domingo, 13 de novembro de 2016

Quanto Vale ou e Por Quilo? ( 2005;Sérgio Bianchi)

                      
Indicação e apresentação do filme: Joaquim Ferreira 
Texto: Reinaldo Silva

No meu entender Sérgio Bianchi é atualmente o diretor mais inovador do cinema brasileiro. As questões que aborda são atuais e seus filmes tratam questões problemáticas sobre políticas sociais. Ele não faz concessões. Sua linguagem cinematográfica é crua.
Entende-se por linguagem de um filme o conjunto das imagens associadas aos diálogos, aos planos e demais recursos técnicos utilizados na elaboração de um filme.
Neste filme, assim como no seu filme anterior (Cronicamente Inviável) o altruísmo, a solidariedade e o conjunto de valores morais existentes na sociedade brasileira e as relações sociais que derivam da prática política não são ações desinteressadas. Em um determinado momento do filme uma personagem socialite exclama que fazer caridade “eleva o espírito”. Em outro momento expõe de forma didática o funcionamento do que é conhecido como “dádiva da caridade”, ou seja, a personagem financia uma festa deixando em aberto como irá cobrar no futuro a dívida. São vários os exemplos sobre o funcionamento do cinismo atua em nossa sociedade, travestido de solidariedade e altruísmo.
A maioria dos diálogos em cada cena expõe o jogo de interesse, o uso do marketing político como ferramenta de convencimento das políticas sociais. Como disse acima, o diretor não faz concessões e não é politicamente correto. Por exemplo, ao expor problemas sobre os critérios étnicos utilizados na política social de “cotas raciais”. Qual o percentual de cor negra para conceder o benefício? O critério é valido numa sociedade com forte índice de miscigenação étnica?
O roteiro é uma ponte entre a adaptação do conto Pai contra Mãe de Machado de Assis de 1906, e documentos existentes no Arquivo Nacional sobre o período da escravidão no Brasil.
Qual foi a intenção do diretor?
 No meu entender:
1) Apresentar uma tese sobre as condições mercadológicas atuais da exploração da miséria, por empresas autorizadas a substituir o Estado no que diz respeito às políticas públicas. O seu alvo são as ONGS.
2)  O prolongamento das estruturas políticas de dominação, em que as oligarquias se revezam no poder utilizando o marketing como prática de convencimento.
3) Os interesses dos interessados, ou melhor, dos beneficiados, em relação a continuidade e manutenção da estrutura de dominação da oligarquias.
4) O “navio negreiro” aumentou com a entrada dos proletários advindos do processo de industrialização, que serão alçados como parceiros em novos empreendimentos.
5) Com o desenvolvimento das forças produtivas do capitalismo, as relações de produção aumentaram e diversificou a massa dos explorados. A dinâmica da exclusão social no Brasil foi adquirindo contornos perversos, encobrindo formas de exploração atualmente sofisticada, onde os explorados surgem como matéria prima de interesses econômicos. O grande aliado desses interesses é o Estado neoliberal.
6)  A miséria de segmentos da sociedade é disputada por ávidos concorrentes, tornaram-se objetos de desejo de grupos nacionais e transnacionais, inaugurando uma nova fonte de acumulação de capital, extraída dos impostos recolhidos pelo Estado.
            Esses são apenas algumas “questões bombas” abordadas pelo filme.
(Reinaldo Silva)

2 comentários:

  1. Este filme nos desperta para a atualidade da questão da desigualdade, seja racial,seja econômica.E tambem para a eterna exploração dos cidadãos de segunda classe vistos como fonte de recursos para os capitalistas,Excelente filme,

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  2. Excelente filme que aborda a realidade atual através de uma analise comparativa com o período escravocrata.Parabéns!

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