de plano e montagem, característica de Eisenstein.Para contar essa história, o diretor soviético fez uso de recursos até então inéditos, a exemplo do “Efeito Kulechov”, derivado de Lev Kulechov, professor de Serguei Einsenstein na Escola de Filmes de Moscou. Eisenstein explicou que sua teoria cinematográfica – a “montagem das atrações” – apropriava-se da dialética marxista: propunha o choque da tese e da antítese, sua superação e geração de uma síntese. Os cortes são abruptos: ponto, contraponto, fusão, enquadramentos intimistas alternados com planos gerais radicais. Eisenstein considerava o impacto provocado por um filme pelo ritmo e não propriamente pelo enredo narrado. Afinal, o enredo – a História – estava no plano real, matéria-prima da filmagem. O chamado “Efeito Kulechov” mostrou que a arte cinematográfica é, sobretudo, montagem, mas sempre com a referência a um ponto e a um objetivo totalmente distintos de narrativas diletantes, fugidias, tão comuns nas produções eivadas de pós-modernismo.A obra de Serguei Eisenstein, é verdade, merece mais estudos, exibições, criticas e análises. Contudo, as bases de um cinema engajado e político que abarque todas as dimensões da vida social foram lançadas. No centenário da Revolução Russa registramos também que o cinema tem um poder de transformação quando dialeticamente relaciona-se com a realidade, compartilhando emoções, impressões, desejos, expectativas e esperanças. O cinema é uma das mais valiosas formas de comunicação de massa, um dos meios mais eficazes para a difusão de mensagens. Nesse sentido, o cinema une e socializa, possibilitando reflexão para apreender a realidade e mudá-la. Assim “.. o cinema é único porque, no sentido pleno do termo, é um filho do socialismo… Num único ato cinematográfico, o filme funde o povo a um indivíduo, uma cidade a um país. Funde-os mediante mudança desconcertante e transferência, mediante o escorrer de uma lágrima…” (Serguei Eisenstein, 1939)

*Militante do PCB e coordenador do Cineclube Lumière- loucos por Cinema, Lumiar, Nova Friburgo-RJ.


120 anos de Eisenstein: cinema é revolução

domingo, 1 de outubro de 2017

Che Parte 1: O Argentino / Che Parte 2: A Guerrilha ( Steven Soderbergh;2008/2009 )




A " Rota do Chê" :Vídeo baseado em fotos de Mauro Oddo


Apresentação dos filmes: Klaus Graban e Miguel Armando

Depoimento enviado por  Miguel Armando sobre a convivência de sua mãe ,Maria Teresita Tosar Curbelo, com "Che" Guevara.

He estado exprimiendo mi memoria para ver que otra anecdota sobre el Che (vivida personalmente) me quedaba por transmitirles.  Realmente fue Papi quien estuvo mas cerca de el.  Yo podria decirte varias anecdotas pero de las que se comentaban pues las que vivi personalmente (o las vivio Papi) creo que ya las sabes.  Vamos a hacer un recuento:
-  Cuando el Che oyo a varios empleados del Ministerio de Industrias quejarse de la reduccion de los abstecimientos que les llegaban y el se les opuso diciendo que consideraba eran mas que suficientes.  Quedo, sin embargo, preocupado y al inquirir en su casa acerca de la entrada de abastecimientos, se entero que tenian una cuota especial para dirigentes.  Ordeno, de inmediato, que se retirara y se circunscribieran a la libreta de abastecimientos.
- El dia que Papi y yo estabamos haciendo trabajo voluntario en los muelles en el que el Che participaba.  Hubo un momento que todos estabamos exhaustos y el Che baia estado sufriendo de ataques de asma.  Llego la noticia de que en un muelle cercano habia otro barco cargado y que no habia quien sacara las mercancias.  El Che dijo de inmediato: "...Vamos para alla..."  No llamo a nadie, ni exhorto a nadie pero TODOS nos dispusimos a ir con el a pesar del cansancio.  El predicaba con el ejemplo.
- Al irse de Cuba las grandes transnacionales, habiamos perdidos los suministros que entraban por esa via.  Entre otros muchos, estaba la entrada de siropes para producir la CocaCola en las fabricas cubanas.  Se habia sustituido el sirope por uno de "invento" nacional para poder hacer el refresco.  En una reunion del Ministerio se bridaron esos refrescos.  Como el Che estaba, todos nos inhibiamos de criticar el sabor y fue el quien, ante las caracajadas de todos, dijo:  "...Esto sabe a jarabe de pecho..."  Ademas de ser muy serio, muy critico y provocar respeto entre todos, tenia tambien un gran sentido del humor.
- En ua ocasion, uno de los administradores de empresa del Ministerio, que habia gozado de gran prestigio, cometio un acto de sustraccion de dinero para fines personales de manera continuada.  Como habia gozado de prestigio, los funcionarios cercanos decidieron que fuera a Guanacahabibes (lugar donde iban los revolucionarios que cometian errores graves pero que no eran delito).  Cuando el Che se entero dijo que a los ladrones no se les enviaba a un lugar donde estaria recibiendo clases y aportando trabajo en el campo pero con comodidad.  Dijo que a los ladrones o a los que cometen delito se les pone en manos de los tribunales de inemediato; que esa era la unica manera de parar la corrupcion.
- Al triunfar la Revolucion e irse del pais la alta burguesia que disponia de infinidad de carros de los ultimos salidos al mercado norteamericano, los dirigentes nacionales tuvieron u n stock donde escoger.  Era normal ver algunos que cambiaban de carro con frecuencia hasta lograr uno de su agrado.  Al Che le propusieron escoger varias veces y el siempre dijo que no estaba interesado en tener el ultimo modelo y el mas moderno, sino que solo necesitaba un medio de transporte cualquiera para poder  legar en tiempo a las multiples citas de trabajo.  Cuando se rompia, se arreglaba, no se buscaba otro.  Ahora no recuerdo la marca; creo que fue un Chevrolet Impala; el auto que el uso esta en el Museo del Carro en la Habana Vieja.
Claro es siempre bueno recordar que ningun ser humano debe santificarse.  En la personalidad del Che y en su actuacion hubo aspectos negativos y hasta extremistas pero lo que hay que destacarle es su consistencia ante la vida revolucionaria.  Hacia lo que predicaba y con una voluntad de acero, daba siempre el ejemplo.  No es intencion ahora decir aspectos negativos de el pues eso no los vivi de cerca; pero al analizar su trayectoria y ejecutoria si pudiera senalarlos.
Bueno, mi muchachon, seguire recordando pues te podria llenar esto de anecdotas pero todas son referidas y no vividas."
Maria Teresita Tosar Curbelo