sábado, 28 de janeiro de 2023

Dersu Uzala( Akira Kurosawa;1975)


 

Indicação do filme ,apresentação  e texto: Fábio Martins

(Japão/Rússia, 1975)
Direção: Akira Kurosawa
Roteiro: Akira Kurosawa, Yuri Nagibin
Direção de fotografia: Asakazu Nakai, Fyodor Dobronravov e Yuri Gantman
Elenco principal:  Yuri Solomin e Maxim Munzuk
Duração: 142 min.

O filme Dersu Uzala aborda o encontro de dois homens representantes de mundos em vias de extinção: dos naturalistas exploradores de regiões pouco conhecidas do mundo e dos povos originários das florestas e terras virgens.
O roteiro original se baseia no livro do capitão Vladimir Arseniev (1872-1930), um dos maiores exploradores e cartógrafos russos, que percorre a região oriental da Sibéria, para mapeá-la, enfrentando seus desafios como rios e corredeiras, montanhas, tempestades, nevascas, animais selvagens e florestas virgens.
Para realizar essa missão, conta com uma turma de soldados e, especialmente, com o guia nativo Dersu Uzala, habitante solitário da floresta, caçador, pertencente à etnia nanai/goldi, de origem mongol. Para Dersu a floresta é viva, habitada por seres mágicos e fantásticos, como rios, árvores, pedras, ervas e animais.
O filme é narrado em flashback e conta a história revelada no diário de Arseniev de uma amizade entre dois homens de mundos diversos, mas de princípios e caráter próximos. Poder-se-ia dizer que o filme trata de uma viagem iniciática, na qual aquele homem da floresta vai revelando o sentido da vida e sua conexão com a natureza para o cidadão urbano e “civilizado”.
Como observa o crítico Rubens Rodrigues: “Dersu tem impressionantes habilidades de viver em uma relação profunda com a natureza e uma espiritualidade que o guia de forma indiscutível. Arseniev tem um senso de responsabilidade, ética e sensibilidade que, numa trajetória quase metafísica, permitem enxergar a essência da jornada ao lado do caçador mongol”.
Apos um período de depressão e tentativa de suicídio, Akira Kurosawa lança-se no desafio de filmar no estrangeiro, convidado pelo estúdio Mosfilm da então União Soviética. Esse desafio compreende realizar um filme em cores, após ter filmado por mais de duas décadas em preto e branco, e com imagens captadas em monumentais 70 mm, capazes de combinar o granulado com a diversidade de cores fundamentais ao retrato das estações do ano.
Segundo o crítico Bruno Carmelo, o “filme está repleto de cenas que se assemelham a quadros impressionistas, perfeitamente integrados à trama, sem parecerem um exercício de vaidade da direção. O cineasta reúne vertentes de difícil conciliação: ele combina tanto o aspecto mais realista e documental das paisagens quanto o elemento mágico, reverencial, sublinhado pelos momentos pontuais de trilha sonora de orquestra em tom de fantasia …”
O filme é uma obra-prima sobre a amizade de dois homens de culturas diversas que se consolida entre contratempos e um longo caminho de expedição e conhecimento mútuo.
Podemos traçar um paralelo entre Dersu Uzala e o líder Yanomani, Davi Kopenawa, em A última floresta, de Luiz Bolognesi, pois ambos ensinam que devemos conviver em harmonia com a natureza e a floresta, respeitando-a para não perturbar a sua existência e liberar os maus espíritos.

Fábio Martins Faria


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