Indicação do filme: Celso Bonfim
Apresentação: Joaquim Ferreira
" ´O tempo não cura as feridas, mas alivia a dor e embaça a memória´.
Apresentação: Joaquim Ferreira
" ´O tempo não cura as feridas, mas alivia a dor e embaça a memória´.
A verdade é que o tempo não perdoa nada nem
ninguém. E perceber seus efeitos pode ser algo bem triste. A ele nada escapa,
embora todos vivam suas vidas sem se aperceber disso. É disso que fala A
Excêntrica Família de Antônia filme da diretora Marleen Gorris, que conta
a história de quatro gerações da família desta generosa, moderna, e terna
mulher, que viveu a vida de uma forma tão simples e afetuosa, que quando a hora
de partir chegou, ela simplesmente reuniu a família, despediu-se, fechou os
olhos, e morreu…
Na primeira cena do filme, escutamos os suspiros de
Antônia (Willeke van Ammelrooy) seguidos pelas lembranças de seu passado a
partir do momento em que retorna à sua cidade natal acompanhada de sua filha
Danielle (Els Dottermans) para visitar sua mãe, já no leito de morte. A partir
de então, Antônia passa a viver novamente ao lado das pessoas daquela cidade.
Percebe-se rapidamente que é uma mulher diferente das demais, acolhida pela
cidade, da mesma forma com que se convive “com uma colheita ruim, uma criança
deformada, ou um manifesto da onipresença divina”, segundo as palavras da
narradora.
Acompanhamos cinco gerações de uma família que vai
se constituindo a partir do amor e da generosidade da matriarca, que não hesita
em acolher de diversas formas os habitantes daquele pequeno vilarejo, dos tipos
mais diversos possíveis: desde uma mulher que uiva para a lua cheia, até um
casal de deficientes mentais que encontra o amor de uma forma inesperada e
improvável, passando por um filósofo pessimista, uma filha lésbica e uma neta
superdotada.
Belas cenas envolvendo a imaginação de Danielle,
como no momento em que se apaixona pela professora de sua filha (quando a vê
como a Vênus de Botticelli), uma bela maquiagem que demonstra fielmente a
passagem de tempo, e a variedade de sentimentos presentes na trama vividos
pelos personagens e compartilhados com o expectador. Tristeza, alegria, e um
estranho sentimento de melancolia, quando se percebe que embora a “missão” de
Antônia já fora cumprida, e que sua hora chegou.
“ A vida quer viver!”, diz Antônia a sua neta em
determinado momento do filme, e talvez seja esta mensagem que fica no final de
tudo: perdas, ganhos, tudo isso faz parte da nossa história. Cada encara de seu
jeito o fato de que a vida não tem muito sentido para além destas contingências
(de um lado há a celebração desta vida na família de Antônia, de outro a
negação desta pelo filósofo), mas a única verdade é que embora permeada por
vários fins e começos (o que é simbolizado no filme pelas constantes gestações
que vemos em cena), a vida nunca é conclusiva… É como se fôssemos pequenos
capítulos, ou quem sabe notas de pé de página desta grande epopéia que é o
existir…
Belo e comovente no seu último ato, A
Excêntrica Família de Antônia recebeu o Oscar de melhor filme estrangeiro
em 1995. Merecido prêmio para um filme excepcional. Assistam."
Disponivel em
http://www.cinemadebuteco.com.br/criticas/romance/excntrica-famlia-de-antnia-html/
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