domingo, 22 de setembro de 2019

O Botão de Pérola (2015, Patrício Guzmán)



Indicação, apresentação do filme e texto : Joaquim Ferreira

O BOTÃO DE PÉROLA: MEMÓRIA ,CINEMA E POESIA NA HISTÓRIA DA  AMERICA LATINA

"Un país sin cine documental es como una familia sin álbum de fotografías"( Patrício Guzmán)

O documentário  o "Botão  de Pérola "( El Botón de Nácar,2015),de Patrício Guzmán, expõe de forma  articulada  e metafórica  as  categorias de cultura e  memória  na formação do Chile  com  as raízes e a permanência  da violência na América Latina 
O   diretor Patrício Guzmán [1]    é  de  orientação política abertamente esquerdista. Iniciou sua carreira de cineasta  nos anos 1960 produzindo  um cinema engajado e que apoiava abertamente o governo de Salvador Allende.Por isso , deixou  o Chile depois que o general Augusto Pinochet implantou a ditadura em setembro de 1973 . Sua obra comporta  produções importantíssimas sobre o Chile ,com estéticas ,  ritmos e formatos diferentes que vão desde o estilo documental mais clássico - "A Batalha de Chile”(1975-1979) , “O Caso Pinochet”(2001) e  “Salvador Allende"(2004)-    até   produções  como passando por Nostalgia da Luz (2010)[2]   e  " O Botão de Pérola", filmes nos quais o recurso a fotografia e sua relação com paisagens naturais é marcante não sendo filmes menos históricos e realistas  por isso.
Em " O Botão de Pérola" ,  diretor nos oferece uma metáfora  admirável como  objeto de reflexão da nossa realidade, na medida da necessidade de ressignificarmos  o conceito de América Latina. A  indicação desse  filme  foi motivada  pela necessidade atual em   tratar esse tema importantes  à História da América Latina.Além  da premência histórica , a sensibilidade técnica e estética do diretor , criou uma obra  muito original. No enredo, há duas narrativas – a política e a cultural – que se entrecruzam em momentos históricos do país. Equilibrando a história e memória com o  fio da poesia e uma belíssima fotografia, ressalta uma metáfora fundamental:" (...) o uso da água e como esta é guardiã da memória e também cemitério, já que este recurso natural permeia a história dos povos nômades das águas, que serão apresentados pelo documentário." [3] 
Desta forma,  Guzmán observa as águas do Chile, onde foram jogados milhares de pessoas durante a ditadura e  faz uma triangulação entre a geografia (a condição insular do país), o passado colonial (com a morte e estupro de índios) e a ditadura de Pinochet.  Ao longo do documentário, o diretor Patrício Guzmán propõe a interação entre sujeito e história  pela arte .que não se  limita  à mera representação do fato histórico, mas uma reflexão sobre ele.
 "a sétima arte pode ser vista também como uma representação do passado e objeto de pesquisa histórica, capaz de questionar um passado próximo ou longínquo, resgatar a memória de personagens envolvidos (...)   [4] 
 Portanto, a produção cinematográfica de Patrício Guzmán em " O Botão de Pérola"  evidencia que o documentário em questão , apesar da aparente superficialidade, possui um compromisso crítico com a sociedade nele retratada,.Assim para Guzmán, 
" el cine documental forma parte de la conciencia critica y analítica de uma sociedad. No puede verse solamente como uno entre lós diferentes gêneros del cine; Es una verdadeira vocación que exige una entrega total y una clara posición ética" [5]  

NOTAS
[1]-Patricio Guzmán es uno de los cineastas chilenos de mayor reconocimiento internacional. Después del golpe de estado permaneció en el Estadio Nacional de Santiago, incomunicado y amenazado de fusilamiento. Abandonó Chile en noviembre de 1973. Ha vivido en Cuba, España y Francia, donde reside. Seis de sus obras han sido estrenadas en Cannes, entre las que sobresalen “La Batalla de Chile”, “El Caso Pinochet”, “Salvador Allende” y “Nostalgia de la Luz”. Con esta última recibió el Gran Premio otorgado por la Academia del Cine Europea en 2010. Su última obra « El Botón de Nácar » obtuvo el Oso se Plata en Berlín en 2015. Fue invitado a formar parte de la Academia de Hollywood en 2013. Es presidente y fundador del Festival Documental de Santiago, FIDOCS. Retrospectivas recientes: British Film Institute, Harvard Film Archive. Disponível em https://www.patricioguzman.com/es/

[2]Filme  exibido no Lumière em setembro de 2018 e   com uma estrutura semelhante  ao filme "O Botão de Perola".Na realidade, considero o  dois filmes  como obras complementares a partir da utilização de recursos fílmicos nos quais se sobressai  a fotografia e a utilização da paisagem  geográfica e natural do Chile articuladas à realidade histórica.

[3] Ferreira, Moisés. (2017). El botón de nácar e a repressão na América Latina. DOC online - Revista Digital de Cinema Documentário. 295-307. 10.20287/doc.d22.ar5.
[4] Ferreira, Moisés. (2017). El botón de nácar e a repressão na América Latina. DOC online - Revista Digital de Cinema Documentário. 295-307. 10.20287/doc.d22.ar5.
[5] Ferreira, Moisés. (2017). El botón de nácar e a repressão na América Latina. DOC online - Revista Digital de Cinema Documentário. 295-307. 10.20287/doc.d22.ar5.

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