Indicação e apresentação do filme: Joaquim Ferreira
Texto: Reinaldo Silva
No meu entender Sérgio Bianchi é
atualmente o diretor mais inovador do cinema brasileiro. As questões que aborda
são atuais e seus filmes tratam questões problemáticas sobre políticas sociais.
Ele não faz concessões. Sua linguagem cinematográfica é crua.
Entende-se por linguagem de um
filme o conjunto das imagens associadas aos diálogos, aos planos e demais
recursos técnicos utilizados na elaboração de um filme.
Neste filme, assim como no seu
filme anterior (Cronicamente Inviável) o altruísmo, a solidariedade e o
conjunto de valores morais existentes na sociedade brasileira e as relações
sociais que derivam da prática política não são ações desinteressadas. Em um
determinado momento do filme uma personagem socialite exclama que fazer
caridade “eleva o espírito”. Em outro momento expõe de forma didática o funcionamento
do que é conhecido como “dádiva da caridade”, ou seja, a personagem financia
uma festa deixando em aberto como irá cobrar no futuro a dívida. São vários os
exemplos sobre o funcionamento do cinismo atua em nossa sociedade, travestido
de solidariedade e altruísmo.
A maioria dos diálogos em cada
cena expõe o jogo de interesse, o uso do marketing político como ferramenta de
convencimento das políticas sociais. Como disse acima, o diretor não faz
concessões e não é politicamente correto. Por exemplo, ao expor problemas sobre
os critérios étnicos utilizados na política social de “cotas raciais”. Qual o
percentual de cor negra para conceder o benefício? O critério é valido numa
sociedade com forte índice de miscigenação étnica?
O roteiro é uma ponte entre a
adaptação do conto Pai contra Mãe de Machado de Assis de 1906, e documentos
existentes no Arquivo Nacional sobre o período da escravidão no Brasil.
Qual foi a intenção do diretor?
No meu entender:
No meu entender:
1) Apresentar uma tese sobre as condições mercadológicas atuais
da exploração da miséria, por empresas autorizadas a substituir o Estado no que
diz respeito às políticas públicas. O seu alvo são as ONGS.
2) O prolongamento das estruturas políticas de dominação,
em que as oligarquias se revezam no poder utilizando o marketing como prática
de convencimento.
3) Os interesses dos interessados, ou melhor, dos
beneficiados, em relação a continuidade e manutenção da estrutura de dominação da
oligarquias.
4) O “navio negreiro” aumentou com a entrada dos
proletários advindos do processo de industrialização, que serão alçados como
parceiros em novos empreendimentos.
5) Com o desenvolvimento das forças produtivas do
capitalismo, as relações de produção aumentaram e diversificou a massa dos
explorados. A dinâmica da exclusão social no Brasil foi adquirindo contornos
perversos, encobrindo formas de exploração atualmente sofisticada, onde os
explorados surgem como matéria prima de interesses econômicos. O grande aliado
desses interesses é o Estado neoliberal.
6) A miséria de segmentos da sociedade é disputada por
ávidos concorrentes, tornaram-se objetos de desejo de grupos nacionais e transnacionais,
inaugurando uma nova fonte de acumulação de capital, extraída dos impostos
recolhidos pelo Estado.
Esses são apenas algumas
“questões bombas” abordadas pelo filme.
(Reinaldo Silva)
Este filme nos desperta para a atualidade da questão da desigualdade, seja racial,seja econômica.E tambem para a eterna exploração dos cidadãos de segunda classe vistos como fonte de recursos para os capitalistas,Excelente filme,
ResponderExcluirExcelente filme que aborda a realidade atual através de uma analise comparativa com o período escravocrata.Parabéns!
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