terça-feira, 28 de janeiro de 2020

CICLO DE FILMES "GRANDES DIRETORES"- WOODY ALLEN


PRECISAMOS FALAR DE WOODY ALLEN

Woody Allen vem protagonizando uma polêmica terrível há algum tempo com sua ex-mulher ,a atriz Mia Farrow .Acusado de abuso infantil, o cineasta teria assediado sexualmente sua filha adotiva , Dylan Farrow . É apropriado admirar a obra de Woody Allen, apesar dessa denuncia pairar sobre sua imagem ? Deveríamos boicotar seus trabalhos? Ou podemos admirar seus filmes sem entrar em méritos pessoais do diretor e de sua vida privada? Ao contrário de Roman Polanski,por exemplo, que foi condenado de fato, nunca houve uma investigação ou pelo menos não se encerrou, que tivesse sido levada a cabo no caso de Allen. Polanski, foi condenado por ter estuprado uma menina de 13 anos no final dos anos 1970 nos EUA mas livre até hoje por ter fugido para a Europa.O curioso , nesse caso, é que na época. Polanski teve em Mia Farrow uma de suas mais importantes defensoras. Conforme biografia do diretor parecia que "talvez o julgamento de Roman estivesse errado nesta ocasião ", mas ele foi " perseguido" em consequência", disse Mia Farrow . O problema é a espetacularização do fato. Mídias sociais não podem ser usadas como provas e como júri..A dificuldade de esclarecimento passa também pelo ritmo da justiça e sua morosidade seletiva por conta do dinheiro e influência , que podem ter um papel decisivo para amenizar a imagem de personalidades publicas famosas como o diretor nova-iorquino . Vivemos uma onda de levantamento de bandeiras para a causa de grupos pouco valorizados dentro e fora da indústria cinematográfica, notadamente de mulheres e negros. A partir dessa atmosfera de maior conscientização, fica cada vez mais claro como a permissiva indústria do cinema estadunidense  vai de encontro a um apagamento de relatos como o de Dylan Farrow. Contudo, esses casos precisam ir para julgamento para que sejam punidos e vítimas futuras possam se proteger através do precedente legalO caso Bill Cosby nos EUA de 2018 foi uma prova contundente de que a grande mídia e a justiça precisam estar atentas aos relatos de “supostos” sobreviventes de abuso sexual. Cosby foi acusado e condenado por inúmeras mulheres por crimes como estupro, agressão, assédio sexual e abuso sexual de menores. entre 1965 e 2018. Silenciadas por décadas, as vítimas de Cosby ganharam voz e levaram à justiça o crime cometido por um dos comediantes mais populares da televisão norte-americana . Antes disso tudo acontecer, no entanto, essas dezenas de vítimas foram silenciadas ou ridicularizadas por décadas. Redes sociais não podem , ser consideras como júri. Para isso, a organização racional e pública da justiça precisa ser mais ágil e menos "seletiva." Nesse cenário, é complexo julgar antecipadamente Woody Allen. O julgamento pessoal é moralmente mais fácil. Mas se ele é culpado, que seja condenado! E quantas grandes obras não foram produzidas por pessoas de caráter no mínimo duvidoso? O relato de abuso da atriz Tippi Hedren contra o diretor Alfred Hitchcock é um exemplo do quanto Hollywood tem um longo histórico de ignorar o problema.O ator e diretor Sean Penn não foi também o agressor de Madonna? E Charles Chaplin ? E o que dizer de Robert Downey Jr. e seu passado como um usuário de drogas quase irrecuperável? D.W. Grifith é considerado um dos mais influentes diretores da história do cinema e obrigatório para qualquer estudante de cinema .Grifith é conhecido pelo seu controverso filme "O Nascimento de uma Nação", e também pelo filme "Intolerância", de comprovado cunho racista e de relações com a Ku Klux Klan As obras desses e outros artistas são o objeto do gosto pelo cinema e não exatamente quem eles são como pessoas ao admirar suas filmografias. Conhecer a filmografia de Allen é simplesmente obrigatório para quem realmente quer entender o cinema .Sua importância na história do cinema é indiscutível. Woody Allen , por varias vezes, declarou que seus personagens, seus roteiros e suas reflexões em seus filmes, são pistas sobre sua vida pessoal .Ver “Annie Hall” (1977), “Interiores” (1978), “Manhattan” (1979), “A rosa púrpura do Cairo” (1985), 'Zelig(1983) “Hannah e suas irmãs” (1986), “Tiros na Broadway” (1994) "Crimes e Pecados (1989) ou “Meia noite em Paris” (2011), para citar alguns filmes do diretor, é um rito essencial para saber algo de básico sobre cinema, narrativa, construção de personagens , dramaturgia e cinema de autoria.

 
Joaquim Ferreira




[1] Polanski - uma Vida : Christopher Sandford;2007 (pp.302)

3 comentários:

  1. "O movimento #MeToo foi um acontecimento importante de denúncia do poder (masculino) implícito dentro da sexualidade contemporânea.(...) Mas a dinâmica cultural que o #MeToo desencadeia coincide com uma visão puritana que tem um papel importante na história do movimento feminista mundial, mas sobretudo na base do feminismo norte-americano. A visão puritana se manifesta na rejeição do que é ambíguo e impuro na comunicação erótica e na comunicação em geral.
    Naturalmente, frente às condições atuais de violência e de agressividade masculina, a onda de denúncias femininas é necessária e legítima, mas há um grande perigo cultural: a criminalização da ambiguidade, da sedução como jogo linguístico.O #MeToo é a expressão de uma cultura na qual a sexualidade perdeu toda a relação com a ironia da linguagem, onde a linguagem tem que ser “sim-sim, não-não”, onde o medo reciproco é a única maneira de evitar a violência. É um mundo infernal que corresponde perfeitamente ao inferno de um país onde o que é humano foi suprimido, porque a linguagem foi submetida a um código binário. A binarização da sensibilidade implica na identificação do erotismo com a pornografia.
    As denúncias contra o produtor Harvey Weinstein, que desencadearam a onda de crítica feminista nos Estados Unidos, têm que ser contextualizadas dentro da crise política da democracia norte americana, na crise da classe política democrática, no sistema de cumplicidade “clintoniana”. Quem era Weinstein, todos sabiam, mas o poder da democracia liberal e da mídia foram cúmplices de sua violência, que não era só sexual, mas também social, econômica e profissional.(...)O movimento “Ni una menos” da Argentina tem um caráter cultural profundamente diferente porque se baseia na ação coletiva das mulheres, não em uma abstrata afirmação de uma verdade e de uma pureza que não existe, mas na palavra da lei. " Franco Berardi , disponivel em https://outraspalavras.net/direita-assanhada/para-entender-o-fascismo-dos-impotentes/

    ResponderExcluir
  2. https://brasil.elpais.com/brasil/2018/05/07/opinion/1525711712_488892.html

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A Academia do Oscar fez justiça ao expulsar Polanski e Cosby por crimes contra as mulheres?

      https://brasil.elpais.com/brasil/2018/05/07/opinion/1525711712_488892.html

      Excluir