domingo, 8 de outubro de 2017

O Encouraçado Potemkim(1925;Serguei Eisenstein)



Apresentação do filme: Ricardo Costa

O Encouraçado Potemkin (1925)
Sergei Eisenstein (1898 – 1948), almejava transformar o cinema de entretenimento vazio em ferramenta política. Para Vladimir Lenin, líder da revolução socialista, o cinema era a mais importante das artes, e foi logo estatizado em 1919 .
Filmes  como A Greve (1924) e Outubro (1928), transmitiram o  espírito revolucionário de sua época. Alexandre Nevsky (1938), sobre as invasões germânicas durante a Idade Média, incentivou os soviéticos a resistirem ao ataque nazista na Segunda Guerra Mundial.
Sua obra-prima incontestável é  O Encouraçado Potemkin, um dos filmes mais influentes de todos os tempos, produzido em 1925 para comemorar os vinte anos do levante ocorrido na cidade de Odessa contra o Czar Nicolau II.,evento considerado uma espécie de ensaio para a revolução de 1917. 
O enredo do filme é a  dramatização de um  grupo de marinheiros, retornando à Rússia após serem derrotados em uma guerra contra o Japão, que se amotinam em função da carne podre servida na ração. Lutam contra os oficiais. A insurreição espalha-se pela cidade e recebe apoio popular. O povo lhes doa alimentos. O governo czarista lança o exército contra a multidão de rebeldes. Ocorre um massacre de civis. O encouraçado bombardeia o teatro da cidade (QG dos generais inimigos e templo da arte burguesa). Ao amanhecer, os amotinados recebem apoio de outros navios e, juntos, navegam rumo ao futuro, rumo à revolução. O verdadeiro protagonista de “O Encouraçado Potemkin” é o próprio navio: símbolo do coletivo humano construído na transição de uma época para outra, resumindo o lema do filme (um por todos e todos por um), que atinge a tensão máxima entre o épico e a tragédia. O filme apresenta características do cinema mudo tradicional, com diálogos na tela, imagens em preto-e-branco e a trilha sonora (de Edmund Meisel); (sempre pontuando as cenas, com um tom sombrio nos momentos dramáticos e acordes mais agitados na tensa cena da escadaria).
Para contar essa história, o diretor russo fez uso de recursos até então inéditos. o que chamaria de “montagem das atrações”. Eisenstein explicou que sua teoria cinematográfica apropriava-se da dialética marxista: propunha o choque da tese e da antítese, sua superação, gerando uma síntese. Os cortes são abruptos: ponto, contraponto, fusão. Para ele, o impacto provocado por um filme acontecia em função do ritmo, não do enredo narrado. Um dos pontos chave para o estabelecimento da moderna técnica da narrativa cinematográfica foram os estudos da escola de cinema do mundo, a Escola de Filmes de Moscou (VGIK;1919). Um de seus professores, Lev Kuleshov, professor de Einsenstein. O chamado "Efeito Kuleshov" que seria a base da chamada Teoria da Montagem, que defende a justaposição de uma imagem com outra provoca um conflito cujo resultado é uma terceira idéia distinta, que acaba sendo maior que a soma individual de suas partes (processo da dialética). O “efeito Kulechov mostrou que a arte cinematográfica é, sobretudo, montagem. A famosa quarta parte de “O Encouraçado Potemkin”, conhecida como “a escadaria de Odessa”, é um exemplo da emoção artística que a combinação de plano e montagem, característica do cineasta. Contrariando a técnica da época, Eisentsein força os planos, transformando-os ao colocá-los ao lado de outros aparentemente incompatíveis (“montagem de atrações”), o que faz com que o choque de duas imagens crie, na psicologia do espectador, uma nova síntese que foge das imagens apresentadas e se apresenta na dialética da montagem. Em sua estréia “O Encouraçado Potemkin” teve um sucesso indiscutível. Eisenstein tinha, então, apenas 27 anos. Apesar do sucesso, poucos países assistiram o filme: na França, por exemplo, só foi exibido publicamente em 1953, no Japão em 1959 e na Itália em 1960. Na Espanha, esteve proibido até a morte do ditador general Francisco Franco, em 1975. Nos Estados Unidos, após corte de cerca de um terço do filme, “O Encouraçado Potemkin” estreou em 1926, fazendo um sucesso tão grande que os estúdios americanos convidaram Eisenstein a filmar nos Estados Unidos.
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120 anos de Eisenstein: cinema é revolução
26/01/2018
Por Joaquim Ferreira*

https://pcb.org.br/portal2/18510/120-anos-de-eisenstein-cinema-e-revolucao

A Revolução Soviética de 1917 é um dos acontecimentos mais marcantes do século XX. As dimensões sociais do antigo Império Russo foram solapadas e redimensionadas em torno do ideal socialista.O cinema teve a oportunidade não só de acompanhar a mudança, mas também de ele próprio filmar essa mudança com a eclosão de novas formas e conceitos estéticos. Nasce o cinema como arma de agitação política. Para Vladimir Lenin, o cinema era a mais importante das artes e foi logo colocado a serviço da revolução com a criação do Vsesoyuznyi Gosudarstvenyi Institut Kinematografii (VGIK), ou Instituto de Cinematografia de Todos os Estados da União, em 1919, a despeito das dificuldades encontradas durante a Guerra Contrarrevolucionária (1918-1921). Foi a primeira escola no mundo a profissionalizar a prática do cinema, e um de seus primeiro alunos foi Serguei Eisenstein, que transformou o cinema de entretenimento vazio em ferramenta política.Nascido em 22 de janeiro de 1898 e falecido em 11 de fevereiro de 1948, Esisenstein revolucionou a linguagem cinematográfica e colocou a sua arte a serviço da Revolução Bolchevique. Filmes como “A Greve” (1924) e “Outubro” (1928) transmitiram o espírito revolucionário de sua época. Outro de seus filmes, “Alexandre Nevsky” (1938), sobre as invasões dos cavaleiros teutônicos durante a Idade Média, incentivou os soviéticos a resistirem ao ataque nazista na Segunda Guerra Mundial. No entanto, é com “O Encouraçado Potemkin”(1925) que Eisenstein revela todo a sua competência técnica e engajamento político , mostrando que arte e política podiam andar juntas. O ” Encouraçado Potemkin” registrou os vinte anos do levante ocorrido na cidade de Odessa contra o Czar Nicolau I durante as lutas de 1905, movimento considerado como o “Ensaio Geral” para a Revolução de 1917. O filme é considerado uma das melhores obras da história do cinema, e Eisenstein passou a figurar como um dos mais influentes diretores de todos os tempos.No “Encouraçado Potemkin”, o ator principal é a própria tripulação do navio, símbolo do coletivo humano construído na transição de uma época para outra. A injunção de um herói coletivo em detrimento do vulgar herói individual do cinema norte-americano e a indicação dos inimigos de classe do proletariado (burguesia, oficiais militares, o czarismo, a Igreja Ortodoxa) são elementos que constroem a obra que é matriz do cinema engajado e revolucionário. O filme oferece elementos do cinema mudo tradicional, com intertítulos entre as cenas, imagens em preto-e-branco e trilha sonora pontuando o ritmo ora sombrio, ora mais agitado, como a célebre cena da escadaria de Odessa. A famosa cena da escadaria é um exemplo da emoção artística originada da combinação de plano e montagem, característica de Eisenstein.Para contar essa história, o diretor soviético fez uso de recursos até então inéditos, a exemplo do “Efeito Kulechov”, derivado de Lev Kulechov, professor de Serguei Einsenstein na Escola de Filmes de Moscou. Eisenstein explicou que sua teoria cinematográfica – a “montagem das atrações” – apropriava-se da dialética marxista: propunha o choque da tese e da antítese, sua superação e geração de uma síntese. Os cortes são abruptos: ponto, contraponto, fusão, enquadramentos intimistas alternados com planos gerais radicais. Eisenstein considerava o impacto provocado por um filme pelo ritmo e não propriamente pelo enredo narrado. Afinal, o enredo – a História – estava no plano real, matéria-prima da filmagem. O chamado “Efeito Kulechov” mostrou que a arte cinematográfica é, sobretudo, montagem, mas sempre com a referência a um ponto e a um objetivo totalmente distintos de narrativas diletantes, fugidias, tão comuns nas produções eivadas de pós-modernismo.A obra de Serguei Eisenstein, é verdade, merece mais estudos, exibições, criticas e análises. Contudo, as bases de um cinema engajado e político que abarque todas as dimensões da vida social foram lançadas. No centenário da Revolução Russa registramos também que o cinema tem um poder de transformação quando dialeticamente relaciona-se com a realidade, compartilhando emoções, impressões, desejos, expectativas e esperanças. O cinema é uma das mais valiosas formas de comunicação de massa, um dos meios mais eficazes para a difusão de mensagens. Nesse sentido, o cinema une e socializa, possibilitando reflexão para apreender a realidade e mudá-la. Assim “.. o cinema é único porque, no sentido pleno do termo, é um filho do socialismo… Num único ato cinematográfico, o filme funde o povo a um indivíduo, uma cidade a um país. Funde-os mediante mudança desconcertante e transferência, mediante o escorrer de uma lágrima…” (Serguei Eisenstein, 1939)

*Militante do PCB e coordenador do Cineclube Lumière- loucos por Cinema, Lumiar, Nova Friburgo-RJ.


120 anos de Eisenstein: cinema é revolução

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