segunda-feira, 5 de junho de 2023

Saneamento Básico,o filme(Jorge Furtado;2007)


No filme, uma comunidade fictícia no sul do país se mobiliza para construir uma fossa no arroio e acabar com o mau cheiro. A líder do movimento, descobre que a Prefeitura só tem verba para produzir um vídeo de ficção. Aos poucos, as filmagens vão envolvendo todos os moradores do local. Na realidade a questão de fundo é se o cinema deve ser preferência em um país com tantas e tamanhas carências. No filme os personagens questionam a todo momento: como o governo pode dar dinheiro para o cinema se as pessoas mal têm esgoto. Porém, para o diretor Jorge Furtado, os problemas culturais e os estruturais do país devem ser enfrentados na sua totalidade.
Resolvida essa questão de prioridades, Jorge Furtado fez uma obra cujo foco é precisamente o complexo processo de se fazer um filme. Utilizando a metalinguagem, do roteiro à montagem, passando pelos patrocinadores e escolha do elenco, todas as etapas estão lá. E, nesse caso, o enredo também serve como pano de fundo para uma alfinetada no bom e velho jeitinho brasileiro, nos improvisos de governos, da população e até do próprio cinema. ”
Conforme o crítico Luiz Zanin, um dos personagens de “ Saneamento Básico” se queixa “(...) que o roteiro está cheio de frases infilmáveis, Marina [personagem de Fernanda Torres] responde que “encheu lingüiça” um pouco porque a portaria diz que precisa ter no mínimo 10 páginas. E roteiro não serve para nada, só para pegar o dinheiro, uma piada cínica, recorrente entre cineastas que, em busca de dinheiro oficial, ou em concursos públicos, são obrigados a apresentar roteiros que não têm a mínima intenção de seguir, se vierem a filmar. ” (Luiz Zanin, O Estado de São Paulo, 25/07/2007)
Com a crítica, as políticas de distribuição de verbas para o audiovisual feita por Furtado, infiro a partir da concepção de SANEAMENTO BÁSICO, O FILME” a imprescindível necessidade de uma formação mais profunda e qualificada em termos da cultura cinematográfica para o oficio de fazer cinema. Assim, cabe realçar a importância do papel que a ASCINE possui. Fundada em 2001, foi a partir de 2007 que o fomento à produção do audiovisual foi fortalecida. Com o revés sofrido em 2019 no governo Bolsonaro, atualmente com o governo de Lula a ASCINE volta a ter destaque no desenvolvimento das políticas públicas para o cinema.

Joaquim Ferreira