quarta-feira, 22 de maio de 2024

A Sala dos Professores (Ilker Çatak;2023)


 A SALA DOS PROFESSORES 
(Das Lehrerzimmer)
Alemanha|2023|98 min| Direção: Ilker Çatak.
Carla é uma professora recém-chegada à escola em que trabalha. Assim que ela chega ao local, percebe que há alguns roubos acontecendo. Ela não aceita a situação, começa a investigar o fato por conta própria, mas se depara com a falta de compreensão, principalmente entre seus colegas professores.



Apesar da narrativa policialesca do filme, “ele em nenhum momento deixa de falar da escola. Ao contrário de outros filmes sobre educação, com personagens com viés romantizados e, muitas vezes, heroicos, o filme de ontem propõe uma narrativa que infelizmente é a incompetência de grande parte dos profissionais de educação para lidar com a escola em si.   A escola não pode se fechar em muros, não pode se arrogar como instituição social infalível. Essa pretensa infalibilidade acontece há muito tempo e muito por conta de diretores e professores, realidade que observei muito no tempo que trabalhei em sala de aula. E eu me incluo nesse quadro.  Isso gera angústia, mas felizmente temos a disposição e a oportunidade de pensar, de polemizar e debater para buscar o consenso, o que convenhamos não é regra geral especificamente no caso dos espaços escolares E autocrítica para tudo é importante e obviamente a profissional.
O filme ‘A Sala dos Professores”, a meu ver, demonstra a incapacidade, por comodismo ou despreparo, de boa parte dos profissionais de educação daquela escola em lidar com tanta diversidade presente na escola que afinal é um microcosmo da sociedade. Mesmo relativizando e lembrando que o modelo exibido no filme é o modelo alemão de escola, a situação basicamente se assemelha em outros países e culturas. 
O filme pergunta como lidar com a pós-verdade num ambiente escolar.  E   com a intolerância, a xenofobia e o bullying. O professor deveria educar nesse sentido, mas não foi o que o filme mostrou! Não por que o diretor não quis mostrar, mas porquê, no meu entendimento, seria mais urgente e real mostrar como os   professores lidam com essas questões, a exceção da protagonista Carla que em pelo menos duas cenas do filme lembra aos colegas professores o oficio de educar. Ela enfrenta a rebeldia, a violência, em uma luta por justiça na era da pós-verdade mesmo diante uma comunidade escolar dividida.  Mas a própria protagonista erra também. A gravação do vídeo que ela faz no início do filme mostra que com toda à sua preocupação pedagógica ela insere-se no mundo, um  mundo difícil de superar , a tal “ modernidade liquida, a pós-verdade, Seu erro desencadeia toda a trama. Não é afirmar que um erro justifica o outro, mas na indefinição da pós -verdade.na qual a verdade fica para trás, os fatos têm menos valor, significância ou influência do que apelos à emoção e a crenças pessoais, o que resulta em manipulação das opiniões públicas e individuais. E num ambiente incerto e manipulável, acredito, a moralidade reconstrói-se. 
O viés policialesco, que deveria se limitar ao filme, infelizmente é a alternativa para “resolver” o problema da indisciplina do garoto Oskar, Há muito tempo a escola é para-raios das disfunções de outras instituições. Não deveria ser assim. Mas como equilibrar as relações família, escola, religião política, etc, sem que uma prevaleça sobre a outra? E os “muros da escola” acabam colocando também a escola como disfuncional. E mais do que muro tem a parede que cria uma zona de conforto para os professores.
E é sempre bom lembrar que, conforme Paulo Freire afirmou, só a educação não muda o mundo. Ela muda as pessoas que são  agentes da mudança .

Joaquim Ferreira


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