GETÚLIO
BRASIL|2014|Direção:João Jardim|100 min
O filme percorre a intimidade dos 19 últimos dias de vida de Getúlio Vargas, período em que ele fica isolado no palácio do Catete, enquanto seus opositores o acusam de ser o mandante do atentado da rua Tonelero contra o jornalista Carlos Lacerda.
APRESENTAÇÃO DA SESSÃO:
HISTORIADOR INOÃ PIERRE CARVALHO URBINATI
A figura política de Getúlio Vargas é possivelmente a mais ambígua e controvertida de toda a história do Brasil.
Getúlio oscilou entre popular e elitizado, democrático e ditatorial, trivial e aristocrático, nacionalista-trabalhista e entreguista-industrialista. Foi o ‘pai dos pobres’ e a ‘mãe dos ricos’, segundo os anseios e as necessidades para conquistar, manter e aumentar o seu poder. Getúlio passou da situação de líder do movimento “revolucionário” de 1930 e Presidente constitucional até 1934 à condição de ditador durante o Estado Novo em 1937. Com o fim do Estado Novo em 1945 e após um retiro de cinco anos, Vargas volta ao cargo de Presidente da República eleito pelo voto direto. O desfecho trágico da vida desse personagem com o suicídio em agosto de 1954, talvez complique ainda mais o entendimento do caráter desse personagem.
Mesmo assim Getúlio Vargas deixou um legado baseado na sua condição de líder populista e grande articulador político, responsável em republicanizar, ou seja, politizar o Brasil do século XX.
Embora todos os povos tenham seus heróis e seu panteão cívico, há no Brasil uma cultura histórica personalista bastante forte. Todo político é um herói em potencial. E em cima desse herói são colocadas expectativas pela solução de séculos de problemas de ordem política, social e econômica. E ao se estudar a “Era Vargas”, devemos deixar de lado a criação de mitos, messianismos e qualquer crença que dê a entender que o futuro de um país está nas mãos de um único homem, pois tal postura ataca a necessária percepção de que é a sociedade ou a coletividade que constrói a nação.
Assim, não devemos estudar a História destacando apenas as realizações individuais do personagem. Certos personagens destacaram-se por habilidades intelectuais especificas: a oratória, a capacidade de negociar politicamente ou por um domínio da arte da guerra, dentre outros exemplos. Porém, em determinadas circunstâncias, a capacidade do personagem se destaca e se não modifica a orientação geral dos fatos, pelos menos faz variar a orientação especifica de determinado contexto histórico.
A exibição cineclubista do filme “Getúlio” quer contribuir para tal entendimento provocando o debate, mas sem reduzi-lo as categorias simplistas de Vargas como “herói” ou “vilão”, e sim buscando a compreensão de sua personalidade e motivações, de forma abrangente e contextualizada junto aos elementos históricos e políticos da complexa realidade republicana brasileira.
Joaquim Ferreira
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