domingo, 26 de novembro de 2017

Laranja Mecânica ( Stanley Kubrick;1972)




Indicação , apresentação do filme e texto : Reinaldo Silva 

" Você que imagina ter visto esse filme ... você que nunca viu o filme Laranja Mecânica ... saberá porque esse filme produzido em 1971 é atualíssimo. Fique ciente de nosso envolvimento com ele. Ao final você será convidado a responder uma questão, que está sempre a nos assediar, quer queiramos ou não.
Sua resposta a pergunta que será feita não será julgada. Não se trata de fazer nenhum julgamento. Mas tenho certeza que a questão ficará  "girando em sua cabeça", porque ela é o cerne ou o "núcleo duro" que acompanha a nossa cultura desde os primórdios. Questão que persiste hoje e que talvez persistirá  em sociedades futuras."
Reinaldo Silva    

Vá e Veja (Elem Klimov;1985)



Indicação e apresentação do filme: Frederico Schornbaum  + Alunos da turma 1001 do Colégio Estadual José Martins da Costa

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

A Falecida (1965,Leon Hirszman)





Indicação e apresentação do filme : Anita Hirszman

A Falecida: uma visão política do subúrbio carioca-
Luiz Zanin Oricchio 

Tudo que a mulher queria da vida era a morte gloriosa. Tudo que o marido desempregado almejava era a vitória do Vasco sobre o Fluminense na decisão do Campeonato Carioca. Sobre essa superfície de desejos contraditórios, pífios ou absurdos, Nelson Rodrigues construiu um dos seus mais contundentes dramas suburbanos – A Falecida, texto adaptado para o cinema por Leon Hirszman em 1965. Fernanda Montenegro, em seu primeiro papel no cinema, interpreta Zulmira, a “falecida” do título. Vemos a atriz desde as primeiras cenas, andando pelas ruas do subúrbio de Sampaio (RJ). Ela busca uma cartomante e esta lhe diz que ela tem uma desafeta na vizinhança, uma loura, e deve tomar cuidado. Zulmira é casada com Toninho (Ivan Cândido), desempregado que vive entre o salão de bilhar e a expectativa de um jogo decisivo do seu time. O casal vegeta no limite do desespero, mas sem a conotação existencial que daí tiraria um filme francês. Tudo é mais cru e menos intelectualizado. Se o marido encontra na paixão pelo futebol a sua válvula de escape, a mulher parece roída pelo tédio, pela culpa e desejo de morte. Desenvolve uma morbidez que parece verossímil embora traga os traços hiperbólicos desenhados por Nelson Rodrigues.
Leon Hirszman, marxista de formação e cineasta de rara contenção formal, se esforça para desidratar um pouco os exageros rodriguianos. Se os vícios e baixezas da pequena burguesia aparecem com nitidez, seu relevo é esculpido por uma direção enxuta e pela maneira quase documental como o subúrbio é retratado como o lugar da falta de horizontes por excelência. Por outro lado, vemos o Nelson Rodrigues habitual surgir claramente nos dois sócios da funerária, os venais e desbocados papa-defuntos interpretados por Nelson Xavier e Joel Barcellos. Aparece no ricaço cafajeste vivido por Paulo Gracindo. E também, de certa forma, no rosto chupado de Zulmira, que se ilumina apenas quando imagina a própria morte e um enterro de luxo, “como este bairro jamais viu”. É seu maior desejo. O único, de fato: um enterro de parar o trânsito, com caixão de luxo e carro funerário com penacho e tudo, para fazer inveja à vizinha odiada. Enfim, a história tem aquilo que em geral se espera de Nelson Rodrigues – essa fronteira mal definida entre o trágico e o cômico, que ele atravessava, de um lado a outro, como ninguém sabia ou soube fazer.
Leon busca uma leitura pessoal da peça, e talvez um tanto diferente daquela imaginada pelo dramaturgo. Parece se compadecer dos personagens, tanto de Zulmira como de Toninho, e neles vê duas vítimas de um processo adiantado, e no fundo letal, de alienação. Suas vidas de pouco valem, na medida em que eles não têm qualquer controle sobre elas. Toninho, ao se dedicar de maneira fanática ao futebol, não tem olhos para o que ocorre à sua volta. Sua mulher definha e ele não percebe. Desempregado, não ocupa qualquer lugar social, mas não liga o vazio da existência ao fato de ter sido expelido do mundo do trabalho. Zulmira afunda em sua obsessão autopunitiva, sem se dar conta de que o que a corrói é a repressão sexual e, portanto, a culpa e o preço que se impõe pelo que considera seu pecado.

Noel, Poeta da Vila (2006,Ricardo van Steen)


Indicação e apresentação do filme: Bernardo Timm  + Alunos da turma 1001 do Colégio Estadual José Martins da Costa
Participação do músico e compositor Agenor de Oliveira