quarta-feira, 7 de setembro de 2022

O Labirinto do Fauno (Guillermo del Toro;2006)


Indicação e Apresentação  do Filme:João Miguel




Considerações sobre o filme "O Labirinto do Fauno".

Exibido ontem pelo Lumière-Loucos por Cinema/Cineclube ,o "Labirinto do Fauno" é certamente um filme que deixa impressões distintas a cada exibição.É uma das condições,a meu ver,para que um filme torne-se excepcional.Sua atualidade política,sua âncora histórica ,o recurso a dialética e a arte ,colocam o filme de Guillermo Del Toro como fundamentais para a compreensão do cinema contemporâneo.É o que  vários críticos classificam como "os novos clássicos". Enquadrado equivocadamente como "filme de terror ",o terror narrativo e condutor do filme é o terror fascista.Ambientado em 1944 ,no fim da Guerra Civil Espanhola,Del Toro utiliza-se dessa âncora histórica para aproximar afantasia e a imaginação à difícil realidade da menina Ofélia , protagonista que desenvolve uma percepção original diante do "monstro" fascista.Orfã de pai e tendo que acompanhar a mãe para que esta componha sua "segunda família "após o casamento  com o capitão Vidal, Ofélia cria uma realidade imaginativa que, paralela a narrativa histórica da Guerra Civil Espanhola, tenta atenuar sua condição existencial. Ofélia sente-se abandonada, sua mãe está doente , está grávida e recusa-se a chamar  o capitão de pai.A partir daí,Del Toro , ao classificar o filme como "um conto de fadas para adultos", constrói a narrativa redimensionando a tradição dos contos de fada que, invariavelmente, opõe o bem e o mal numa luta que no final é favorável ao primeiro.Del Toro, brilhante ao usar esse recurso,trabalha com o duplo da condição bem x mal,ao mostrar as realidades de Ofélia  e do Capitão Vidal buscando o sentido para ambos naquele  momento vivido.Para Ofélia, é buscar a saída e o conforto diante da situação pela imaginação infantil .Para o Capitão Vidal,a saída é obedecer e combater. As cenas de violência destacadas pela atuação do Capitão,além de tecnicamente muito bem feitas, são necessárias  e com o exagero de quem precisa mostrar e denunciar a violência fascista ,seja lá o momento histórico que ela exista .Caso contrário,o  diretor romantizaria a realidade e abandonaria a História.Como colocou o João Miguel que apresentou o filme, não é a típica violência "hollywoodiana" mas a violência existente na História.

Assim,Ofélia e o Capitão possuem duas crenças distintas , fés inabaláveis ,bem e mal paralelos que no fim do filme encontram-se,tangenciam-se. E nesse sentido,a montagem do filme é excepcional , reforça antagonismos  e analogias e destaca a realidade dialética.Tive a percepção também que Del Toro, além da necessária crítica ao franquismo,critica também a monarquia espanhola,que por ser monarquia  já é anacrônica.Afinal o Fauno parece uma porta voz da família real espanhola  ao considerar Ofélia como uma princesa.E a saída do labirinto é uma proclamação ao sacrifício inevitável da luta política e seu exemplo e necessidade para gerações futuras-Ofelia e seu irmãozinho - e da indicação de possibilidade do triunfo sobre o fascismo - a cena final sobre o Capitão Vidal.Assim,bem e mal não desaparecem mas,na sua luta  criam o entendimento e o  olhar diferentes sobre a realidade que é  também o recurso contido na função social da arte.Assim o cinema como tal cumpre esse papel sobretudo com filmes como o "Labirinto do Fauno "

Joaquim Ferreira

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