Indicação e,apresentação do filme e texto : Reinaldo Silva
Qual o filme de Hitchcock que você mais gosta?
No
meu caso responder essa pergunta é um desafio, porque Hitchcock é (junto com
Charles Chaplin) um dos maiores cineasta que admiro. Os dois foram decisivos
para arte cinematográfica. Ambos inovaram a maneira de conceber um filme,
influenciaram gerações futuras de diretores e mobilizaram a emoção do público.
Técnica e criatividade caminhavam juntas. Por isso não consigo responder a
pergunta que formulei.
Sobre
o título do Filme (*veja também informações no
final do texto)
Sem
aprofundar o conceito Psicose, mais
conhecido atualmente como Esquizofrenia,
é um diagnóstico aplicado aos indivíduos que apresentam um quadro de
confusão mental e alucinações, ou seja, alterações de caráter subjetivo, súbita alteração no comportamento, refletindo
na convivência familiar e social. Geralmente, o tratamento é feito por
intermédio de terapia e ingestão de medicamentos conhecidos como psicotrópicos.
Há entre as várias corrente da psicanálise e psiquiatria a polêmica sobre a
origem e maneiras terapeuticas de tratamento da Psicose. Acredito que seja o
dado elementar que precisamos saber sobre a personagem Norman Bates, vivido por
Anthony Perkins.
No
livro de entrevistas escrito por Truffaut (HitchcockTruffaut), Hitchcock
declara sentir muito orgulho do filme, porque no seu entender ele pertencia a
todos os cineastas, mais do que todos os filmes que até então tinha feito.
Segundo o filme baseado no livro Alfred Hitchcock e os Bastidores de Psicose
(Stephen Rebello-1990, 2012-também roteirista deste filme), Psicose enfrentou
grandes dificuldades para convencer os produtores a financiar o filme e a
censura do Estados Unidos da época a liberá-lo sem cortes. Relata Hitchcock
para Truffaut:
“Eu
não conseguiria ter com ninguém uma verdadeira discussão sobre esse filme nos
termos que estamos tendo que estamos empregando neste momento. As pessoas dirão
que não era uma coisa para se filmar, o tema era horroroso, os protagonistas
eram pequenos, nao havia personagens ...”
Porém,
nada demoliu Hitchcock a fazer o filme. Não tendo conseguido quem o produzisse,
Hitchcock hipotecou sua casa para financiar os custos da produção. Outro motivo
era o descrédito da grande maioria que o cercava sobre a possibilidade do livro
Psicose vir a ser uma estória cinematográfica compatível com o estilo de
Hitchcock, ainda mais se fosse filmada em preto e branco, como ele desejava. E
para aumentar ainda mais a dificuldade pesava ainda o fracasso de bilheteria do
seu filme anterior, Um Corpo que Cai de 1958. Declara Hitchcock sobre o filme
Psicose:
“A
construção desse filme é muito interessante e é minha experiência mais
apaixonante de jogo com público, alimentar o voyeurismo do público, preparação
do público para a cena. O público presta tanta atenção ao diálogo que não pensa
mais no que a câmera está fazendo ....”.
A
satisfação de Hitchcock sempre foi agir sobre a emoção do público por
intermédio de seus filmes. E ele perseguiu esse fundamento até seu último filme
(Trama Macabra, 1976).O que lhe importava era fazer da montagem dos fragmentos
do filme (fotografia, trilha sonora e tudo que é puramente técnico) a
estratégia para mobilizar o público. O filme custou oitocentos mil dólares e havia
rendido em pouco tempo aproximadamente 13 milhões de dólares. Imagina-se que
nos anos subsequentes iria arrecadar mais de 40 milhões de dólares. Foi o maior
sucesso financeiro de Hitchcock.
A
cena do crime no chuveiro do banheiro(Ver vídeo abaixo), acompanhada de sua trilha sonora talvez
seja a mais assistida e comentada da estória do cinema, citada e analisada em
artigos por críticos do cinema sempre quando comentam o filme, serviu de inspiração
para vários outros filmes e da série de TV chamada Bates Hotel. A cena tem a
duração de 45 segundos, levou 7 dias para ser concluída e na sua montagem foram
utilizadas 70 posições de câmara. O
perfeccionismo de Hitchcock fica evidente em inúmeras tomadas dos enquadramento
dos planos, os movimentos da câmara, a montagem cirúrgica na seleção e edição
das cenas, o ritmo tenso da narrativa, a influência fundamental da trilha
sonora e a exigência na repetição das cenas com o elenco dos seus filmes.
Para
mim a construção do suspense do filme Psicose é totalmente diferente dos filmes
que Hitchcock havia feito até aquela data. Por exemplo, sua regra na
diferenciação entre terror e suspense não foi por ele seguida, uma vez que a
surpresa da ação do gênero de filmes de terror vai de encontro com o suspense,
que ele definiu como sua preferência. Ele justificou dizendo “que estava
tentando acompanhar a mudança no gosto do público”.
Curtam
mais esse extraordinário filme do " Mestre do Suspense".
Abraço
Reinaldo
* Produção e Direção: Alfred Hitchcock; Distribuição:
Paramount, 1960; Roteiro adaptado do romance de Robert Bloch; Efeitos Especiais
Fotográficos: Clarence Champagne; Cenário: Joseph Hurley, Robert Claworthy e
George Milo; Música Bernad Herrmann; Tempo de Duração: 109 minutos; Elenco:
Anthony Perkins (Norman Bates); Janet Leigh (Marion Crane).
Bibliografia:
HitchcockTruffaut, Companhia da Letras, ano 2008, páginas 268 a 287, seguida
das fotos do filme.
VÍDEO
Hitchcock e a famosa cena do banheiro
Alma: sua importância pouco conhecida na vida de Hitchcock
Hitchcock vibra na estréia de Psicose
Hitchcock e Alma: um encontro após 30 anos
Hitchcock se despede e um corvo anuncia seu (e nosso) próximo filme
COMENTÁRIO:*
O comentário não foi feito no espaço usual pois o mesmo não suporta a publicação de imagens, necessárias para ilustrar o texto!
Cada exibição de um filme considerado como clássico , não se apresenta como da vez anterior.
Na ultima parte do filme Psicose ,o desfecho do caso de Norman Bates não é criminalizado.As autoridades policiais ouvem paciente e atentamente a exposição do psiquiatra sobre os distúrbios e a personalidade de Bates e nesse caso, a originalidade de Hitcchock supera seus perfil inovador mais técnico técnica e ganha contornos humanistas e profetizantes ao indicar as disfunções mentais e psicológicas como relacionadas à questões criminais , antecipando-se a toda uma discussão sobre essa postura que marcou as décadas de 1970 e 1980
Tive a impressão, em termos simbólicos , que o psiquiatra na sua exposição é enquadrado pelas lentes de Hitchcock junto a um efeito de luz num plano um pouco acima de sua cabeça, que lembra uma figura meio demoníaca, não negativa mas até brincalhona( o humor hitchcockiniano) , inferido o combate do " bem" contra o "mal", do divino contra o terreno.
Essas cenas parecem um contraposição à imagens muito presentes nos filmes de julgamento dos anos 1950 e início dos anos 1960 nos quais a cruz cristã sempre aparece um pouco acima do nível da cabeça do juízes como se as decisões jurídicas e penais e fossem obra do " divino" ou com a ajuda de Deus. Com efeito, isso é um exemplo claro da mistura religião e política e suas implicações no Direito . Hitchock deixou para mim a impressão que se os discursos políticos e religiosos criminalizam mais do que inocentam, o conhecimento psicanalítico e a aplicação psiquiátrica tornam-se necessárias especialmente nos dias de hoje para o melhor e mais eficaz conhecimento do individuo , da sociedade e as superações de seus problemas.
Pode ter sido impressão minha mas conforme dizem, de Hitchcock tudo se espera!
Joaquim Ferreira
Excelente, principalmente porque nos filmes de Hitchcock a percepção a cada filme é renovada. Como declarei no momento em que você fez a observação, não havia atentado sobre a referência simbólica da cena. Hitchcock era metódico e perfeccionista. Sua mente era totalmente visual, como ele declarou em diversas ocasiões em entrevistas e artigos. Ele não fazia nenhuma tomada de planos sem pensar em cada detalhe. Repetia incansavelmente cada cena até exaurir atores, atrizes e equipe. Os objetos das cenas, a posição dos atores e câmaras eram minuciosamente acompanhados e sua interferência era total na elaboração do filme. Valeu!
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