quinta-feira, 20 de junho de 2019

O Garoto da Bicicleta( Luc Dardenne, Jean-Pierre Dardenne;2001)




Indicação , apresentação do filme e texto: Reinaldo Silva


O Garoto da Bicicleta
Filme de 2011; 87 minutos-Diretores:Jean-Pierre Dardenne e Luc
Dardenne-Produção:Bélgica, França e Itália
Prêmio: Grande Prêmio de Júri-Festival de Cannes 2011
A mais recente e agradável surpresa que tive, em relação a cinema, foi ter conhecido os filmes dos irmãos Dardenne. Portanto, meu comentário será uma tremenda “tietagem”. Terei o cuidado em não contar o filme. A intenção é contribuir com algumas observações após assistir sete filmes dos diretores. A estética cinematográfica dos Dardenne está intimamente comprometida com o “realismo social” (para quem se interessa no final do texto veja nota*). Toda trama, os personagens, os movimentos da câmara, os diálogos, a fotografia ... apresentam inúmeros sintomas de um realismo que observa os relacionamentos humanos na sua complexidade, mas que são apresentados de maneira direta sem drama e apelos psicológicos. Por isso os afetos que emergem da tela possuem uma carga emocional sem as justificativas ou subterfúgios de caráter pessoal. Pouco ou nada sabemos sobre o passado dos personagens, também não é apresentado no decorrer dos filmes relatos sobre algum dado pessoal dos personagens. As questões nas quais estão envolvidos são apresentadas sem a recorrência de fatos vividos no passado. Por isso temos dificuldade em construir a dimensão psicológica dos personagens. É do presente que os filmes apresentam que temos que tirar as conclusões.
Duas características, que utilizadas em conjunto, aprofunda a nossa atenção: os planos-sequências e poucos diálogos. O efeito do plano sequência (ou plano prolongado) é a cena em que os olhos acompanhando a câmara, percorrem os espaços mais extensos num tempo prolongado e sem corte, como estivéssemos contemplando uma paisagem. Se isso for feito de forma ativa/participativa nossa visão observará detalhes porque associada aos poucos diálogos, faz com que possamos (sem desviar os olhos para legendas) observar os detalhes que envolvem as expressões faciais dos personagens, os locais ou cenários. Isso afeta diretamente as nossas emoções sobre personagens e situações presentes no filme.
Considerando o que escrevi acima, observe na narrativa do filme:
1) o desempenho de Cyril, a relação entre ele e seu pai, um tipo social de personagem que tomamos conhecimento em nosso dia a dia (de alguma maneira temos conhecimento da existência social desse personagem em nossa sociedade);
2) Samanta, cuja escolha e afeição por Cyril humaniza a visão de ausência de solidariedade;
3) As questões sociais desviantes, que comprometem Cyril em seu desespero por reconhecimento que lhe é negado; e a Vingança, sentimento proporções inimagináveis, mesmo quando a Lei se faz presente para punir o infrator.
Esses são alguns fatos abordados pelo “realismo social” dos diretores.
Ver e refletir sobre os filmes dos Dardenne é ter acesso aos valores morais presentes em qualquer sociedade. A Bélgica em seus aspectos morais não é diferente de outros paises. Essa é a observação que retirei dos filmes que assisti.
Perguntados sobre a opinião que cada um poderia ter sobre os filmes que fizeram, os diretores responderam que não é possível responder o que cada um pensa neste caso porque os filmes foram feitos com plena concordância. Pergunta maliciosa respondida com inteligência.
Os filmes dos Dardenne não terminam com “final feliz” e nem em “tragédia”. O trabalho dos atores é exemplar, e nos seus filmes existe uma equipe de atores que praticamente participam dos filmes que vi. Também não existe uma mensagem de caráter moral sobre como os fatos deveriam ser, ou seja, não existe nenhuma “lição de moral” a ser transmitida. O realismo social dos filmes dos diretores se assemelha mais com a seguinte imagem (se isso for possível): “a vida é tal como se apresenta, as conseqüências das suas ações são inevitáveis, agir de acordo com os seus afetos e seguir em frente, porque em todas sociedades em que houver humanos em suas relações a moral estará sempre presente”.
Abraço
Reinaldo
Nota*: Existem vários movimentos estéticos desde o início do cinema. Cito alguns exemplos: expressionismo, neo-realismo, realismo italiano, cinema novo, realismo social etc. Cada um desses movimentos postulam maneiras diferentes de narrativas, ou seja, como a estória de um filme deve ser construída no que diz respeito ao conteúdo e forma.
Uma outra questão que acompanha o filme desde o ínicio diz respeito a noção de realidade. Se fosse entrar neste tema o comentário que me proponho fazer seria extenso, que por si só vale uma discussão a parte. A minha afirmação é de que em nenhum filme, a estória narrada em imagens e sons reflete a realidade. Todo filme é uma ficção, obra coletiva elaborada por profissionais, que utilizam tecnologia e saber apropriado, sob a orientação do diretor, a quem cabe a responsabilidade pelo produto
final – o filme.




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