Apresentação do filme e Texto: Joaquim Ferreira
Como apresentar um filme de Chaplin sem ser redundante? Diante de seus filmes, como falar de montagem, enquadramento, ritmo, trilha sonora, fotografia, ,sendo original? Quantos e quantos filmes analisamos, assistimos, compartilhamos e não percebíamos que falávamos de Chaplin? Ao falar de cinema, falamos implicitamente em Chaplin ,Falamos em genialidade em atualidade e em poesia , aquela tipifica o homem com seus sentimentos da razão objetiva das coisas simples que podem mudar o mudo. Até o choro em Chaplin é diferente: a lagrima contorna a boca,a origem do riso. Temos o enlace da comédia com a tragédia equilibradas:temos a vida como ela é! Não é a poesia da emoção barata e da superficialidade lacrimogênea.Chaplin é "poesia de raiz" (se permitem o termo atualíssimo). E se o cinema não consegue mais falar de Chaplin sem lugares-comuns, sem ser redundante, recorro a Carlos Drummond de Andrade, o mineiro que escrevia quieto. Poeta não precisa ser espalhafatoso e assim como Chaplin, Drummond , não era .Na sua vasta obra, dedicou linhas e mais linhas a Carlitos ,a Chaplin , enfim ,ao vagabundo. Drummond é o poeta do amor que" bate na aorta", e na falta do amor, e da frustrada tentativa do amor, sugere " Meu bem, não chores, hoje tem filme de Carlito" . E o consolo vem através de um " filme de 16 milímetros [que] entra em casa por um dia alugado e com ele a graça de existir mesmo entre os equívocos, o medo, a solitude mais solita. Agora é confidencial o teu ensino, pessoa por pessoa, ternura por ternura, e desligado de ti e da rede internacional de cinemas, o mito cresce. O mito cresce, Chaplin, a nossos olhos Velho Chaplin, a vida está apenas alvorecendo e as crianças do mundo te saúdam. " .
Charles Chaplin, ao balançar sua bengala, desloca as possibilidades e trilha um caminho diferente do senso-comum . Como Drummond disse, - " Vai, Carlos! Ser gauche na vida" ! ..um homem do povo.
Canto ao Homem do Povo - Charles Chaplin(Trecho) .
" Era preciso que um poeta brasileiro, não dos maiores, porém dos mais expostos à galhofa, girando um pouco em tua atmosfera ou nela aspirando a viver como na poética e essencial atmosfera dos sonhos lúcidos, era preciso que esse pequeno cantor teimoso,de ritmos elementares, vindo da cidadezinha do interior onde nem sempre se usa gravatas mas todos são extremamente polidos e a opressão é detestada, se bem que o heroísmo se banhe em ironia, era preciso que um antigo rapaz de vinte anos, preso à tua pantomima por filamentos de ternura e riso dispersos no tempo, viesse recompô-los e, homem maduro, te visitasse para dizer-te algumas coisas, sobcolor de poema. Para dizer-te como os brasileiros te amam e que nisso, como em tudo mais, nossa gente se parece com qualquer gente do mundo - inclusive os pequenos judeus de bengalinha e chapéu-coco, sapatos compridos, olhos melancólicos, vagabundos que o mundo repeliu, mas zombam e vivem nos filmes, nas ruas tortas com tabuletas: Fábrica, Barbeiro, Polícia, e vencem a fome, iludem a brutalidade, prolongam o amor como um segredo dito no ouvido de um homem do povo caído na rua.(..)Falam por mim os abandonados da justiça, os simples de coração, os parias, os falidos, os mutilados, os deficientes, os indecisos, os líricos, os cismarentos, os irresponsáveis, os pueris, os cariciosos, os loucos e os patéticos.Ó Carlito, meu e nosso amigo, teus sapatos e teu bigode caminham numa estrada de pó e de esperança." ( A Rosa do Povo ,1945)
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