domingo, 31 de julho de 2016

Rapsódia em Agosto ( 1991;Akira Kurosawa)


Indicação do filme,apresentação e texto: Eliana de Andrade


Akira Kurosawa faz um convite ao exercício do perdão e do arrependimento em Rapsódia em Agosto, lançado em maio de 2011. A memória da avó japonesa, através de seu sofrimento da perda do marido, pela explosão da bomba atômica, mostra a importância para a humanidade de aprender com os seus erros e não repeti-los.
A sensibilidade acompanha e confronta os comportamentos entre as gerações japonesas, após a segunda guerra mundial, tais como a vestimenta e a importância do mundo financeiro. Para otimizar a ocupação espacial, bom observar a construção da casa japonesa sem corredor interno, com todos os cômodos voltados para a varanda externa, onde são deixados os calçados.
Neste 06 de agosto de 2016, completa 71 anos do lançamento da primeira primeira bomba atômica de urânio em Hiroshima. Três dias após, cai a de plutônio, em Nagasaki, cidade onde é filmado Rapsódia em Agosto. Barack Obama, o primeiro presidente americano em visita ao Parque Memorial, na cidade de Hiroshima, neste último, 27 de maio, não pediu desculpas ao povo japonês.
Que a sabedoria e força da avó Kane possa prevalecer a favor da Paz!

domingo, 24 de julho de 2016

Ele Está de Volta( David Wnendt;2015 )


Indicação do filme:Joaquim Ferreira
Apresentação e texto: Reinaldo Silva


ELE ESTÁ DE VOLTA E MARKETING POLÍTICO

1)Todas as formas de expressão estão sujeitas a utilização de estratégias de poder. Cinema, televisão, rádio, sites etc. Investem na captação de audiência. No filme, a dissimulação (ter a intenção de um objetivo, mas esconder que possui tal intenção), é nula, ou seja, o Hitler que se ergueu das cinzas, tal como o que estava morto, não dissimula suas intenções. Essa avaliação só é possível devido a repetição dos fatos que conhecemos, registrados em filmes, documentários, livros, depoimentos etc
2)Decorrido 70 anos após a derrota da Alemanha na segunda guerra mundial, muitas coisas mudaram (movimentos feministas, contracultura, questionamento do poder patriarcal, diversidade de gêneros, aprovação do aborto, casamento gay, movimentos contra a discriminação étnica ... só para citar alguns). Mas os “fantasmas de projetos de poder megalomaníacos” estão presentes em todas as partes do mundo.
3)Hitler e seus assessores numa época em que não se falava explicitamente em marketing político, em que o avanço das tecnologias informacionais não possuíam a extensão atual (existia apenas o cinema, o rádio e a mídia inscrita) souberam explorar com  habilidade extraordinária os recursos racionais existentes, para dar corpo aos fantasmas, os mitos que habitavam (ou será que ainda habitam?) a mentalidade de uma massa de indivíduos na sociedade alemã.
4) No período em que Hitler se preparava para ascender ao poder central, suas mensagens despertava riso, pilhéria, era algo excêntrico, o que nos remete ao filme. Há simulação tão perfeita que o simulado excede ao real, captura a emoção dos “telespectadores”, confunde com sua teatralidade incorrigível, é ovacionado por onde passa, vira celebridade, é pioneiro em acessos aos sites pela internet, é o principal ator de um programa de humor gravado ao vivo.
5) O carisma e a demagogia são virtuais.
“O espetáculo é uma relação entre pessoas em que os valores morais e éticos se amoldam a um determinado modo de viver predominante nas sociedades” (Guy Debord no livro A Sociedade do Espetáculo)
 6) A ideia central do nazismo, como movimento político foi a noção de pureza, pureza de uma raça. Trechos do discurso de Hitler: “Um povo que não mantém a pureza da raça está condenado”;  “Eu espero algo diferente do jovem alemão do futuro, algo novo. Devemos criar um novo homem, para que possamos dar ao povo alemão um novo ideal. Devemos formar um forte laço entre as pessoas e os ideais.   Moldá-los para uma nova forma de vida. Essa deve ser a maior conquista do nosso século. O jovem alemão do futuro deve ser magro e elegante. Rápido, forte e duro como aço”
7) O marketing político é o uso da guerra por outros meios. A guerra pela conquista dos votos dos eleitores consumidores. Guerra pela audiência, obtida pelo convencimento de sua mensagem. Hitler soube fundir em uma imagem estética, discursos  verbais e visuais, unificou uma vontade de poder presente em cinco segmentos da sociedade alemã:
a) o projeto capitalista de uma burguesia ansiosa pela acumulação de riquezas;
b) a instrumentalização do saber médico, dominado pelo ideal de um corpo saudável, por um corpo sem nenhuma deformação;
O médico emerge como líder da política racial. Na busca do sangue puro, os inimigos são judeus, miscigenados e a degeneração (corpos deformados pela hereditariedade).
O médico deixa de estar a serviço do indivíduo e passa a cuidar do “corpo da raça”, uma espécie de qualidade de vida higiênica. Crescia o número de médicos adeptos ao nazismo após os primeiros meses do regulamento que proibiu o exercício da medicina aos judeus. Escolas especiais ofereciam “curso de medicina nazista”. Nenhuma outra profissão tinha tantos membros do partido (45% dos médicos) Declaração do médico chefe: “A nação que preserva seu melhor elemento racial na adversidade, um dia, deverá comandar a Terra. Nossos seguidores não devem se abater pelos sacrifícios, pois os resultados serão compensadores. No futuro conseguiremos realizar o desejo do Fuhrer, criar o novo homem alemão”
Discurso de Hitler:
“Companheiros, o que desejamos da juventude de amanhã é diferente do que era desejado no passado. Precisamos criar um novo homem para que nossa raça não sucumba ao fenômeno da degeneração típica dos tempos modernos”.
8) pela crença da maior parte do povo alemão em busca de um líder máximo, capaz de indicar o caminho que suplantaria as péssimas condições econômicas após a primeira guerra mundial, e na fé inabalável de “povo eleito”.
9) pelo aparelho jurídico, na concordância de leis que unificava os interesses do saber médico e da burguesia alemã. Em 1933 uma nova lei foi sancionada. Obrigava a esterilização do doente, devido à hereditariedade.
Declaração do médico nazista:
“Esta lei vai ajudar a eliminação da doença. É vital o auxílio aos fortes e sadios“.
10) pelo uso político das artes plásticas, cuja representação do “real” passa ser a idealização artificial de uma raça superior.
Em 1939 o nazismo comemorou o Dia das Artes em Munique. É a última manifestação artística do Terceiro Reich. Seis semanas após, começaria a Segunda Guerra Mundial.
Declaração do presidente da câmara de literatura do Reich:
“Sim, este governo que consiste de homens que aspiram servir as artes está consciente do papel do artista como intermediário. Este governo, nascido em oposição ao racionalismo, conhece o desejo do povo e seus maiores sonhos, que somente o artista pode dar forma”.
11) O voto não é a garantia de existência de Democracia. Democracia não é um nome sagrado, que pode ser questionado em sua existência concreta. É um regime político que constantemente sofre pressões de grupos interessados na conquista do poder. Requer participação constante, debates sobre questões que possam interessar as populações locais e nacionais; requer também que as instituição que fazem parte da constituição do Estado, absorvam as demandas da população, uma regulamentação fiscalizada dos direitos e deveres individuais dos cidadãos. Hitler foi eleito por intermédio do voto.
12) Os preconceitos são intrínsecos à convivência social. Eles fazem parte de nosso mais poderoso instinto de preservação, que é o medo. Sem os medos, nenhum indivíduo ou espécie existente preservaria a sua vida. O medo nos protege, expande as forças ativas e reativas,que nos faz agir e reagir, permanentemente, diante de acontecimentos inesperados. O marketing político da “era Hitler” fez do medo uma arma de persuasão imprescindível (“a pureza da raça alemã corria perigo!”)
13) Os candidatos-produtos apresentam-se com novas embalagens. Hitler assume a função dos pesquisadores dos institutos de sondagem de opinião. Induz os pesquisados a responder perguntas, questionário que conhece de cor (qualquer semelhança é mera coincidência.As respostas dos entrevistados fornecerão os fundamentos das embalagens, o que elas devem apresentar, quais são as chamadas que os consumidores eleitores desejam de um candidato-produto; como devem se apresentar; seu vestuário; a menção da família é importante, o sucesso empresarial e assim por diante. Eis a tarefa do marketing político: moldar o comportamento dos candidatos-produtos, objetivando os votos dos consumidores-eleitores.
14) Na Alemanha atual e na Europa de uma forma geral, os fantasmas da raça pura, do desemprego estrutural, da difusão de atentados terroristas, ora diagnosticados como “casos de demência”, ora denominados pelas mídias como realizações de “grupos radicais islâmicos”, compõe um quadro político de extrema complexidade (os emigrantes são a ponta do iceberg). É neste quadro que se insere o filme Ele está de volta. O advento da modernidade produziu uma enorme falácia. Passamos acreditar que o progresso iluminista eliminaria as obscuridades religiosas, libertaria o homem de sua ignorância, que o progresso das ciências nos apontaria o caminho da “felicidade”, que a força das tradições foi apenas uma etapa de nosso desenvolvimento. O que o filme nos apresenta é a persistência do arcaico, dos fantasmas em novas roupagens, em nosso cotidiano e nas nossas interrogações.
15) O que importa ao marketing político na sua tarefa de convencimento é o sucesso de audiência. Audiência vende a imagem dos candidatos-produtos, elegem indivíduos com promessas vazias, inconcebíveis, atende as expectativas dos doadores da campanha (patrocinadores). Questões morais/éticas não lhe diz respeito.

 Reinaldo Silva

Bibliografia:Documentários/Filme: Arquitetura da Destruição; O Triunfo da Vontade; Ele está de volta 
Livro: A Sociedade do Espetáculo

domingo, 17 de julho de 2016

O Ceú de Lisboa (1994, Win Wenders)



Indicação do filme, apresentação e texto:Ana Babo

                                      UM OLHAR SOBRE O CÉU DE LISBOA.
"Prólogos” de Wim Wenders perturbam, fascinam, invadem o âmago: Mojave, Travis e Ry Cooder em Paris Texas – luz, Tom Tom e U2 em O Hotel de 1 Milhão de Dólares. Em tempos de Brexit, a escolha de "O Céu de Lisboa" decorre de sua sequência inicial, de seu inquietante “prólogo”.
O filme se passa em 1994, um ano após a criação da União Europeia. Um sonoplasta alemão viaja de carro até Portugal a convite de cineasta, também alemão, que roda um filme na capital.  Ao sair de seu país e atravessar a Europa, afloram questionamentos do personagem em relação a sua recente supranacionalidade.
Dizem fotógrafos, cineastas e bairristas que Lisboa tem uma luz de encantar. Em belas imagens vão surgindo o Tejo, o elétrico, o casario – signos de uma velha e ainda decadente cidade, resquícios de um “orgulhosamente sós”salazarista. E embora o filme propicie diferentes percepções, é o ouvir que me encanta – desvenda-se a cidade através de seus sons.  Durante a viagem, são as estações de rádio que denotam o espaço geográfico.Anteriormente, Wenders já havia filmado em Portugal O Estado das Coisas (1982) e Até o Fim do Mundo (1991). Em Lisbon Story reverencia  a cultura portuguesa na poesia de Fernando Pessoa, nos acordes do Madredeus,  na  voz de Teresa Salgueiro e no monólogo de Manoel de Oliveira. Reverencia nas ladeiras de Alfama, o cinema. Um legado a uma Europa ainda unificada! 
(Ana Babo)


segunda-feira, 11 de julho de 2016

Baile Perfumado( Lírio Ferreira, Paulo Caldas;1997)


Indicação do filme,apresentação e texto: Joaquim Ferreira


BAILE PERFUMADO:  O CANGAÇO REVISITADO

Benjamin Abrahão Botto : o homem que fotografou  Lampião.

 O filme mostra a  trajetória de Benjamin Abrahão Botto(1890-1938)  , um mascate libanês que viveu com intensidade a agitação política da década de  1930 no Nordeste brasileiro. Após ter sido  secretário particular do Padre Cícero, Benjamin  articula uma rede de contatos que lhe permitiu filmar as únicas imagens de Lampião e seu bando. O filme, que registra a vida no cangaço , foi proibido pelo ditadura  de Getúlio Vargas.
Um dos primeiros filmes da época da Retomada do cinema brasileiro,  Baile Perfumado  mostra um Lampião menos bandido,  menos herói, e  que se apropria, durante as filmagens de Benjamim,    de elementos  cênicos  e tecnológicos que constroem uma  visão mais  humanizada do cangaceiro, mas não menos contraditória  . Através de sobrevôos de câmera  ,   mostram  paisagens nordestinas verdejantes, com rios caudalosos,  uma trilha sonora que mistura guitarras  elétricas com  sanfona,   contraponto as imagens  clássicas dos filmes  sobre o cangaço.
 " O que assistimos é Lampião fazendo cinema, assumindo o filme que até então era personagem. Fascinado pela possibilidade de construção da própria representação, permite que juntamente com seus cangaceiros seja imortalizado através da câmara de Benjamin Abrahão, que livremente mostra Lampião, Maria Bonita e seus seguidores na plenitude do culto à aparência, exibindo anéis, armas, chapéus, medalhas, perfumes e bebidas. Filmou-os no flagrante da vida cotidiana, focalizando os mínimos detalhes do grupo: rezando, dançando, conversando, brincando com a câmera. A dimensão da preciosidade rara das imagens dessa parte da história do Nordeste brasileiro é dada pelo próprio material produzido tanto como pelo risco da empreitada, que resultou no cerco da polícia a Lampião, proibição e apreensão do filme e na morte de Benjamin Abrahão, eventos apresentados em ações paralelas estruturadas em vários núcleos narrativos que vão conduzindo o filme para esse desfecho." Baile Perfumado: o contemporâneo no cinema nordestino Marise Berta.IN:  Kino Digital – Revista Eletrônica de Cinema e Audiovisual, nº 1, dez. 2006
  Mesmo visando a comercialização e o lucro com seu trabalho (foi assim com o Padre Cícero)  ,  Benjamin,o   documentarista estrangeiro,   tem  praticamente passe livre  no transito  entre as forças sociais  existentes. A figura do estrangeiro na pesquisa histórica e social, é  a metáfora do próprio  pesquisador  que pretende ser neutro e observa por cima de interesses   e forças diferentes. Benjamim costura um enredo que mostra um quadro mais complexo do cangaço e do próprio Nordeste.E o próprio diretor de cinema , muitas vezes é o próprio estrangeiro..Assim, os   diretores  Lírio Ferreira e Paulo Caldas procuraram  superar certo  maniqueísmo historiográfico  do banditismo x ordem, do mau x bom, tendo em vista a ausência de projetos revolucionários  do cangaço para mudar a ordem social e a rede de relações entre o poder do Estado, os "coronéis"  e os cangaceiros. A figura do " Robin Hood tropical"encarnada em Lampião não se sustenta com a trama do filme ao mostrar  também a mercantilização do cangaço, que venha ser a espetacularização da realidade pelas lentes documentaristas.


domingo, 3 de julho de 2016

Colcha de Retalhos(1995,Jocelyn Moorhouse)


Indicação do filme, apresentação e texto: Christine Hart

Colcha de Retalhos é um filme que relata a história de uma jovem, que antes de casar, vai finalizar uma tese na casa da avó,numa cidade sossegada e  pequena.
Lá ela convive com sete mulheres, que fazem parte de um grupo de costura, confeccionam colchas. Amigas antigas de sua avó e tia, que se conhecem e se encontram há muitos anos.
 A cada colcha elas dão um nome e essa em especial, leva o nome “Onde Mora o Amor”, pois pretendem  presentear Finn.
Ao longo da costura, todas tem a oportunidade de falarem sobre suas vidas, experiências, amores e desilusões, frustrações e vitórias. Enfim, são relatos que integram o grupo, em suas experiências pessoais.
Adultos mais velhos têm a necessidade de avaliar, resumir e aceitar sua vida, para poderem aceitar a aproximação da morte.
Esse filme permite vermos esse processo acontecendo. Amigas de anos relembram momentos significativos de suas vidas, dividindo suas experiências com uma mulher mais jovem. No recontar, cada uma delas pode não apenas avaliar o que viveu, mas olhar suas experiências sob outro ponto de vista.
O filme é generoso ao mostrar aspectos relacionados à terceira idade, mas não apenas isso. Ao relembrar suas vidas, temos a oportunidade de ver aquelas mulheres quando eram mais jovens e de ver o que se tornaram quando mais velhas, como resultado de escolhas feitas e das dificuldades enfrentadas.
Erickson, psiquiatra alemão, dizia que a grande virtude que pode ser desenvolvida na terceira idade é a sabedoria, que significa a capacidade de aceitar a vida que viveu, sem maiores arrependimentos.
Assim, a realização suprema da terceira idade é o senso de integridade do ego, ou self, realização essa baseada na reflexão e na aceitação sobre a própria vida. As pessoas que não alcançam essa aceitação sucumbem ao desespero.
Todos queremos chegar a velhice, juntando os ”pedaços “ de nossa vida, esperamos construir uma história da qual cada um possa se orgulhar. 
“O Crescimento Psicológico ocorre através de estágios e fases, não ocorre ao acaso e depende da interação da pessoa com o meio que o rodeia”
(Christine Hart)

sábado, 2 de julho de 2016

O Baile ( 1983,Etorre Scola)


Indicação do filme, apresentação e texto : Diva Paz

É um musical que dispensa as palavras. Adaptação cinematográfica da primeira montagem encenada pela companhia Theatre Du Campagnol. Ganhou o Cesar Frances de melhor diretor ,filme e música de Vladimir Cosma.  Premiado também com o Urso de Prata do Festival de Berlim, alem de ter sido indicado ao Oscar de filme estrangeiro. Filme que marcou época quando foi exibido originalmente no Brasil. O Baile se passa em um único cenário: um salão de baile popular da década de 30 , onde duas dezenas de atores interpretam os músicos e os frequentadores que lá dançaram durante cinco décadas. Transportados para 1936,  viajamos no tempo e percorremos ao lado dos bailarinos a historia da França dos anos 30 ao anos 80: a classe operaria no movimento esquerdista da Frente Popular em 1936, o período de ocupação nazista em 1940 durante a segunda Guerra Mundial, a libertação da França pelas forças aliadas e a vitoria da resistência em 1944, o jazz trazido pelos soldados americanos  com a musicalidade de Glenn Miler em 1946; a chegada do rock ‘n’roll e o samba tomando conta da pista de dança em1956, a invasão dos estudantes radicais em 1958 no abandonado salão de baile.
A ação se inicia com a apresentação dos personagens. Primeiro mulheres altas, baixas, jovens, meia idade, gordas magras.  Nesse desfile  de pessoas,  as características corporais nos remetem às psíquicas.
A assustada, oprimida, deslumbrada, marrenta, detalhista, impecável, desconfiada, romântica, ansiosa, espaçosa, interesseira, tímida, clássica, desastrada, insegura.  Depois vêm os homens todos juntos ao som da musica IL maintnan vão aparecendo os gestos  dos tímidos, amedrontados, imponentes, vaidosos, insistentes, narcisistas,excêntricos, sedutores e traidores.   E ai começo a ver esse filme como a representação, para além  desse  período da historia francesa.  Observo que ele personifica  essas características inerentes a todos os  seres humanos e que se repetem ao longo da história .
Na sequência , vem a escolha dos pares, expressa de forma leve e caricatural .  E o  Como  cada um de nós  conquista coisas na vida,  investe sobre seus objetos de desejo. Para alguns de nós basta um pequeno gesto, feito de longe, suavemente. Outros são diretos, uns discretos,  inibidos, cada qual na sua diferença na dança da vida. Impossível não se identificar ou lembrar o jeitão de alguém conhecido.
Enfim, o meu olhar sobre O Baile,  é que simboliza também o percurso de nossa existência .  Individualmente vivemos circunstancias que fazem emergir em nós alguns dos personagens apresentados pelo Scola . Quem de nós  já não passou em sua vida períodos de guerra, vitórias, retomadas de forças. Nas nossas historias pessoais de vez em quando somos bombardeados e  quase sucumbimos mas se estamos aqui hoje é porque  renascemos da cinzas. Somos invadidos por novas melodias , novas possibilidades diante  da vida.

E assim na historia da humanidade, o baile nunca termina !


(Diva Paz)