domingo, 16 de fevereiro de 2020

CICLO DE FILMES "GRANDES DIRETORES" - WOODY ALLEN :Crimes e Pecados (1989)



O oftalmologista Judah Rosenthal (Martin Landau), admirado pelas pessoas ao seu redor, mas às voltas com um problema: sua amante, Dolores (Anjelica Huston), contará tudo sobre o caso deles para sua esposa, Miriam (Claire Bloom), se ele não se divorciar. Judah começa então a pensar em soluções para evitar que sua vida seja destruída. O cineasta Cliff Stern (o Allen), cujo casamento está indo ladeira abaixo. Fracassado profissionalmente, ele se vê obrigado a aceitar a proposta do cunhado pedante, Lester (Alan Alda), para fazer um documentário sobre ele, apaixonando-se no processo pela produtora Halley Reed (Mia Farrow), com quem passa a discutir o projeto sobre o filósofo Louis Levy (Martin S. Bergmann) que está desenvolvendo.
Woody Allen propõe discussões interessantíssimas de cunhos moral e existencial, refletindo sobre nossos atos como definidores para que nos sintamos melhores ou piores enquanto indivíduos.
Allen inclui toques de psicanálise na história, numa espécie de personificação de id(desejos, vontades e pulsões primitivas) , ego("princípio da realidade";procura regular os impulsos do Id) e superego( representação dos ideais e valores morais e culturais do indivíduo; o que é ou não moralmente aceito.) . Isso ocorre mais especificamente quando o personagem discute em momentos distintos com seu irmão mafioso, Jack e o rabino Ben sobre o que fazer com Dolores. Se Judah é o ego, Ben funciona como superego, dando conselhos que indicam algo moralmente adequado, ao passo que Jack serve como o id, empurrando sem pudores o irmão para um lado impulsivo. E Ben ser estabelecido como figura de visão comprometida é uma sacada absolutamente genial de Allen, mostrando o estado do superego de Judah ao expor seu raciocínio com relação ao problema.
A maior parte da força de Crimes e Pecados reside nessas discussões centralizadas nos personagens, Intercalando as histórias de Judah e Cliff enquanto ocasionalmente insere alguns flashbacks, Allen desenvolve seus protagonistas de modo muito mais ágil e cativante, fazendo um pequeno quebra-cabeça com as vidas deles.
Com grandes atuações (destaque para Martin Landau), Crimes e Pecados é um filme no qual tudo se encaixa perfeitamente, o lado “dostoiévskiano”, é um trabalho que, inclusive, chega a dialogar com duas produções que o diretor realizaria quase duas décadas depois Match Point: Ponto Final (2005) , O Sonho de Cassandra (2007) O Homem Irracional(2014) . Surpreende pela boa dose de pessimismo com que encerra a realidade vista na tela. Afinal, como diz um personagem em determinado momento: “se você quer um final feliz, deveria assistir a um filme hollywoodiano”.

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