quinta-feira, 28 de novembro de 2019

CICLO DE FILMES "GRANDES DIRETORES" - FRANÇOIS TRUFFAUT- A Noite Americana (1973)




Indicação, apresentação do filme e texto: Joaquim Ferreira


A NOITE AMERICANA(1973)  (La nuit américaine) [1] 

Elenco: François Truffaut, Jacqueline Bisset, Valentina Cortese, Jean-Pierre Aumont, Jean-Pierre Léaud, Jean Champion, Alexandra Stewart, Nathalie Baye, Graham Greene, David Markham
Roteiro: François Truffaut, Jean-Louis Richard, Suzanne Schiffman .Duração: 115 min.

PRINCIPAIS PRÊMIOS E INDICAÇÕES
Oscar 1974 (Estados Unidos):Venceu na categoria de melhor filme estrangeiro.
Oscar 1975 (Estados Unidos): Indicado na categoria de melhor atriz coadjuvante (Valentina Cortese), melhor diretor e melhor roteiro original.
BAFTA 1974 (Reino Unido):Venceu nas categorias de melhor direção, melhor filme e melhor atriz coadjuvante (Valentina Cortese).
Globo de Ouro 1974 (Estados Unidos):Indicado nas categorias de melhor filme estrangeiro e melhor atriz coadjuvante (Valentina Cortese).
Prêmio NYFCC 1974 (Estados Unidos):Venceu nas categorias de melhor diretor, melhor filme e melhor atriz coadjuvante (Valentina Cortese).


"A NOITE AMERICANA"  E O ROMPIMENTO DE TRUFFAUT E GODARD.

François Truffaut e Jean-Luc Godard formaram uma dupla  que originou duas linhas onde se incluem os principais nomes do cinema autoral. Seus estilos corresponderam    a própria  definição da Nouvelle Vague . Contudo , esboçavam divergências e  a ruptura entre os dois significativos cineastas da “Nouvelle Vague” consumou-se a partir da exibição de " A Noite Americana" de Truffaut  . 
Godard  escreveu a Truffaut  a dizer tudo o que pensava do filme:    "Vi ontem A Noite Americana, provavelmente ninguém te chamará mentiroso, assim eu faço-o.» Você diz que filmes são como trens no meio da noite, mas quem pega esse trem, de que classe social, quem os conduz? […] Se você não fala do Trans-Europa, pode ser o trem da periferia, ou o de Dachau-Munique".  [2]
É com essa acusação que Jean-Luc Godard começa a carta de 1973 que daria fim à sua amizade de duas décadas com François Truffaut. “Comportamento de um merda em um pedestal”, diz o outro, em resposta não menos agressiva.
E continua Truffaut:
Você mudou sua vida, seu cérebro e, mesmo assim, continua a perder horas no cinema perturbando seus olhos. Por quê? Para achar o que alimenta seu desprezo por todos nós, para reforçar suas novas certezas? […] você detém a verdade sobre a vida, a política, o engajamento, o cinema, o amor, tudo isso é muito claro pra você e quem pensar diferente é um idiota, ainda que você já não pense em junho o que pensava em abril. [3]
Godard critica o apolitismo de Truffaut. A exceção de um tímido apoio deste  ao fim da Guerra da Argélia, o cotidiano de Truffaut passava ao largo de preocupações mais políticas ou melhor partidarizadas em torno  de um cinema engajado . Truffaut vivia a sua vida "dentro do cinema" .Ser feliz para ele  era sinônimo de " viver a realidade"  do cinema,o universo do filme
Retratando o cinema de Truffaut num contexto  social e rebatendo a critica do apolitismo  , uma leitura  possível de " Os Incompreendidos"   é uma leitura em grande parte  política também.Assim, histórias de vida, memórias , enfim sua  própria história e inscrita em sua cinematografia  vinculando seus valores à sua produção . Cada um dos filmes de Truffaut foi gravado a partir de sua  própria matéria biográfica , da com  traços  às vezes violentos e humilhantes. Truffaut tornou-se uma espécie de “militante do cinema”
Sobre Truffaut e Godard, Eduardo Escorel  resume   bem as relações entre os  dois diretores: 
"(..)  contradições e crises sucessivas, marcaram as carreiras e a relação pessoal de Truffaut e Godard. Mesmo sendo amigos próximos, eram muito diferentes um do outro. Não tinham a mesma origem social, nem o mesmo caráter, e seus filmes são de natureza distinta. Truffaut sempre procurou aperfeiçoar o domínio do artesanato, enquanto Godard dedicou-se permanentemente a reinventar o cinema. A união dos dois foi tática, respondendo à necessidade de se fortalecerem. Sustentada pelo amor ao cinema, e em interesses profissionais comuns, tiveram uma relação intensa. Quando romperam, a violência foi proporcional ao grande afeto que tinham um pelo outro. Truffaut era generoso, Godard continua dando demonstrações de mesquinharia e insolência, parecendo acreditar sempre que tudo lhe é permitido e devido. O que não impediu Truffaut de apoiar o amigo, chegando a escrever, em 1966, que 'há o cinema antes de Godard e depois de Godard'. O veredicto, vindo de um profundo conhecedor, não pode ser ignorado". [4]

O FILME

É praticamente impossível assistir a um filme de François Truffaut e não perceber o seu amor pelo cinema.  A Noite Americana  de 1973 é a história de uma filmagem ,  a de  "Je Vous Presente Pamela" e diz muito sobre o seu diretor . É  uma homenagem ao cinema .O título do filme refere-e ao nome de um  efeito cenográfico, um  truque da lente, um filtro de  imagem  que modifica as cenas rodadas durante o dia, dando-lhes um efeito de (em inglês, isso é chamado de "Day for Night"). É a parte da visão que Truffaut tinha do cinema americano: uma interessante falsidade. A Noite Americana é , a meu ver, é um dos melhores  filmes  já realizados  sobre o cinema, empatado com  " Oito e Meio"  de Felinni.
Truffaut mostra  a lenta produção e os várias atribulações pelos quais passa um filme, e junto a esse elemento metalinguístico, as histórias individuais dos profissionais do cinema são reveladas e   diretor cria  duas histórias sobre cinema -  o filme dentro do filme. Truffaut exterioriza o seu processo criativo, e inclui cenas com diálogos escritos em cima da hora, demonstrando um  perfeccionismo cênico e um grande respeito  pelo  público . Mais uma vez ao lado    de  Jean-Pierre Léaud,- o alter-ego  do diretor -, Truffaut no papel do   diretor Ferrand , vive para o cinema, deixa sempre suas paixões e prazeres particulares por último, colocando a arte em primeiro lugar. Mas além da personificação de Truffaut  ,um outro evento autobiográfico é revelado  no filme: as seqüências do sonho do cineasta, com que roubava fotografias de clássicos do cinema. é uma imagem que vai se compondo aos poucos, um menino andando pelas ruas vazias Quando surge da primeira vez, a cena nos parece deslocada e sem sentido, mas quando revela-se por completo, já ao fim da película, quando   rouba as fotos de cena de "Cidadão Kane", temos um encantamento por esse momento do filme. Mais uma vez a paixão pelo cinema aparece relacionada à vida de uma personagem. É também a prática de um dos aspectos técnicos da obra de  Truffaut, a  mis-en scene Assim, " A Noite Americana" , é o relato é autobiográfico, uma mistura de todas as histórias que Truffaut viveu ou ouviu falar .  E conforme  Rubens Ewald Filho

 Ele[Truffaut]  coloca o espectador como "voyeur" e cúmplice (revelando todos os pequenos truques das filmagens, até o fogo alimentado a gás). Se a atriz principal não consegue decorar suas falas e parece neurótica e irritante, alguém, de passagem, dará razão: seu filho esta à morte com uma doença incurável.(...) O filme é um tratado sobre aparências e realidades. Nada é o que parece, o cinema é tão falso e irrelevante, quanto a manteiga natural embalada na pia. Mas atrás de cada frase ou situação, encontra-se a verdade, muitas vezes, do ator que faz o personagem. A fita está repleta de referências, desde Valentina Cortese colando suas deixas pela sala (como costuma fazer Marlon Brando) ou sugerindo dizer apenas números com entonações significativas (como ela mesmo costumava fazer com Fellini). Ou Jacqueline Bisset, que foi descoberta em um filme em que ficava com catapora ("Um Caminho para Dois") ou Jean-Pierre Léaud, que praticamente retrata sua própria personalidade.(...) o filme é um retrato do próprio Truffaut, um ex-delinqüente juvenil, salvo da vida criminosa para se tornar "rato de Cinemateca". "A Noite Americana" é sua declaração de amor ao Cinema e seu melhor filme. [5]

NOTAS
[1]Truffaut  dedica o filme  nos créditos iniciais, às irmãs Dorothy e Lillian Gish. Dorothy Elizabeth Gish era uma atriz americana da tela e do palco, além de diretora e escritora. Dorothy e sua irmã mais velha, Lillian Gish, foram as principais estrelas de cinema mudo

[2]https://www.correioims.com.br/uncategorized/cartas-de-rompimento-entre-godard-e-truffaut-por-victor-calcagno/

[3]https://www.correioims.com.br/uncategorized/cartas-de-rompimento-entre-godard-e-truffaut-por-victor-calcagno/

[4]https://piaui.folha.uol.com.br/materia/encerramento-inconclusivo/

[5] https://cinema.uol.com.br/resenha/a-noite-americana-1976.jhtm


Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo(,Karim Aïnouz, Marcelo Gomes;2010)



Indicação ,apresentação do filme e texto:Bernardo Timm

O "DARDENNE" BRASILEIRO & DON L.


INTRODUÇÃO:
 Aïnouz é um cineasta cearense da era da Retomada e Pós-Retomada. É mundialmente premiado nos mais diversos festivais, e recentemente, seu filme "Vida Invisível" (2019) ganhou Un Certain Regard (um certo olhar) este ano em Cannes. 

KARIM DARDENNE:
 Karim é sem dúvida único no cinema mundial, assim como os Dardenne, seu cinema é local, não porque não vale a pena ser visto caso não compartilhe algo com a localidade, mas sim a sua ambientação cinematográfica. O Brasil de Praia do Futuro, o Rio de Madame Satã, o nordeste de Viajo Porque Preciso Volto Porque te Amo e de Céu de Suely e até a Alemanha em Zentralflughafen THF, visto que morara em Berlim durante um tempo.
Porém, a comparação que quero trazer  com os Dardenne é em relação a profundidade e a sensibilidade do diretor. Por mais que os filmes de Luc e Jean-Pière sejam mais sociais e os Karim mais pessoais, os personagens vividos pelos atores trazem poesias puras.
    Seja no contraste trazido entre Hermila e o azul de seu céu ou no amor e nos desabamentos das estradas de Viajo Porque Preciso... etc. Há sempre algo de singelo, algo de poético, algo de único em cada filme de Karim. Com efeito, essa unidade foi muito bem apontada por Don L em seu maravilhoso disco "Roteiro pra Aïnouz vol. III"

ROTEIRO PARA AÏNOUZ:
 Gabriel da Rocha também fortalezense, de nome artístico Don L, rapper da nova escola nacional e muito aclamado na cena pelo seu trabalho. Depois de seu disco "Caro Vapor/Vida Veneno de Don L" (2011), Don L inova ao relacionar o rap ao cinema nacional e nordestino. Em seu disco, o título se justifica ao trazer um história de renovação, nostalgia, trajetória, inovação etc. em que a única pessoa que seria capaz de traduzi-la para a grande tela é Aïnouz. Don L em SE NÃO FOR DEMAIS:
"(...) Eu preciso fazer um bagulho, eu preciso disso
Eu preciso recomeçar e acabar com tudo que eu era
Eu juro que será um puta movie
Puts, a minha vida é um loop do Fight Club
Dirigido por Aïnouz
Muita treta pra Tarantino
Muito denso pra Hollywood
Muito gueto pra Kerouac
Mais Saara do que Arizona (...)"
Link para o disco: 
https://www.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_kEnWlLjt48EclAYPUpeusXMCDQBWEZ3hY

Cinematografia de Aïnouz:
1992 O Preso Vídeo (ficção)
1993 Seams Curta-metragem
1994 Paixão Nacional Vídeo
1996 Hic Habitat Felicitas Curta-metragem
1998 Les Ballons des Bairros Curta-metragem (documentário)
2000 Rifa-me Curta-metragem
2002 Madame Satã Longa-metragem
2006 O Céu de Suely Longa-metragem
2008 Alice Série de televisão
2010 Desassossego Longa-metragem Direção de um dos seguimentos
Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo Longa-metragem Co-direção Marcelo Gomes
2011 Sonnenallee Curta-metragem (documentário) Documentário para a Sharjah Art Foundation
Destricted.br Vídeo
O Abismo Prateado Longa-metragem
Sua Cidade Empática Vídeo
2014 Cathedrals of Culture Vídeo documentário Direção do seguimento "Centre Pompidou"
Praia do Futuro Longa-metragem
Domingo Curta-metragem (documentário) [10]
Terra Prometida Vídeo Vídeo instalação (co-direção Armando Praça)
Short Plays Vídeo Direção do seguimento "Brazil"
2015 Velázquez ou O Realismo Selvagem Longa-metragem (documentário)
2018 Zentralflughafen THF Longa-metragem (documentário)
2019 A Vida Invisível Longa-metragem


Premiação:
Prêmio Un Certain Regard no Festival de Cannes por A Vida Invisível (2019)
Prêmio Anistia Internacional no 68º Festival Internacional de Cinema de Berlim por Zentralflughafen THF (2018)
Segundo Prêmio Coral no Festival de Havana por O Abismo Prateado (2011)
Prêmio de Melhor Diretor no Festival do Rio por O Abismo Prateado (2011)
Grand Prix Coup de Coeur, 22º Rencontres Cinémas d'Amérique Latin (Toulouse/France), por Viajo porque Preciso, Volto porque Te Amo (2010)
Prêmio de Melhor Fotografia no Festival do Rio por Viajo porque Preciso, Volto porque Te Amo (2009)
Prêmio de Melhor Diretor no Festival do Rio por Viajo porque Preciso, Volto porque Te Amo (2009)
Prêmio FIPRESCI no Festival de Havana por Viajo porque Preciso, Volto porque Te Amo (2009)
Terceiro Prêmio Coral no Festival de Havana por Viajo porque Preciso, Volto porque Te Amo (2009)
Prêmio FIPRESCI, 47º Thessaloniki International Film Festival, por O Céu de Suely [Love for Sale ](2009)
Grand Coral no Festival de Havana por O Céu de Suely (2009)
Prêmio de Melhor Filme no Festival do Rio por O Céu de Suely (2006)
Prêmio de Melhor Diretor no Festival do Rio por O Céu de Suely (2006)
Prêmio de Melhor Diretor na Associação Paulista de Críticos de Arte por Madame Satã (2002)
Prêmio de Melhor Direção no Festival de Biarritz por Madame Satã (2002);
Gold Hugo no Chicago International Film Festival por Madame Satã (2002);
Prêmio de Melhor Curta-metragem no Ann Arbor Film Festival, em Michigan, por Seams (1997);
Prêmio Vito Russo Award no New Festival, em Nova York, por Seams (1994)
Prêmio de Melhor Curta-metragem no Atlanta Film Festival por Seams (1994).

Referências:
RFI BRASIL
< https://www.youtube.com/watch?v=Rr1Gx2cglSQ>
< https://www.youtube.com/watch?v=z0YS767UybI>
WIKI
< https://pt.wikipedia.org/wiki/Karim_A%C3%AFnouz>
DON L
< https://genius.com/artists/Don-l>


VIAJO PORQUE PRECISO VIAJO PORQUE TE AMO:
   É um filme de Aïnouz filmado em 1999, lançado em 2009 e relançado na França em 2016. Roteirizado e produzido  junto com Marcelo Gomes, o diferencial deste filme para a cena nacional trata-se da continuidade aos trabalhos de Glauber e do Cinema Novo ao trazer o nordeste ao cinema, nas palavras do diretor "trazer o nordeste de agora".
  O filme é um filme de estrada (road movie), o primeiro e único de sua carreira, é sobre a trajetória de um geólogo que visita a região à trabalho que em paralelo, transcorrem-se reflexões sobre suas condições e dramas. O questionamento desta vez é a razão e a motivação para viver. O filme não responde a primeira pergunta, mas traz um sentimento de resiliência e de motivação para a segunda que é aquele típico filme "renovador", todas aquelas estradas e lugares que são tratados com passagem pelo Brasil muito servem para comentar a direção e a duração da vida e somadas a atuação brilhante de Irandhir Santos transformam sobras de filmagens em arte. 
Foi ganhador de diversos prêmios nacionais e internacionais (Veneza, Cuba) pela sua fotografia e/ou direção, melhor filme. O grande charme deste filme é como emociona e toca o expectador apenas com a voz, visto que é um voice-over. Quem viu "Mademe Satã" e/ou "O Céu de Suely" pode novamente notar a densidade do filme  e também a transformação de músicas "bregas" à ambientação.

Premiação:
Festival de Veneza - 2009
Em competição - Seção Orizzonti
Festival do Rio - 2009
Melhor direção
Melhor fotografia
Festival de Cinema de Havana - 2009
Melhor Som
3º Prêmio Coral de Ficção
Prêmio FIPRESCI – International Federation of Film Critics
Festival Santa Maria da Feira - 2009
Melhor Filme
Melhor Filme pelos Cineclubistas
Festival SESC Melhores do Ano - 2010
Melhor Filme pela Crítica
Festival Internacional de Documentários de Santiago do Chile - 2010
Prêmio Especial do Júri
Festival de Cinema Brasileiro em Paris - 2010
Melhor Filme
Melhor Ator (Irandhir Santos)
Festival de Toulouse - 2010
Grande Prêmio Coup de Coeur
6º Prêmio BRAVO! Prime de Cultura - 2010
Melhor Filme
5º Prêmio Contigo! de Cinema - 2010
Melhor Roteiro
3º Festival de Triunfo, 2010
Melhor Longa-Metragem Nacional
Melhor Roteiro de Longa-Metragem
Melhor Montagem de Longa-Metragem
Melhor Ator de Longa-Metragem (Irandhir  Santos)
Melhor Fotografia de Longa-Metragem
Melhor Direção de Longa-Metragem

Referências:
< http://www.revistacinetica.com.br/viajoporquepreciso.htm>
< http://interrogacao.com.br/2010/06/critica-viajo-porque-preciso-volto-porque-te-amo/>
< https://pt.wikipedia.org/wiki/Viajo_porque_Preciso,_Volto_porque_Te_Amo>
<https://www.youtube.com/watch?v=z0YS767UybI>




quarta-feira, 20 de novembro de 2019

CICLO DE FILMES "GRANDES DIRETORES" - FRANÇOIS TRUFFAUT- Jules e Jim (1962)





Indicação, apresentação do filme e texto: Joaquim Ferreira

JULES E JIM – UMA MULHER PARA DOIS (1962) (Jules et Jim) 
Elenco: Jeanne Moreau, Oskar Werner, Henri Serre, Vanna Urbino, Serge Rezvani, Anny Nelsen, Sabine Haudepin, Marie Dubois, Michel Subor
Roteiro: François Truffaut, Jean Gruault (baseado na obra de Henri-Pierre Roché 1 ) .
Indicado ao BAFTA de Melhor filme e atriz, para Jeanne Moreau  


AS MULHERES DE TRUFFAUT 
Um dos temas do universo cinematográfico de François Truffaut é o universo feminino. Seus filmes revelam mulheres fortes, decididas, que tomavam o controle da própria vida. 
Conforme Aline Desjardins,(1987: p. 51 apud OLIVEIRA ,2014), Truffaut afirmava que " Já fui muitas vezes acusado de retratar homens fracos e mulheres decididas, mulheres que conduzem os acontecimentos, mas eu penso que é assim que as coisas são na vida real .[2] 
O que desencadeava a ação nas narrativas era o desejo dessas mulheres como donas de seu próprio desejo, e não somente como objetos do desejo masculino. 
Sobre as mulheres de Truffaut,

(...)  elas são " antipáticas e atraentes, destrutivas e aconchegantes, dominadoras e conciliadoras, desesperadamente loucas e desesperadamente apaixonadas. A lista de qualidades das personagens femininas  (...)  em filmes de Truffaut sugere que ele foi capaz de compreender que o contraditório é um traço básico que elas compartilham com os homens!  (...)  As mulheres são vulneráveis? Elas são mais complexas do que os homens supõem? (...) levando-se em consideração os tipos femininos criados por Truffaut, a resposta é  sim. (...) a coexistência de diversas personalidades numa mulher é um padrão tão recorrente em Truffaut que o “duplo” é uma presença marcante em sua obra. Por um lado, temos os filmes onde um personagem masculino sente-se atraído por duas figuras femininas complementares. É o caso de Thérésa/Léna em O Tiro no Pianista (Tirez sur le Pianiste, 1960), Franca/Nicole em Um Só Pecado (La Peau Douce, 1964), Linda/Clarisse (interpretadas pela mesma Julie Christie) em Fahrenheit 451 (1966), Christine/Fabienne em Beijos Proibidos (Baisers Volés, 1968), Christine/Kyoko em Domicílio Conjugal (Domicile Conjugal, 1970) e Anne/Muriel em As Duas Inglesas e o Amor (Les Deux Anglaises et le Continent, 1971). Por outro lado, existem também aqueles filmes em que as mulheres possuem pelo menos duas facetas. É o caso de Catherine em Jules e Jim (Jules et Jim, 1962), Julie/Marion em A Sereia do Mississippi (La Sirene du Mississipi, 1969), Julie/Pámela em A Noite Americana (La Nuit Americaine, 1973) e Adèle/Madame Pinson em A História de Adèle H (Adèle H, 1975)..(...)   [3]

JULES, JIM E A MULHER:
O filme "Jules e Jim" foi o terceiro longa- metragem  da filmografia de Truffaut. A narrativa  é  guia obrigatório para os interessados em conhecer a história do cinema e a carreira do diretor François Truffaut. A narrativa, muito ágil,  também  ficou famosa por utilizar truques revolucionários de edição que Hollywood só usaria  décadas depois: imagens congeladas que interrompem a narrativa, telas divididas e montagem fragmentada .
O filme relata a amizade de dois homens, o tímido alemão Jules (Oskar Werner) e o extrovertido francês Jim (Henri Serre), e o amor de ambos pela mesma mulher, a ambígua Catherine (Jeanne Moreau).  Catherine casa-se com Jules. Após a Primeira Guerra Mundial  , na qual Jules e Jim combatem em campos opostos, os três amigos reencontram-se na Alemanha, onde Jules vive com Catherine, e esta apaixona-se por Jim.Os fatos tornam-se conflituosos ao longo da narrativa, tamanha a instabilidade da moça, espécie de metáfora para as mudanças nos costumes daquele momento histórico.
Com a crise dos valores tradicionais, o mundo vivia o prenuncio da libertação sexual dentro de uma crise repleta de vazio existencial. Era a Europa do inicio do século XX , a Europa da modernidade,   marcada pela Primeira Guerra . E a história do triângulo amoroso , um tipo de hedonismo,  é a opção formal do cineasta por criar/ resgatar uma "estética moral e nova", uma sabedoria da existência, um jogo onde todos os esforços devem conspirar para a maior leveza e alegria  que tornou possível o amor a três de Jules, Jim e Catherine.
Esse tipo de moral estética desenvolvido e incessantemente reconsiderada por Truffaut marcam  os aspectos culturais e sociais que prenunciavam a efervescência cultural na França, que culminou no Maio de 1968 e na ascensão do movimento feminista no mundo , a meu ver, com fortes bases na essência do existencialismo de Jean-Paul Sartre que deriva a compreensão de Simone de Beauvoir, ícone do pensamento filosófico feminista ,sobre a questão do ser mulher.  
O  diálogo de Beauvoir com o existencialismo sartriano reside na defesa  da liberdade e a autenticidade de cada ser humano como essenciais, mesmo com a angústia que tal liberdade pode nos trazer. Simone De Beauvoir procura aperfeiçoar a idéia de existencialismo de Sartre, concentrando o objeto de sua idéia na liberdade das mulheres como seres humanos e na "guerra" de intersubjetividades entre indivíduos do sexo masculino e feminino.
Desta forma, Beauvoir afirmava que as mulheres são tão capazes de escolher quanto os homens e que, portanto, podem optar por elevar-se, movendo-se para além da essência e interioridade (a  "imanência") ,a qual eram anteriormente resignadas, para alcançarem a "transcendência", uma posição em que um indivíduo assume a responsabilidade para si e para o mundo, onde se escolhe sua liberdade. 
No filme, o personagem de Catherine é apresentado como a forma do feminismo existencialista, no existencialismo humano como um todo.
Assim, Truffaut aborda um tema difícil e polêmico. Sem julgar os personagens, pode-se criar empatia pelo trio naquela relação de improvável sucesso. Amar não é fácil, e compreender a pessoa que amamos é ainda mais difícil. O amor, a amizade e o medo que todo ser humano tem de perdê-los é o fio condutor de uma narrativa  marcada também por  romantismo mas um tipo  romantismo  mais existencial que amoroso
Desta forma, o crítico de cinema Marcelo Müller conclui que 

"Os personagens de Jules e Jim: Uma Mulher Para Dois caminham cada vez mais desorientados, pois não é de sua natureza conformar-se.  As tentativas dos personagens atuarem em consonância com os ditames impostos à coletividade repercutem de maneira distinta. Uns até conseguem conviver com a infelicidade, tratando de reduzir as próprias expectativas em função da manutenção das relações, da proximidade dos que amam. Já outros, espíritos mais indóceis, caminham inexoravelmente à tragédia, diante de um cenário que não lhes é favorável, que sacrifica a complexidade do humano em detrimento de um bem-estar comum, como se fosse possível uniformizar anseios e necessidades. François Truffaut diferencia os dois caráteres do filme por meio da câmera. Em princípio, ela própria é livre para enquadramentos insólitos, para capturar momentos aparentemente banais, nos quais reside a felicidade cotidiana. Aos poucos, porém, seu olhar vai endurecendo, e o desapontamento frente aos sonhos não concretizados surge como inevitável sintoma de um tempo em que a felicidade é quase uma abstração, justo porque dela não se valorizam mais as pequenas ocorrências. " [4]

NOTAS:

 [1]O encontro de François Truffaut com a obra à época ainda ignorada de Henri-Pierre Roché (autor dos romances "Jules e Jim" e de "Duas Inglesas e o Continente", que o diretor adaptou para o cinema em 1961 e 1971, respectivamente) foi decisivo para o destino de ambos. Em 1955, quando folheava os títulos  de uma livraria parisiense, Truffaut, ainda um jovem crítico de cinema, bateu com os olhos no romance de estréia de Roché. O livro tinha sido publicado dois anos antes e passado despercebido. Chamava-se "Jules e Jim". O que mais espantou o cineasta foi o fato de um "primeiro romance" ser escrito um homem de 76 anos.

[2 ]DESJARDINS, Aline. Aline Desjardins s’entretient avec François Truffaut   1987: p. 51 apud OLIVEIRA ,2014 )

[3] OLIVEIRA, R.A. As Deusas de François Truffaut , 2014. Disponível em http://www.zonacurva.com.br/deusas-de-francois-truffaut/

[4]  https://www.papodecinema.com.br/filmes/jules-e-jim-uma-mulher-para-dois/




Mar Adentro (2004;Alejandro Amenábar)



Indicação ,apresentação do filme e texto : Reinaldo Silva


Qual a vida que merece ser vivida?

                                                    *Filme Mar Adentro
Premiações: Vencedor do Oscar 2005: Melhor Filme Estrangeiro; Indicação ao Oscar 2005: Melhor Maquiagem; Vencedor Globo de Ouro 2005: Melhor Filme Estrangeiro; Indicação Globo de Ouro 2005: Melhor Ator Javier Bardem; Festival de Veneza 2004 Grande Prêmio do Juri: Melhor ator Javier Bardem; Prêmio Goya (Espanha) 2005: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Javier Bardem e em mais 12 categorias

Um dos filmes mais significativos da história do cinema, capaz de mobilizar reflexões e opiniões diferentes sobre um tema atual e complexo, envolvendo Família, Religião, Estado e sentimentos afetivos.
As questões são abordadas de forma direta e com uma aguda sensibilidade pelos atores. O diretor e toda equipe técnica merecem os prêmios que receberam e os inúmeros elogios por parte da crítica. A poesia está em cada cena. A frase “o cinema é a composição das imagens em movimento”, acrescento em relação a este filme: imagens em movimento com poesia. O que impressiona é o primor da fotografia, a composição narrativa, diálogos, roteiro, interpretação dos atores e atrizes, a humanização do tema central, a habilidade e o equilíbrio das cores na iluminação e nas tomadas de câmaras das cenas filmadas em locais internos, a montagem cirúrgica no corte e nas sequências das cenas. Puro talento da equipe técnica e da sua direção. Esse filme merece ser visto em câmara lenta, merece ser interrompido para que possamos observar cuidadosamente a sensibilidade artística de determinadas cenas. 
Vida é movimento. Sem movimento estamos despossuídos de liberdade. Foi se deslocando de um lado para outro que criamos a nossa estória. A vida no planeta seria diferente se não houvesse movimento. Temos total consciência de que só somos capazes de nos sentirmos livres se possuirmos a capacidade de nos movimentar. De podermos nos movimentar para abraçar amigo(a)s, segurar uma criança no colo, correr, subir em árvores, escrever, coçar os dedos dos pés e das outras partes do corpo, nadar, girar a cabeça em direção do que desperta a nossa atenção ...resumo: se não existisse movimento seríamos corpos inertes. Pense nisso por alguns segundos. 
É justamente o que será ensinado por Ramon, personagem vivido por Javier Bardem. Ele quer o compartilhar sobre a sua decisão com a Família, com instituição jurídica do Estado, com o dogma religioso representado pela igreja católica e os amores que surgem. Ramon quer que ouçam os seus argumentos. Sim, Ramon está convicto da sua decisão, ele respondeu para si a pergunta qual a vida que merece ser vivida. Ele irá se expor, partirá para o combate, tentará convencer, atrair cúmplices, quer provocar as crenças irrefletidas ao mostrar sem nenhum pudor o seu corpo. É argumentando e mostrando o seu corpo que ele desafia a todos nós a responder: qual é a vida que merece ser vivida?
Ele não será ouvido ou melhor, só será ouvido quando colocar em dúvida e para efeito de comprovação: o “verdadeiro” amor só será possível se o altruísmo de quem o ama for superado. É com essa explicação que Ramon consegue ser compreendido. O altruísmo é o seu mais violento inimigo. 
Em toda ação altruísta há egoismo. É assim que Ramon fala com os seus interlocutores que tentam persuadi-lo de que a vida que merece ser vivida não lhe pertence. 
Por que a Família, o Estado, o Padre e os amores, não entendem Ramon? É justamente o que Ramon denuncia. Nas minhas palavras é como se Ramon falasse: “deixem cair as suas máscaras, vocês são todos egoístas e querem se fazer passar de altruístas desinteressados. O entendimento que voces possuem do altruísmo só atendem aos seus interesses”.
Eles não entendem Ramon porque negam que a vida seja movimento. Por isso, Família, Estado, Padre e os amores são egoístas que se imaginam altruístas. Querem apenas manter a fachada de defensores altruístas negando e calando com a lei Ramon, quando ele comparece ao tribunal para apresentar seus argumentos sobre a vida que merece ser vivida.
Há uma cena lindíssima em que o diretor utiliza a câmara simulando o sobrevoo de um pássaro, com uma breve orquestração de acordes. Uma imagem poética relatada por Ramon, misturando imaginação e desejo. 
Para finalizar, declaro que os argumentos de Ramon me convenceram. Sou cúmplice da sua vontade. O combate de Ramon não foi em vão. Ele respondeu para si mesmo a pergunta que tem como título este comentário: qual a vida que merece ser vivida?




Marighella-Retrato Falado do Guerrilheiro (Silvio Tendler2002)



domingo, 3 de novembro de 2019

Crepúsculo dos Deuses (1950;Billy Wilder)


CICLO DE FILMES "GRANDES DIRETORES" - FRANÇOIS TRUFFAUT- Os Incompreendidos(1959)


Indicação, apresentação do filme e texto: Joaquim Ferreira

OS INCOMPREENDIDOS (1959) (Les Quatre Cents Coups ) [1]  
 Elenco: Jean-Pierre Léaud. Claire Maurier. Albert Rémy 
Roteiro: François Truffaut e Marcel Moussy.

Marco  inicial da Nouvelle Vague, narra à história de um adolescente, Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud), aluno disperso, rebelde, que prefere ficar perambulando pelas ruas de Paris a ir para a escola, o que certamente é reflexo da relação conturbada que tem com sua mãe Gilberte Doinel (Claire Maurier) e com seu pai não-biológico Julien (Albert Rémy). As  únicas vezes em que o afeto é demonstrado pela família de Doinel são os momentos em que a arte é destacada como uma possibilidade de significado, inserção e mudança de  mundo .A cena na qual a família vai ao cinema e quando sua mãe afirma a importância do aprendizado da língua francesa  para a educação do menino,  caracterizam a própria vida do menino  Doinel/ Truffaut. Afinal  o protagonista de "Os Incompreendidos" é uma espécie de alter-ego do diretor francês. A semelhança entre as histórias de Antoine Doinel e François Truffaut não é mera coincidência: o diretor também tinha problemas na escola, matava aula para ir ao cinema ,fazia pequenos furtos em Paris e ficou preso num reformatório para delinqüentes. Truffaut  voltaria a trabalhar com Léaud  no personagem de  Antoine   em outros filmes durante a carreira.[2]  
Antoine Doinel não é uma pessoa necessariamente boa ou má. É um jovem, com sonhos, desejos, pensamentos e reflexões, e que pouco se adapta aos métodos tradicionais de ensino. Transmite toda revolta misturada com ingenuidade. Vale destacar, entre tantos momentos  de Léaud, seu sorriso incontido quando a psicóloga pergunta se ele já teve experiência com mulheres. Aliás, seu desempenho durante todo este diálogo é digno de aplausos, demonstrando  a simplicidade do jovem, que não enxergava nada de errado no que fazia. Doinel era apenas um adolescente que não era compreendido pelos adultos com quem convivia. 
Filmado nas ruas de Paris com realismo e sensibilidade, o longa tem o mérito de olhar para a adolescência com carinho. Truffaut evita  o melodrama quando este poderia se fazer presente, assim  como  os  potenciais momentos cômicos de  "Os Incompreendidos".
Truffaut acerta o tom da narrativa com equilíbrio, com uma  direção discreta, sem enquadramentos ou movimentos de câmera muito estilizados, a não ser algumas tomadas mais trêmulas como efeito da prática da  "câmera na mão " mas que são perfeitamente inteligíveis a partir da técnica da "mise-en-scène" . Exemplo da contenção  da câmera e de um angulo observador ,  é  a cena em que os garotos saem  em fila para  praticar exercícios pelas ruas de Paris , matando a aula sem que o professor percebesse. A escolha pela câmera afastada transforma uma cena que poderia soar engraçada em algo poético, distante e sensivelmente mais belo, graças à acertada escolha do diretor.
 A técnica da  "mise-en-scène" enfatiza o sentido  do filme e concretizada    na medida em que os planos separados podem ser justapostos numa montagem mental e subjetiva de cada espectador ao fim da exibição. Ao lembrarmos cenas do filme, uma possivelmente, no meu entender,  reveste "Os Incompreendidos" como   precursor de tem as tão sensíveis atualmente  como as instituições  disfuncionais  e suas criticas: a escola, família e  o sistema jurídico, por exemplo. Já na parte final do filme ,  na qual meninas são mostradas numa gaiola-prisão no Centro de Observação para Delinqüentes Juvenis para o olhar mais atento, possui o contraponto  na cena talvez  mais  bela de " "Os Incompreendidos" quando  Truffaut registra diversas  reações de rostos infantis  numa representação de marionetes . Inevitável a comparação entre a necessidade da arte para a superação da  repressão ao individuo. 
empirismo sociológico de Truffaut, marca momentos no filme nos quais o sistema escolar é questionado pela sua grande inabilidade de socializar e educar os jovens  problema também sentido na família e "corrigido" ou tentado  pelas instituições  reformadoras tangenciado pela ameaça constante  em enquadrar os jovens no sistema militar . 
O último plano de "Os Incompreendidos" reflete muito bem a solidão que o adolescente sente em muitos momentos de sua vida,  sem aparentes saídas mas com potencialidades.Ao  depara-se com o mar, imenso, desafiador , desconhecido como a própria vida,o  olhar de Antoine  deixa o final  o final aberto  para diversas interpretações.
Truffaut aparece no filme, tal qual seu mestre Hitchcock  :ele é um dos personagens que está no carrossel junto com Antoine Doniel e é o que sai da sala junto com o menino , acendendo um cigarro.
A trilha sonora nostálgica de Jean Constantin reforça o clima 

[1] Expressão popular equivalente a "pintar o sete" em português
[2] Jean-Pierre Léaud (Paris,  1944) é um ator francês. Estreou como ator de cinema aos 15 anos, no papel de Antoine Doinel,  alter-ego de  François Truffaut, em Os Incompreendidos. Protagonizou mais quatro filmes de Truffaut que mostravam a vida de Doinel, ao longo de um período de 20 anos - ao lado da atriz Claude Jade, como a sua namorada e, depois, esposa. Estes filmes são: O Amor aos Vinte Anos (1962), Beijos Roubados (1968), Domicílio Conjugal (1970) e Amor em Fuga (1979).  Léaud e Truffaut divergiram em certos momentos. Enquanto Truffaut parecia evitar o engajamento político (embora houvesse se posicionado contra a Guerra da Argélia), Jean-Pierre era um militante político. Em 1968 esteve no Brasil, no período da ditadura civil-militar, fazendo um discurso para centenas de estudantes da Universidade de Brasília, em Brasília. A cena aparece no documentário Barra 68 - Sem Perder a Ternura (2001) de Vladimir Carvalho.