quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Memórias do Subdesenvolvimento( Tomás Gutiérrez Alea,1968)


Memórias de Memórias
 

Lucia(Humberto Solas;1968)


 

CICLO DE FILMES "GRANDES DIRETORES " - TOMÁS GUTIÉRREZ ALEA





Em março de 1959 em Cuba,dois meses após a instalação do governo revolucionário, foi criado o Instituto Cubano da Arte e da Indústria Cinematográficas,o ICAIC. Sua criação significou a nacionalização da indústria cinematográfica cubana seguindo a lógica das medidas tomadas pelo novo regime. 
A Ata de Fundação do ICAIC afirmava que 
" o cinema constitui, por virtude de suas características, um instrumento de opinião e formação da consciência individual e coletiva [...] um chamado a formar a consciência e a contribuir para liquidar a ignorância, para elucidar problemas, para formular soluções e para apresentar, dramática e contemporaneamente, os grandes conflitos do homem e da humanidade" 
Contudo, ao longo do tempo, os filmes produzidos pela entidade foram classificados por diversos críticos, sobretudo fora de Cuba, como de mera propaganda oficial, panfletária destinada a divulgar os triunfos e ocultar os erros do socialismo na ilha. 
Por outro lado, outros especialistas e profissionais se detiveram na consideração de alguns títulos desse novo cinema cubano como paradigmáticos por conta de sua autonomia artística e contínua crítica às dificuldades de um sistema em processo de fortalecimento no rumo da justiça social. 
Assim , a criação do ICAIC gerou um cinema cubano destacado pela utilização de múltiplos recursos e gêneros, expressando não só a crítica ao capitalismo mas também uma crítica aos elementos de burocratização do regime. Tendo à frente um grupo de intelectuais engajados politicamente, o cinema cubano também passou por uma revolução.
Tomás Gutiérrez Alea era um desses intelectuais.Nascido em 1928 e originário socialmente de segmentos médios , o cineasta estudou Cinema na Itália nos anos 1950 e conviveu com nomes do Neorrealismo italiano, além do contato com a Nouvelle Vague francesa.
Regressou a Cuba em 1953 , aderiu ao Exército Rebelde e sob a orientação direta de Camilo Cienfuegos, Alea produziu filmagens sobre o processo revolucionário em curso.
Tomás Gutiérrez Alea dirigiu a primeira produção do ICAIC , "Histórias da Revolução" ,de 1960, considerado também seu primeiro longa-metragem . O filme teve o objetivo de mostrar como Cuba caminhara para a Revolução .Nele é bem marcada a influência neorrealista que aos poucos atenua-se e revela ao longo de sua filmografia., uma interpretação original de um cinema autoral aplicado a realidade revolucionária cubana. Seus filmes mostram uma posição critica a revolução e suas contradições fundamentais, ao mesmo tempo que mantem o compromisso com o poder revolucionário .Nesse sentido, "Memórias do Subdesenvolvimento", de 1968, é um dos filmes mais significativos de sua obra e do próprio cinema latino-americano , e a expressão do "cinema dialético e popular" que Gutierrez Alea teorizou e filmou através de 23 obras, entre curtas, longas e documentários .
Para o cineasta , o conceito de “Cinema Popular”, além do interesse imediato do entretenimento, tem como finalidade promover reflexões nos espectadores e ações transformadoras sobre a realidade para melhorar a condição humana. E conforme o próprio cineasta afirmou, 
" O realismo do cinema não está na sua suposta capacidade de captar a realidade “tal como ela é” (que é somente “tal como aparenta ser”), mas na sua capacidade de revelar, através de associações e revelações de diversos aspectos isolados da realidade – isto é, através da criação de uma “nova realidade” – camadas mais profundas e essenciais da própria realidade ." 
Assim, os filmes escolhidos para o Ciclo Tomas Gutierrez Alea quer mostrar um pouco do cinema cubano através, a meu ver,do seu mais destacado cineasta. São quatro filmes ,e qualquer escolha nesse sentido e diante de uma filmografia significativa é difícil e subjetiva. Acredito que os filmes escolhidos evidenciam as características da filmografia de Alea.
Importante realçar que alguns filmes constantes da obra de Tomás Gutiérrez Alea não se encontram disponíveis no mercado ou na internet. Outros, ainda necessitam de legendagem para o português. Grande parte desse problema credito as dificuldades crônicas de Cuba que passam também pela divulgação de sua produção cinematográfica 
Tomás Gutierrez Alea, debilitado pela doença, dividiu com seu leal colaborador Juan Carlos Tabío a direção de seus dois últimos filmes, "Morango e Chocolate",de 1994 e "Guantanamera",de 1995.O cineasta faleceu em 1996.

Joaquim Ferreira


CICLO TOMÁS GUTIÉRREZ ALEA
TERÇAS-FEIRAS- 19 HORAS
SOCIEDADE MUSICAL EUTERPE LUMIARENSE
PROGRAMAÇÃO:

04/01 - 
MEMÓRIAS DO SUBDESENVOLVIMENTO
(Memorias Del Subdesarrollo, Cuba,1968;97 min.)
Elenco:Sergio Corrieri,Daisy Granados,Omar Valdés e Eslinda Núñez.
Após a Revolução em Cuba, Sérgio vê sua mulher e seus amigos fugirem da ilha. Enquanto o regime avança, ele perambula pelas ruas de Havana e observa seus conterrâneos. O filme é considerado um dos mais importantes do cinema latino-americano 

11/01-
A ÚLTIMA CEIA
(La Última Cena, Cuba,1976; 110 minutos)
Cuba, final do século XVIII. Uma lavoura canavieira, seu engenho e escravos negros são exploradas por um Conde .Numa Quinta-Feira Santa, doze escravos são convidados para cear com o Conde  ao redor de uma grande mesa, experiência que os faz reencontrar o sentido da dignidade humana e os levam a se revoltar.

18/01-
MORANGO E CHOCOLATE
(Fresa y Chocolate; Cuba/México/Espanha, 1994;111 min.)
Elenco :Vladimir Cruz, Jorge Perugorría, Mirta Ibarra, Francisco Gattorno, Marilyn Solaya, Joel Agelino.
David, estudante  politicamente envolvido com o regime cubano, entra em depressão quando sua namorada o deixa. Sua vida muda quando conhece Diego, jovem artista homossexual,que vai de encontro a seus ideais. Primeiro o preconceito aparece mas depois surge uma grande amizade que supera a intolerância e a discriminação .

25/01
GUANTANAMERA
(Guantanamera; Cuba/Espanha;1995;105 min.)
Direção:  Tomás Gutiérrez Alea e Juan Carlos Tabío.
Elenco: Mirtha Ibarra, Jorge Perugorría, Carlos Cruz, Conchita Brando
Depois da morte da tia em Guantánamo, Georgina parte para uma viagem para enterrar o corpo da falecida em Havana, no outro extremo da ilha. Em meio a grave crise de combustível , o transporte é um problema e durante a viagem seu caminho se cruza com dois caminhoneiros.A viagem muda a vida de todos.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Sonata de Outono ( Ingmar Bergman;1978)

 


Missão 115 ( Silvio Da-Rin;2018)

 


Cada Um Com Seu Cinema (Vários diretores;2007)

 

CADA UM COM SEU CINEMA (Ou Aquele Calafrio de Quando as Luzes se Apagam e o Filme Começa(Chacun son cinéma ou ce petit coup au coeur quand la lumière s'éteint et que le film commence )

FRANÇA;2007;119 min.

Dirigido por: Abbas Kiarostami,Aki Kaurismäki, Alejandro G. Iñárritu,Amos Gitai, Andrey Konchalovskiy, Atom Egoyan ,Bille August, Claude Lelouch ,David Cronenberg, David Lynch ,Elia Suleiman ,Joel & Ethan Coen, Gus Van Sant, Hou Hsiao-hsien ,Jane Campion ,Kaige Chen , Kar Wai Wong, Ken Loach ,Lars Von Trier , Jean-Pierre &Luc Dardenne ,Manoel de Oliveira ,Michael Cimino ,Nanni Moretti ,Olivier Assayas, Raúl Ruiz ,Raymond Depardon, Roman Polanski ,Takeshi Kitano, Theodoros Angelopoulos, Tsai Ming-liang, Walter Salles, Wim Wenders, Youssef Chahine ,Zhang Yimou


segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Cão Branco ( Samuel Fuller ;1982)


 O campo de batalha de Samuel Fuller.
 BERNARDO D.I. BRUM | 17 de Agosto de 2012

“Sempre quis saber, o que é o cinema, exatamente?”
“Um filme é um campo de batalha.
É amor, ódio, ação, violência, morte. Em uma palavra: emoção”
Diálogo entre Ferdinand Griffon (Jean-Paul Belmondo) e Samuel Fuller em O Demônio das Onze Horas, de Jean-Luc Godard.


A frase acima serve não só para descrever a visão de cinema defendida ferrenhamente por décadas, mas também para sintetizar em poucas palavras todo o cinema do diretor Samuel Fuller, que no dia 12 de agosto de 2012 comemoraria 100 anos se estivesse vivo.
Nascido Samuel Michael Fuller, filho do imigrante judeu russo Benjamin Rabinovitch e da imigrante judia polonesa Rebecca Baum em Worcester, Massachussets (a família mudara o nome de Rabinovitch para Fuller, provavelmente em homenagem a dois passageiros com esse sobrenome do navio Mayflower, que em 1607 trouxe separatistas ingleses e holandeses para a América.), Fuller começou a trabalhar ainda menino, com 12 anos de idade, como vendedor de um jornal nas ruas. Aos 17, começou uma carreira como cartunista e repórter da página policial do New York Evening Graphic, e mais tarde, em 1930, começaria a escrever roteiros, atuando também como ghostwriter, e escrevendo novelas do gênero pulp fiction, sendo a mais famosa delas The Dark Page, de 1944.
Na década de quarenta, Fuller serviu ao exército americano, fazendo parte do 16º Regimento da Infantaria, passando por campanhas na África, Sicília, Normandia, Bélgica e Tchecoslováquia. No final da guerra faz o seu primeiro registro conhecido, em 16mm, na liberação de pessoas do campo de concentração tcheco de Sokolov. Lá, presenciou tiroteios e tragédias que marcariam para sempre a sua memória – a guerra seria um tema recorrente na obra de Sam.
Prolífico, Samuel Fuller já tentava a sorte na nascente indústria do cinema há algum tempo: seus primeiros créditos como roteirista vêm da década de 30, assinando o roteiro da comédia musical Hats Off (1936) e de um drama sobre o mundo do crime, Gangs of The Waterfront (1945), que assim como fazia em suas pulp fictions, já delineava os temas que mais gostava de trabalhar: elementos como crime, traição, farsa e paixão já mostravam desce cedo o interesse em descortinar através do cinema temas normalmente considerados inconvenientes. A história já era tipicamente fulleriana, mostrando um delegado que convence um taxidermista a se passar por um líder de gangue atualmente fora de ação por causa de um acidente, enganando até a namorada do criminoso. E há, claro, o momento da vingança, quando o bandido descobre o que aconteceu e sai em busca de vingança.
Insatisfeito com a direção de Douglas Sirk e as mudanças no seu roteiro no filme Apaixonados (Shockproof, 1949), uma história de um triângulo amoroso onde originalmente era previsto um policial se rebelar violentamente contra o sistema ao final da obra, mas que Sirk se interessara pelo tema tratar de tabus, uma constante na obra do alemão. Foi quando ele resolveu, então, dirigir os próprios roteiros que escrevia, após ser contratado para escrever três obras pelo produtor independente Robert Lippert. Foi a gênese de Fuller como cineasta, dirigindo Matei Jesse James (I Shot Jesse James, 1949), O Barão Aventureiro (The Baron of Arizona, 1950) e Capacete de Aço (Steel Helmet, 1951).
Nessas três obras, Fuller revelava uma grande vontade de subverter padrões com seus personagens deslocados e anarquistas – O faroeste escuro retratado nos primeiros dois filmes abandonavam os contos de honra e virtude para adentrar no campo da traição, da mentira e do mundo ilícito e proibido: com fortes influências expressionistas, as luzes e sombras de Fuller desde cedo recortavam do cotidiano rostos sempre no extremo da emoção – como se fosse o folhetim de um jornal.
Capacete de Aço, o primeiro filme de guerra de Sam, foi o responsável direto por projetar o diretor – ele assinaria com a 20th Century Fox. Em seqüência, viria outro filme de guerra, Baionetas Caladas (Fixed Bayonets!, 1951) e o film noir Anjo do Mal (Pickup On South Street, 1953), que consolidava então o nome de Fuller como potência crescente do cinema estadunidense. A Dama de Preto (Park Row, 1952), com a intenção de mostrar os podres do jornalismo, foi seu primeiro fracasso. Os anos cinqüenta foram sem dúvida seu ápice enquanto artista reconhecido por sua estética poderosa – é por causa de filmes como Dragões da Violência (Forty Guns, 1957) que o brasileiro Rogério Sganzerla declarou em um manifesto que Fuller o ensinou a “desmontar o cinema tradicional através da montagem”, comandando a estrela Bárbara Stanwyck em um dos primeiros westerns feministas ao lado de Johnny Guitar (idem, 1954), de Nicholas Ray e O Diabo Feito Mulher (Rancho Notorious, 1952), de Frtiz Lang, em um dos poucos faroeste onde é difícil torcer para um lado, recheado de pequenas set-pieces poderosas.
E se os westerns de Sam já eram descontruídos em seu descortinamento dos parias sociais, que o digam seus film noir, produzidos principalmente ao final dos anos cinqüenta e início dos sessenta – O Quimono Escarlate (The Crimson Kimono, 1959), A Lei dos Marginais (Underworld U.S.A., 1961) e O Beijo Amargo (The Naked Kiss,1964) eram noirs tardios, pós-A Marca da Maldade (Touch of Evil, 1958), que mostrava a degradação moral do homem em sociedade: nesses filmes, racismo, crime organizado e pedofilia eram tratados de maneira explícita. Da mesma época, provém também o filme de sanatório Paixões que Alucinam (Shock Corridor, 1963), um dos maiores mergulhos do cinema na loucura. Nesses filmes, crianças são atropeladas e abusadas sexualmente, negros são partidários da KKK, amizades são desfeitas em nome da luxúria e de um etnocentrismo burro: a tônica de Fuller, a loucura de ser racional em um mundo que virou de cabeça para baixo e ninguém respeita mais nada. Só a ação individual poderia nos redimir da podridão.
Se em O Beijo Amargo observamos a via sacra de uma prostituta temperamental, Renegando Meu Sangue (Run of The Arrow, 1957) marcou por ser um dos primeiros westerns anti-racismo, mostrando o homem branco convivendo com índios após perceber que a sociedade dita civilizada é tão embrutecida e selvagem quanto. No final, a reconciliação, em suspenso, é claro – surge o anúncio “o final dessa história só depende de você”.
Democrata que era, Sam não acreditava em tradições e instituições inabaláveis – tudo era relativo, nenhum erro devia ser encoberto, a transformação era necessária. Nunca inocente ou ingênuo, é claro. Seus personagens, desesperados, não são exemplo de seres humanos – são contraditórios e cínicos e não tão espertos ou poderosos assim – quando enfrentam ricos abusivos, mafiosos cruéis e instituições repressoras, inevitavelmente assinam o atestado de óbito ou de loucura.
Defendido febrilmente pela Cahiers du Cinema e por cineastas como Truffaut, Chabrol e principalmente Godard, que além de colocar Fuller em seu O Demônio das Onze Horas ainda pegou emprestada de O Quimono Escarlate a técnica do jump-cut para Acossado (À Bout de Souffle, 1959) – voltando à grande obsessão de Fuller na hora de decupar um filme, a ação, o personagem enfrentando o mundo não por meio das idéias, mas na base de socos, tiros e gritos -, Sam voluntariamente se retirou do cinema por alguns anos devido ao filme Tubarão (Shark!, 1969), filme estrelado por Burt Reynolds onde um dublê tragicamente morreu ao ser atacado por um tubarão que deveria estar sedado enquanto a câmera rodava. Os produtores, inacreditavelmente, renomearam o filme do original Caine para esse com o objetivo de atrair polêmica. Fuller saiu da produção, e após ver o resultado nas telas, com o filme todo editado de uma maneira completamente diferente do seu projeto original, tentou retirar seu nome dos créditos, sem sucesso.
Apenas no ano de 1980 que Fuller retornaria triunfalmente na fase final da sua carreira; o amigo Peter Bogdanovich, o qual Sam ajudou no roteiro de Na Mira da Morte (Targets, 1968), e também um fanático pelo cinema do veterano, ajudou-o a financiar um filme que se passasse na Segunda Guerra Mundial, no desembarque das tropas americanas no Dia D, baseado nas próprias experiências de Fuller durante suas campanhas na Normandia e Itália: o resultado foi Agonia e Glória (The Big Red One, 1980), épico antiguerra estrelado pelo astro cult Lee Marvin, onde de maneira episódica várias cenas perturbadoras desembocam para um final que não glorifica ninguém, apenas mostra a imbecilidade e montruosidade insana da guerra. Um projeto que foi obsessão do diretor por quase trinta anos tornou-se, ainda hoje, um dos mais relevantes filmes sobre o assunto.
O ódio humano gravado em pedra como um vício marcou a fase final da carreira – se a reconcialiação e redenção eram possíveis em Verboten! (Idem, 1959) e A Casa de Bambu (House of Bamboo, 1955), não parecia ser o mesmo em Cão Branco (White Dog, 1982), onde o racismo era então uma doença que precisava ser trabalhada e esquecida – afinal o ódio direcionado combinado com o instinto animal é talvez o elemento inato mais nocivo para a sociedade, quando um patriarca de uma família WASP treina um pastor alemão branco para atacer negros. O controverso filme, suspenso pela produtora Paramount Pictures, foi o último americano do diretor, que teve de ser lançado de maneira independente, arrecadando muito pouco, mesmo coberto de críticas positivas.
Descrito por quem o conheceu como um homem incansável, que jamais largava seu característico charuto, enérgico e tagarela (um repórter que tentou entrevistá-lo para um livro aos moldes de Hitchcock/Truffaut desistiu após perceber que, após 18 horas de gravação de fita, ainda não tinha chegado na parte em que Fuller se metia com cinema pela primeira vez), Fuller terminou sua carreira como diretor com Ladrões do Amanhecer (Thieves After Dark, 1984) e Uma Rua Sem Volta (Street of No Return, 1989), dois filmes policiais de produção francesa que ao mesmo tempo que fechavam sua filmografia de maneira exemplar, também servia como agradecimento aos críticos e cineastas franceses que sempre o defenderam como um dos autores máximos da sétima arte – o primeiro, com uma história muito semelhante a Acossado, e o outro, uma adaptação de David Goodis, célebre autor noir também adaptado por Truffaut em Atire no Pianista (Tirez Sur Le Pianiste, 1960).
Ainda nos anos oitenta, fez uma pequena participação em O Estado das Coisas (Der Stand Der Dinge, 1982), do alemão Wim Wenders, aonde disse outra de suas máximas: “Sem dúvida, a vida passa a cores. O preto e branco, porém, é mais realista.” Preto e branco esse que garantiu o fascínio e a admiração de muitos diretores que prestariam homenagem ao seu ídolo chamando-o para fazer participações especiais em pequenos papéis – além de Wenders e Godard, também entram na lista Luc Moullet, Dennis Hopper, Mika Kaurismäki, Larry Cohen, e pasme, até Steven Spielberg em seu 1941 – Uma Guerra Muito Louca (1941, 1979).
De Jarmusch a Tarantino, não são poucos os diretores que ficaram impressionados com o trabalho de Samuel Fuller – Martin Scorsese é um dos primeiros a louvar seu jeito de capturar a ação com a câmera, citando alguns de seus filmes em seu livro de entrevistas. Esse mundo pulp, escuro e ambíguo, onde trombadinhas, ladrões de carteira, prostitutas, soldados rasos e pistoleiros anônimos eram os heróis protagonistas e conviviam com um mundo trágico e brutal onde a morte era quase sempre certa. Tal visão de mundo, combinada com a estética de luzes duras, tonalidades fortes, planos a favor da ação e da expressividade e não da narração pura e simples, marcaram de forma indelével o cinema que quer mexer com a marginalia – dos psicóticos de Scorsese às aberrações de Tarantino, todos eles têm um pouco de Fuller no seu anacronismo anárquico que defendem até a hora de morrer. Como aconteceu com o próprio, aliás – várias vezes fracassando, sendo criticado toda a vida por diálogos ditos forçados e exagerados, mas eternamente remando contra a maré.
O cineasta maldito por vocação e opção habita até hoje o terreno do cult, mesmo reunindo um grande séquito de seguidores. Seus gritos de protesto ecoam ainda nem tão discretos no estilo de vários diretores ainda em atividade. E como prova definitiva do seu legado, nada mais justo que citar  o caso do Midnight Sun Film Festival, da cidade de Sodankylä, na Finlândia, onde  Fuller foi o primeiro convidado de honra internacional – o que marcou tanto a população do bairro que a cidade nomeou uma de suas ruas como “Samuel Fullerin Katu”. Rua Samuel Fuller. Onde, quem sabe, as imagens e histórias marcantes desse homem que nos deixou em 30 de Outubro de 1997 continuam acontecendo noite após noite, seja na vida real ou na imaginação de cada um dos seus fãs.
(Disponível em https://www.cineplayers.com/perfis/samuel-fuller)


sábado, 20 de novembro de 2021

A Última Abolição( Alice Gomes;2018)

 



Exibimos no Espaço ECOARTE Livraria, em São  Pedro da Serra  ,o documentário " A Ultima Abolição", por conta do  "Mês da  Consciência Negra"   iniciado com  a  exibição de  "Marighella", de Wagner Moura no  último dia 18. Dirigido pela carioca Alice Gomes e lançado em 2018, o filme  aparentemente poderia ser  " mais um filme de história , mais um filme sobre o racismo" .Mas considero que não é!
Os documentários  correm sempre o risco de absorver uma centralidade do saber pela fala.Isso , em  grande parte é ,na minha opinião, um processo falho, além  de monótono,  que tem no descompasso  entre o trabalho de roteirização e montagem a origem do problema. O processo de montagem de um documentário ou de um filme  ficcional é responsável pela estruturação final da narrativa desejada. É o que podemos considerar como um  “terceiro filme” que é  feito a partir do material bruto dos  depoimentos  de extensa duração.
Entretanto , " A Ultima Abolição" supera certos lugares-comuns  existentes  na estruturação de diversos  documentários afins.  Nesse sentido, num filme de pouco mais de uma hora e 20 minutos de duração , o processo de  montagem utiliza-se  de uma crescente  argumentação lógica e histórica ,  que  com o diálogos divergentes e complementares   dimensionam o entendimento para uma necessária  perspectiva de totalidade. É  o entrelaçamento e equilíbrio  imprescindíveis entre roteiro-direção -  montagem.
A montagem do documentário em questão foi feita pela competente e premiada Natara Ney que também divide o roteiro do filme com Alice Gomes.Natara  , dentre outros trabalhos  , fez a montagem  de " Pernamcubanos - O Caribe Que Nos Une" ,de 2012 e ganhou em 2014, o  “Prêmio Cinema Brasileiro” por Melhor Montagem. do documentário " O Mistério do Samba" , ambos  exibidos pelo cineclubismo de  Lumiar e São Pedro da Serra.
Assim, os diversos depoimentos e análises variam de posições que vão de um viés mais culturalista à afirmações que sugerem criticas  a circularidade de argumentações contra o racismo  que não consideram as questões classistas, passando ainda por um atualização jurídica e penal sobre o problema que desmonta a linguagem jurídica que ainda criminaliza  a população negra. 
O final do documentário, seguindo o excelente trabalho de montagem e direção, converge para um  chamamento em prol da construção de um outro tipo de sociedade,   espécie de síntese de todas as posições colocadas ao longo do filme feita pela  filósofa Sueli Carneiro., do Geledés.Ela lembra uma citação do também filósofo jamaicano Charles Wade Mills  que afirma que " toda pessoa branca, queira ela ou não, é beneficiária do racismo a despeito de sua vontade . Porém, nem todas as pessoas brancas são, necessariamente, signatárias desse contrato racial." 
A conclusão de Sueli Carneiro enfatiza  a  necessidade de diálogo, negociação, parceria e consenso, decorrente do reconhecimento de que nem todas as pessoas brancas concordam  com o contrato do sistema injusto.do racismo  e  deve se engajarem  no processo.de luta antirracista.
O documentário conta ainda com importantes depoimentos de intelectuais, acadêmicos  e profissionais, como Alexandre do Nascimento, Álvaro Pereira do Nascimento, Amilcar Araujo Pereira, Ana Flávia Magalhães Pinto, Ângela Alonso, Antônio Carlos Higino da Silva, Elciene Rizzato Azevedo, Fernando Conceição, Giovana Xavier, Hebe Mattos, Humberto Adami, João José Reis, Nielson Rosa Bezerra, Paulo Rangel, , Tom Farias e  Wlamyra Albuquerque.
Outro destaque que faço  de " A Última Abolição",  é a atraente iconografia  videográfica que intercalada  aos depoimentos  sustenta, exemplifica, esclarece e atualiza as argumentações,. recorrendo as idéias dos pensadores abolicionistas de fins do século XIX, como Luiz Gama , André Rebouças e  José do Patrocínio.
Por tudo isso , considero  o documentário uma importante contribuição  para para o fortalecimento da consciência e luta antirrascistas,. A qualidade narrativa e teórica do documentário  é inegável  pois com  rigor histórico , a relação de permanência e mudança. são desenvolvidas a todo instante no filme. Infelizmente ainda , a prática mostra que permanências ,mais que mudanças, dão o tom  da questão racial no Brasil . Mas a qualidade do documentário já é um aspecto da mudança.

Joaquim Ferreira

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Viridiana ( Luis Buñuel;1961)

 


Na seqüência de nossas sessões presenciais na  Euterpe Lumiarense,  exibimos na  ultima terça -feira, 23/11, o filme " Viridiana", de Luis Buñuel.O filme foi indicado  e apresentado por Virgilio Roma.
Produção espanhola de 1961, o filme ganhou  Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1961 e é considerado por diversos críticos como  um dos melhores da história do cinema 
A obra cinematográfica de Buñuel é marcada  por características  que o colocam na posição de um dos mais controversos cineastas do mundo. Na sua vasta obra, composta de 33 filmes em cinqüenta anos de carreira, obras como "Um Cão Andaluz" (1928) , "A Idade do Ouro" (1930); "Terra sem pão" (1933);  "Os Esquecidos" (1950); "O Anjo Exterminador" (1962), "A Via Láctea" (1969) ; "La Belle de Jour" (1967), "Tristana" (1970).; "O Discreto Charme da Burguesia " (1972), "Esse Obscuro Objeto do Desejo" (1977), dentre outras, mostra Buñuel explorando   temas com o  amor louco, o anticlericalismo, o inconformismo diante do convencional, a  transcendência mostrada  em imagens  alucinatórias , utilizando  um  humor caustico e , muitas vezes, uma certa singeleza nas imagens  que marcaram seu estilo 
Segundo Buñuel , 
" A moral burguesa é a i-moral,contra a qual devo lutar.A moral fundada sobre nossas tão injustas instituições sociais, como  a religião, a pátria, a família, a cultura;enfim, aquilo que se chama os pilares da sociedade"(Entrevista de 1960)
É uma filmografia densa, sinuosa  .mas  muito  fiel a vida que Buñuel levou, desde a convivência  com os surrealistas nos  anos 1920  , os problemas de gênero com Garcia Lorca  até o rompimento com Salvador Dali nos anos 1940, passando por seus diversos destinos e"exílios" . Ao  deixar a Espanha com o início da Guerra Civil  em 1938., foi para A França, Estados Unidos e México . Regressa a Espanha no início da década de 1960  e realiza Viridiana
Em Viridiana , o estilo de Buñuel  a meu ver, tem  um conteúdo mais político, mesmo que não explicito . É  uma critica profunda  a ditadura de Franco  que, teria   aceitada  ingenuamente subsidiar e promover o filme no Festival de Cannes de 1961, sem que governo examinasse previamente a obra.  Se Franco foi ingênuo a esse ponto não posso afirmar   mas que a genialidade  superou  a ditadura, isso é fato! Depois o filme foi proibido na Espanha e só foi reexibido  no pais com o fim do franquismo.
Os elementos que sustentavam a ditadura de Franco são alegoricamente tratados no filme:  especialmente os  conceitos habituais de caridade e virtude cristãs. da Igreja Católica , uma das bases de apoio ao franquismo. .Viridiana representa   a submissão do baixo clero a tal  da caridade , limitada por natureza  em termos de capacidade para superar a pobreza e  conceder aos pobres autonomia para transformação social . 
A aristocracia, outro sustentáculo do franquismo,  e  representada no filme por Don Jaime (Fernando Rey), que quer a todo custo seduzir a noviça Viridiana(representada por  Silvia Pinal.,) .Don Jaime morre sem conseguir seu objetivo e é substituído pelo  filho Jorge (Francisco Rabal,) na condução dos negócios  .Este apresenta  uma postura moral  mais "moderna" porem também hipócrita e sem ser transformadora ,  típica de frações da classe dominante  que se  alternam  no controle do poder.  .A cena final envolvendo Jorge  mostra bem a moral que Buñuel tanto criticava.
Viridiana , que etimologicamente significa   “a verdadeira divina"  , também leva o nome de uma santa católica  italiana do século XIII,  condenada por blasfêmia e indecência  pela autoridade papal.
A cena mais marcante de "Viridiana" na minha opinião, é a profanação ,marca de  Buñuel, ocorrida durante a ceia dos mendigos que redimensiona   os   atos caridosos e de  fé de Viridiana 
A cena quebra a "harmonia"  do filme quando os mendigos são deixados sozinhos na casa de Dom Jaime. Sem os “patrões”, os pobres realizam  um banquete , onde reproduzem " A Última Ceia"  de Leonardo Da Vinci. E na fotografia que congela e  transpõe   o quadro de Da Vinci para o filme de Buñuel, a posição no centro do quadro que é originalmente a de   Jesus Cristo  é representada   pelo líder dos mendigos, que é um cego! Na  seqüência o mundano se impõe sobre o sagrado,  mandamentos e sacramentos  são transformados  e pecados cometidos :   um dos mendigos, vestido de noiva, dança a  Aleluia de Handel , há estupro, destruição de objetos da casa e tentativas de assassinato. Uma inferência que fiz ao rever "Viridiana" tem origem na  demonstração que a caridade não concede autonomia..O baixo clero -Viridiana- sufocado pelo controle hierárquico da Igreja Católica submete-se a essa constatação Ao optar pela vida mundana expressa na cena final, a ex-noviça transforma--se abandona a caridade , transforma-se  moralmente e  não se interessa pela organização política  dos pobres.É  anarquia social verificada no banquete citado e,  possivelmente para Buñuel ,a representação  da própria desorganização da oposição   sindical, partidária e política da Espanha franquista..
 Assim,  
" A traição de Viridiana em relação ao seu Deus-Igreja compõe uma das sequências finais da obra, quando ela queima os objetos religiosos e penteia-se e maquila-se para uma visita ao homem que ela secretamente desejava. A ex-noviça começa (ou termina) a sua jornada ouvindo jazz e jogando cartas com Jorge e a empregada da casa, com quem ele mantinha um caso. A câmera abandona o “trio pecador” afastando-se lenta e dramaticamente, pondo-se à distância, como que envergonhada. O desejo alcança a sua vitória ao fim da fita e, na mesa de jazz, cartas e sexo, cada ponta do triângulo tem uma vontade oculta a realizar. mundo. " (Luiz Santiago . Disponível em https://www.planocritico.com/critica-viridiana/)

Típico filme para ser visto ,revisto e a cada exibição ter a percepção de ser uma obra nunca vista! 



Viridiana– Espanha, México, 1961
Direção: Luis Buñuel
Roteiro: Luis Buñuel, Julio Alejandro (adaptação da obra de Benito Pérez Galdós)
Elenco: Silvia Pinal, Fernando Rey, Francisco Rabal, José Calvo, Margarita Lozano, José Manuel Martín, Victoria Zinny, Luis Heredia, Joaquín Roa, Lola Gaos, María Isbert, Teresa Rabal
Duração: 90 minutos

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

PROGRAMAÇÃO DE NOVEMBRO/2021


 PROGRAMAÇÃO -NOVEMBRO/2021

16/11 -MILITARES DA DEMOCRACIA: OS MILITARES QUE DISSERAM NÃO
BRASIL;2014;Documentário;Direção e Roteiro: Silvio Tendler ;100 min.
O documentário resgata, através de depoimentos e registros de arquivos, as memórias repudiadas, sufocadas e despercebidas dos militares perseguidos, cassados, torturados e mortos, durante a Ditadura Militar por defenderem a ordem constitucional e lutando pela democracia dentro e fora dos quartéis .

23/11-VIRIDIANA
ESPANHA/MÉXICO;1961 Direção: Luis Buñuel;90 min
Às vésperas de ser ordenada freira, Viridiana passa uns dias na mansão do seu  tio que,obcecado com sua beleza,tenta seduzi-la.Com a morte do tio,desiste da vida religiosa, indo morar na mansão. Movida pelo espírito de caridade cristã, ela abriga e alimenta todos os mendigos da região. Porém,os miseráveis não se comportam do jeito que ela esperava.

30/11-CÃO BRANCO (White Dog)
EUA;1982Diretor: Samuel Fuller;84 min.
Jovem atriz adota um cão branco perdido na rua .Aos poucos, ela nota um comportamento estranho no cachorro e percebe que é um animal treinado para atacar pessoas negras. Ela entrega o cão aos cuidados de um adestrador, ele próprio negro, para tentar reeducar o animal..

07/12-SONATA DE OUTONO(Höstsonaten)
SUÉCIA;1978; Direção e Roteiro Ingmar Bergman;99 min.
Elenco Principal:Ingrid Bergman,Liv Ullmann,Lena Nyman
Uma pianista famosa visita sua filha no interior da Noruega. A artista se depara com uma mulher introspectiva e deprimida. O encontro das duas é tenso, marcado por lembranças do passado e revela uma relação repleta de rancor,ressentimentos e cobranças.
 
14/12 -CADA UM COM SEU CINEMA (Ou Aquele Calafrio de Quando as Luzes se Apagam e o Filme Começa(Chacun son cinéma ou ce petit coup au coeur quand la lumière s'éteint et que le film commence )
FRANÇA;2007;119 min.
Dirigido por: Abbas Kiarostami,Aki Kaurismäki, Alejandro G. Iñárritu,Amos Gitai, Andrey Konchalovskiy, Atom Egoyan ,Bille August, Claude Lelouch ,David Cronenberg, David Lynch ,Elia Suleiman ,Joel & Ethan Coen, Gus Van Sant, Hou Hsiao-hsien ,Jane Campion ,Kaige Chen , Kar Wai Wong, Ken Loach ,Lars Von Trier , Jean-Pierre &Luc Dardenne ,Manoel de Oliveira ,Michael Cimino ,Nanni Moretti ,Olivier Assayas, Raúl Ruiz ,Raymond Depardon, Roman Polanski ,Takeshi Kitano, Theodoros Angelopoulos, Tsai Ming-liang, Walter Salles, Wim Wenders, Youssef Chahine ,Zhang Yimou
Em comemoração aos 60 anos do Festival de Cannes em 2007 , 34 cineastas de vários  países são convidados a realizar um filme coletivo, cada um contribuindo com curtas de três minutos de duração, que expressam sua paixão pelo cinema.






 




segunda-feira, 31 de maio de 2021

CLÁSSICOS DO CINEMA MUDO - A General(Buster Keaton;1926)










 

CLÁSSICOS DO CINEMA MUDO - Viagem à Lua (Georges Méliès;1902 )/ O Homemk Mosca (Fred C. Newmeyer;1923)


 

CLÁSSICOS DO CINEMA MUDO - IRMÃOS LUMIÈRE:PRIMEIROS FILMES (The Lumière Brothers' First Films / 1895-1897)


 

CLÁSSICOS DO CINEMA MUDO

 


Em junho, o Lumière- Loucos por Cinema completará 5 anos de existência!No contexto das artes e da cultura, o cinema é elemento fundamental para a compreensão .da realidade  que aliado aos princípios do cineclubismo, necessita cada vez mais democratizar o seu acesso. Neste  período da pandemia e com a impossibilidade das sessões presenciais , o Lumière manteve a regularidade de suas  exibições com as apresentações on-line.Uma das linhas de exibição que o Lumière apresentou  nesse 5 anos de existência é a das diversas cinematografias e a história do cinema .Assim, em junho, nossa programação será dedicada aos clássicos do cinema mudo com o objetivo geral de mostrar suas  técnicas ,narrativas e estéticas  como fundamentais para a formação do cinema contemporâneo. As indicações dos filmes, mesmo com um numero reduzido de sessões, sugerem importantes reflexões a partir do legado do cinema mudo O cinema nasceu mudo e esse aspecto revelou uma de suas características , a universalidade , que possibilitava imagem e expressões  e significados serem captados por culturas diversas. Contudo, a introdução do som no cinema encontrou certa animosidade e resistência. Um dos nomes mais destacados dessa  resistência foi o de Charlie  Chaplin.que  criticava a  perda do encantamento da imagem na medida em que o som foi introduzido .Na realidade , a dimensão do som que Chaplin reclamava era o excesso de diálogos , falas e mais falas , que ofuscavam o que é seminal na arte cinematográfica: a imagem. A introdução da fala, deveria ter  o cuidado de  não competir com a imagem. Para Chaplin ,como compositor que era, a trilha sonora deveria ser sincrônica e suave sem esconder o significado e encantamento da imagem, e sim contribuir para reforçar seu significado.Em épocas digitais e de grande disponibilidade de recursos tecnológicos, muitos diretores exageram e distorcem as imagens. Trilhas sonoras que abafam falas, falas que  escondem imagens e imagens absolutilizadas que resultam em êxitos de diretores com muita formação técnica dentro dos cânones da "light magic"., mas com pouca sensibilidade social e conhecimento empírico .Os resultados são  narrativas impessoais e muitas vezes historicamente desvinculadas .Essa reflexão é importante para situarmos  o cinema mudo como fundamental para o entendimento da arte cinematográfica. Diretores como Buster Keaton, Fritz Lang, Georges Méliès, Robert Wiene;,Carl Theodor Dreyer, Friedrich  Murnau,Alfred Hitchcock, o próprio Chaplin, dentre outros, anda contribuem para o cinema contemporâneo  na medida em que as inovações de suas obras  foram apreendidas por diretores que perceberam , e ainda percebem .a importância do estudo e da compreensão dos filmes  clássicos. 


PROGRAMAÇÃO


QUINTA,3 DE JUNHO
IRMÃOS LUMIÈRE:PRIMEIROS FILMES (The Lumière Brothers' First Films (1895-1897)

Direção: Auguste e Louis Lumiére;61 min.
FRANÇA;1996 ;Narração: Bertrand Tavernier ;Edição Thierry Frémaux;Brian Kelley.,
Uma coleção de curtas-metragens feitos pelos Irmãos Lumière, na França ,na passagem do século XIX para o XX.

SEXTA; 4 DE JUNHO
VIAGEM À LUA(Le voyage dans la lune)

FRANÇA;1902.
Direção e Roteiro: Georges Méliès;18 min
Elenco: Georges Méliès, Bleuette Bernon, Henri Delannoy,Folies Bergère.
O filme conta a história de um grupo de cientistas que constrói uma nave para ir à lua, onde, durante sua exploração, descobrem que ela é habitada por seres extraterrestres, com os quais lutam até que consigam retornar à Terra.

O HOMEM-MOSCA(.Safety last)
EUA;1923
Direção:Fred C. Newmeyer;70 min.
Elenco:Harold Lloyd,Mildred Davis, Bill Strother
Em 1922, o jovem inexperiente Harold tomou uma decisão: abandonar sua pequena cidade natal, no interior, e partir para a cidade grande em busca de sucesso profissional. Depois de um tempo, finalmente consegue um emprego como vendedor em uma grande loja de departamentos, sem imaginar que este seria o início de muitas aventuras e que algumas poderiam até causar sua morte

SÁBADO, 5 DE JUNHO
A GENERAL
(The General)
EUA;1926 ;
Direção: Buster Keaton.;107 min
Elenco :Buster Keaton;Marion Mack Glen Cavender
Johnnie Gray é apaixonado por sua locomotiva chamada General, e também por Annabelle. Durante a Guerra da Secessão, General e Annabelle são raptadas por espiões da União e Johnnie tentará salvá-las em uma aventura através da ferrovia.

SEXTA; 11 DE JUNHO
PASTOR DE ALMAS( The Pilgrim)

EUA;1923
1923 ;Direção e Roteiro: Charlie Chaplin.;48min..
Elenco:Charlie Chaplin ; Edna Purviance;Mack Swain;Sidney Chaplin
Um prisioneiro escapa da prisão, se veste de pastor para passar despercebido e foge em um trem. Os problemas começam quando ele desembarca em uma estação onde, por coincidência, há um pequeno povoado aguardando ansiosamente a chegada de um novo reverendo. 
O GAROTO (The Kid)
EUA;1921
Direção e Roteiro: Charlie Chaplin.;68 min.
Elenco: Charlie Chaplin,Jackie Coogan,Edna Purviance
Uma mãe abandona seu filho com um bilhete em uma limusine, mas o carro acaba sendo roubado e a criança é deixada em uma lata de lixo. Um vagabundo encontra o bebê e passa a cuidar dele. Cinco anos depois, a mulher tenta encontrar o filho perdido.

SÁBADO, 12 DE JUNHO
METROPOLIS

ALEMANHA;1927
Direção:Fritz Lang;153 min
Roteiro Fritz Lang e Thea von Harbou
Elenco:Brigitte Helm,Alfred Abel,Rudolf Klein-Rogge
A cidade de Metrópolis é dividida em duas: de um lado estão os operários, vivendo na miséria e explorados por máquinas. Do outro, estão os políticos, que desfrutam de um jardim idílico. Uma história de amor surge entre os dois extremos da cidade.

SEXTA; 18 DE JUNHO
O GABINETE DO DR. CALIGARI (Das Cabinet des Dr. Caligar
i)
ALEMANHA;1920
Direção:Robert Wiene;80 min.
Elenco:Werner Krauss,Conrad Veidt,Lil Dagover
Em um pequeno vilarejo da fronteira holandesa, um misterioso hipnotizador, Dr. Caligari, chega acompanhado do sonâmbulo Cesare que, supostamente, estaria adormecido por 23 anos. À noite, Cesare perambula pela cidade, concretizando as previsões funestas do seu mestre, o Dr. Caligari.

SÁBADO, 19 DE JUNHO
O INQUILINO SINISTRO(The Lodger: a Story of The London Fog)

REINO UNIDO;1927
Direção e Roteiro: Alfred Hitchcock;79 min.
Elenco:Marie Ault,Arthur Chesney,Reginald Gardiner
No filme, livremente baseada nos assassinatos de Jack, o Estripador, no século XIX em Londres, , uma senhora suspeita que o inquilino de um dos seus apartamentos é o tal serial killer.

SEXTA; 25 DE JUNHO
A PAIXÃO DE JOANA D'ARC (La Passion de Jeanne D'Arc)

FRANÇA;1928 Direção: Carl Theodor Dreyer;104 min
Elenco: Maria Falconetti, Eugene Silvain, André Berley
No século XV,a jovem camponesa Joana D'Arc é condenada à morte por ter liderado o povo francês contra o exército invasor da Inglaterra, dizendo que foi inspirada por Jesus e São Miguel. Ela passa suas últimas horas de vida capturada e torturada pelos ingleses.

SÁBADO, 26 DE JUNHO
NOSFERATU(Nosferatu, Eine Symphonie Des Grauens)

ALEMANHA;1922
Direção: F. W. Murnau ;94 mim.
Roteiro:Bram Stoker
Elenco: Max Schreck, Greta Schroeder, Gustav von Wangenheim
Hutter agente imobiliário, viaja até os Montes Cárpatos para vender um castelo no Mar Báltico cujo proprietário é o excêntrico conde Graf, que na verdade é um milenar vampiro que, buscando poder, se muda para Bremen, Alemanha, espalhando o terror na região. Curiosamente quem pode reverter esta situação é Ellen a esposa de Hutter, pois Orlock está atraído por ela.



quinta-feira, 29 de abril de 2021

A Greve (Serguei Eisenstein;1925) / Miséria e Fortuna de Uma Mulher (Curta-Metragem/Serguei Eisenstein;1930)








Apresentação de " Miséria e Riqueza de Uma Mulher"
Anna Luiza Costa (CFCAM/Nova Friburgo)
 

                                                         Apresentação de " A Greve 
                                              Prof. Ricardo Costa (Fundação Dinarco Reis)


terça-feira, 27 de abril de 2021

MOSTRA DO CINEMA SOVIÉTICO ON-LINE


 Em maio,o Lumière-Loucos por Cinema retomará suas sessões on-line pelo  Facebook  com uma Mostra do Cinema Soviético.
Após a derrubada da monarquia russa pela Revolução Socialista de 1917 , a indústria cinematográfica cresceu rapidamente no país, sobretudo com a criação em janeiro de 1920 da Mosfilm, estúdio de cinema considerado o mais antigo da Europa e até hoje existente.
Em 1922, com a fundação da União Soviética,Vladimir  Lênin afirmou que "de todas as artes, o cinema é o mais importante para nós.".
Lênin tinha uma idéia clara sobre a influência do cinema para o desenvolvimento da cultura socialista,não somente como arte ou entretenimento mas como um projeto político e pedagógico de formação cultural e conscientização dos trabalhadores. Portanto, políticos, intelectuais e artistas vanguardistas deveriam demonstrar esse compromisso por  meio de seus filmes.Além disso, uma intensa profissionalização de pessoas  na indústria cinematográfica  contribui para o crescimento do cinema soviético..
Como resultado, cineastas como Sergei Eisenstein,Dziga Vertov Lev Kuleshov, Andrei Tarkovski, dentre outros , desenvolveram uma estética bem peculiar que criou uma referência no mundo do cinema: a escola soviética de cinema.
As  contribuições dos cineastas soviéticos estabeleceram uma linguagem própria do cinema com técnicas de edição especialmente as da  montagem dialética (o método Kuleshov) que permanecem atuais até os dias de hoje, assim como textos  que fundamentaram as teorias e práticas cinematográficas pois  muitos dos  diretores soviéticos eram também teóricos.
Para os brasileiros,por exemplo, as regras de montagem e a preocupação social contribuíram  para a criação de uma  linguagem vanguardista que resultou no Cinema Novo dos anos 1960.
Portanto, o legado dos cineastas soviéticos continua a ser importante no cinema contemporâneo em diversos níveis.
A diversidade de títulos do cinema soviético é muito expressiva, não só em termos quantitativos mas também pela capacidade em retratar  a  complexidade política e cultural  da sociedade da URSS.
Nesse sentido, ao selecionar  os filmes procuramos enfatizar aspectos técnicos  como  a montagem dialética de Eisenstein, o cinema- verdade de Vertov  até  os planos mais longos de Tarkovsky, passando pelo  cinema político de  Kozintsev e Trauberg retratando a Comuna de Paris. Ou ainda, em obras mais recentes, as angústias e  relações do individuo com o próprio Estado Soviético, redimensionando inclusive visões errôneas sobre o controle total do Estado sobre a produção cultural. Parafraseando Eisenstein a tarefa da arte é representar as contradições do individuo e revelar tais contradições Igualmente importante nessa mostra é um tema é muito sensível para o  cinema e história do país.: a luta contra o fascismo  na Segunda Guerra Mundial, o sofrimento da população civil e o papel do soldado soviético no conflito.
Deste modo, uma mostra que sintetiza uma produção tão extensa  em nove sessões é uma tarefa que certamente será incompleta, pela duração  e pela subjetividade das escolhas. Mas acreditamos que as preocupações e contribuições centrais do cinema soviético estejam representadas  nos filmes selecionados. O Lumière  espera que tal  contribuição seja a base para outras experiências de divulgação não só do próprio cinema soviético mas de outras  escolas cinematográficas igualmente importantes, em mostras, ciclos e  exibições posteriores.




PROGRAMAÇÃO

SÁBADO; 1º DE MAIO
MISÉRIA E FORTUNA DE UMA MULHER (быта и удача женщины/Byta I Udacha Zhenshchiny )
1929;DIREÇÃO E ROTEIRO Serguei Eisenstein;Grigori Aleksandrov ;21 min.
ELENCO PRINCIPAL:Johannes Steiner
O curta-metragem exibe o contraste entre as condições socioeconômicas em que uma mulher rica faz um aborto e a miserável e perigosa condição em que uma mulher pobre tem ao recorrer a prática abortiva .
A GREVE (Стачка,/Stachka);
1925;DIREÇÃO Serguei Eisenstein 82  min.
ROTEIRO: Serguei Eisenstein ;Grigori Aleksandrov
Cópia  com intertítulos em inglês e traduzidas para o português
Primeiro longa metragem de  Eisenstein, que retratou sob a ótica revolucionária soviética uma greve na Rússia Czarista.O suicídio de um operário injustamente acusado de roubo é o estopim para o início de uma greve numa fábrica russa, em 1912. O lento processo de negociação expõe uma série de ações e reações  entre grevistas e polícia.Seu filme virou um clássico da era do cinema mudo

SEXTA-FEIRA; 7 DE MAIO
A INFÂNCIA DE IVAN (Детство ивана/Ivanovo Detstvo )
1962;DIREÇÃO Andrei Tarkovski; 95 min
ELENCO PRINCIPAL:Dmitri MilyutenkoIrma Raush;Nikolai Burlyayev;Nikolai Grinko
Depois que sua mãe é fuzilada pelos nazistas, Ivan, de 12 anos, engaja-se na guerra contra os alemães. Os soldados soviéticos querem afastá-lo para a retaguarda, mas ele insiste em assumir missões suicidas. O filme foi defendido por Sartre como um exemplar de "surrealismo socialista". Baseado no conto de Vladimir Bogomolov. O filme ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza  de 1962.

SÁBADO; 8 DE MAIO
O PAI DO SOLDADO (Отец солдата/Jariskatsis mama)
1964;DIREÇÃO Rezo Chkheidze; 83 min
ELENCO PRINCIPAL: Sergo Zakariadze, Viktor Uralsky, Vladimir Privaltsev.
Durante a Segunda Guerra Mundial um velho camponês georgiano que, na esperança de encontrar o seu filho, um soldado ferido, acompanha o Exército Soviético e se torna ele próprio um soldado. para enfim ver o filho e  testemunhar a queda do fascismo até a vitória final em Berlim.

SEXTA-FEIRA; 14  DE MAIO
UM HOMEM COM UMA CÂMERA(человек с камерой;Chelovek s kameroy)
1929 ;DIREÇÃO Dziga Vertov; 68min .
ELENCO PRINCIPAL Mikhail Kaufman, Elizaveta Svilova
O documentário mostra a movimentação ao longo do dia de uma grande cidade soviética dos anos 1920. Em sua obra máxima, o pioneiro dos documentários e teórico Dziga Vertov explora a montagem para registrar a  "verdade" e criar um marco para o cinema documental.

SÁBADO ,15  DE MAIO -
CUIDADO COM O CARRO (Берегись Автомобиля /Beregis Avtomobilya)
1966 ;DIREÇÃO: Eldar Ryazanov.; 90  min.
ELENCO PRINCIPAL: Innokenti Smoktunovsky ;Oleg Efremov
Detochkin é um vendedor de seguros procurado pelo roubo de vários carros. Ele rouba apenas de pessoas de caráter questionável. Conhece o investigador Maxim, e acaba descobrindo que ele está trabalhando no seu caso. Eles dividem a paixão pelo teatro amador e os palcos na interpretação de “Hamlet”.

SEXTA-FEIRA; 21  DE MAIO
QUANDO VOAM AS CEGONHAS
1957;DIREÇÃO Mikhail Kalatozov ;96 min.
ELENCO PRINCIPAL Tatyana Samoylova, Aleksei Batalov, Vassily Merkurev, Aleksandr Shvorin,
Veronika e Boris,  jovem casal de namorados, são separados pela convocação do rapaz para se juntar ao Exército Vermelho durante a 2ª Guerra Mundial. Ansiosa por notícias ,a moça é acolhida pela família de Boris, quando sua casa é destruída por um bombardeio, e é forçada a se envolver com o primo do rapaz, com quem resignadamente se casa. Mas continua a esperar por Boris. Palma de Ouro de “Melhor filme” no Festival de Cannes de 1958

SÁBADO,22 DE MAIO
MOSCOU NÃO ACREDITA EM LÁGRIMAS(Москва слезам не верит / Moskva slezam ne verit)
1980;DIREÇÃO WLADIMIR MENSHOV ;152 min
ELENCO PRINCIPAL:Vera Alentova,Alexéi Batalov,,Irina Muravioba,Yuri Vasilev
O filme mostra o relacionamento de três amigas  que trabalham na fábrica de uma pequena cidade russa e  que decidem tentar uma nova vida em Moscou. Partem em buscam de seus sonhos de casamento, filhos e sucesso profissional. Vinte anos mais tarde enfrentam a solidão, o divórcio e o envelhecimento . Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 1981.

SEXTA-FEIRA; 28  DE MAIO -
A NOVA BABILÔNIA(Новый Вавилон/Novyy Vavilon)
1929 ;DIREÇÃO E ROTEIRO: Grigori Kozintsev ;Leonid Trauberg;93  min.M
ELENCO PRINCIPAL David Gutman,Yelena Kuzmina,Andrei Kostrichkin;
o filme mostra a formação e a destruição da Comuna de Paris, entre março e maio de 1871. Estabelecida contra os ricos e poderosos, Do abastado clima burguês, no armazém Babilônia, ao desespero dos trabalhadores famintos, a Comuna foi violentamente reprimida pelo exército .Música de Dimitri Shostakovich

SÁBADO; 29  DE MAIO
NÓS SOMOS DO JAZZ" (мы джаз/ My iz dzhaza)
1983 ;DIREÇÃO: Karen Shakhnazarov.;89  min.
ELENCO PRINCIPAL:Igor Sklyar;Aleksandr Pankratov-Chyornyy;Nikolay Averyushkin.
Nos anos 1920, jovem estudante de música de Odessa monta um conjunto de jazz argumentando que se trata  da arte proletaria dos EUA, e não do capitalismo estadunidense. O grupo viaja pela União Soviética  vivendo aventuras em busca do sucesso.