quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Rio 40 Graus (Nelson Pereira dos Santos,1955)



Indicação ,apresentação do filme e texto: Mageca C. Gomes

 Rio 40 graus( Diretor Nelson Pereira dos Santos, 1955)
Musica tema – A VOZ DO MORRO – Ze Ketti – 1921 a 1999
Logo na apresentação do filme, lemos:
“Cidade de são Sebastião do Rio de Janeiro em RIO, 40 GRAUS”
 Portanto a intenção é apresentar o Rio em suas belezas e cruezas e logo de inicio nos leva a um passeio aéreo sobre a cidade, já mostrando as diferenças entre Zonas Norte e Sul, praia e favela - e também o TODO que é a cidade - e é nesse cenário que acontece a historia de 5 meninos pobres em um dia  de forte calor, que vão a 5 pontos turísticos do Rio vender amendoins (Maracanã, Corcovado, Copacabana, Pão de Açucar e Quinta da Boa Vista). A historia se dá com as situações vividas e sofridas por eles e os personagens secundários.
Existe uma clara influência do Neo Realismo Italiano que acontece no pós 2ª guerra e que por isso, busca uma forma mais simples e novas técnicas cinematográficas, como a filmagem fora de estúdio, a câmera na mão e uso de atores não profissionais. Diretores representantes no neo realismo italiano são:

Roberto Rosselini – Roma, cidade Aberta – 1945
Vittorio de Sica – Ladrões de Bicicleta – 1948, e
Luchino Visconti – A Terra Treme – 1948

Outro recurso muito usado é o ‘profundidade de campo’, onde uma cena ocorre em 1º plano e outra em 2º. Então a 1ª sai da cena e a 2ª se desenrola, e daí em diante.
DE modo geral o filme é bastante maniqueísta na medida em que carrega nas tintas ao mostrar a classe rica como cheia de defeitos e a pobre e preta o inverso.
Após ser finalizado em 1955, o filme foi aprovado pela censura, mas o chefe do Departamento Federal de Segurança Publica, Cel Menezes Cortes, o proibiu de novo para exibição em salas publicas. Então, diretor e atores correram para os jornais e organizaram sessões privadas chegando a reunir ,ais de 1 mil intelectuais, artistas e jornalistas, e foram eles que iniciaram uma grande discussão, discursos inflamados em jornais com muitos artigos publicados a favor da liberação do filme. Mais a frente políticos tb se envolveriam da discussão facilitando a liberação em dez/56.
Bom, o argumento do Cel  foi de que o filme ‘apresenta delinquentes, viciosos e marginais, cuja conduta é até certo ponto enaltecida’ e entre outras consideraçõesm dizer que o filme era totalmente inverídico até porque jamais se chegaria a 40 graus no Rio (rsss).
Alguns comentários da época diziam que  ‘Rio, 40 graus, deveria ser exibido nas escolas (e não apenas em salas de exibição) publicas’ (Zero Hora), e Jorge Amado publica um artigo em 27/09/55, dizendo:
“A proibição do chefe de Polícia toma como pretexto o filme mostrar “elementos marginais” ... e não apresentar conclusões morais. (os “elementos marginais” devem ser os vendedores de amendoins, os moradores das favelas, os jogadores de futebol, os trabalhadores, os Sócios das Escolas de Samba, pois esses são os heróis do filme). É evidente a ilegalidade da proibição e odioso o pretexto apresentado. Caso se mantenha tal proibição, não poderão mais os nossos cineastas mostrar o povo em seus filmes ... e o olho da câmara deve limitar-se aos grandes automóveis, aos milionários, aos senhores de champanhota e às senhoras do café-society.”
Toda essa argumentação serviu, entre outras coisas, para firmar o cinema nacional como uma arena política onde o povo, as injustiças, as mazelas teriam que ser mostrados para que todos soubessem e discutissem. Esse já era o entendimento da maioria dos cineastas mas não tinha ganhado as ruas ainda, algo que só aconteceu após essa briga ocupar as primeiras paginas de jornais durante meses.
Por fim, ao ser liberado, foi premiado em SP com o Premio Saci de Menção Especial para o diretor, e o Premio Governador do Estado, de Melhor Roteiro. No DF, recebe prêmios de melhor filme, Diretor e Argumento (Nelson Pereira dos Santos) e melhor Ator (Jece Valadão).


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