Apresentação do filme e roda de conversa com o roteirista Ismael Machado.
SOLDADOS DO
ARAGUAIA: EXPERIÊNCIA FÍLMICA E SENSORIAL
Elias Rodrigues chora ao lembrar a cena.No auge da Guerrilha
do Araguaia, foi obrigado a prender o próprio pai em Marabá, sudeste do
Pará.Corriam os anos 70 e a ação subversiva do pai do então soldado Elias era
manter em casa livros considerados subversivos.Durante dois dias, ele foi
submetido a torturas na famigerada Casa Azul sem que o filho pudesse fazer qualquer
coisa..Depoimentos como esse estão contidos no documentário " Soldados do
Araguaia", mais recente longa da produtora carioca Giros Projetos
Audiovisuais..O filme foi convidado para a 41ª Mostra Internacional de Cinema
de São Paulo em outubro de 2017, com excelente recepção.O documentário também
obteve o terceiro lugar no Prêmio Nacional de Direitos Humanos(categoria
documentário) em Porto Alegre, dezembro passado.
Com roteiro de Ismael Machado e Belisário Franca, dirigido
por Franca- que também assina Menino 23- e fotografia de Mário França, o longa
tem,o apoio do Cinebrasil TV e aborda de forma inédita o ainda nebuloso
episodio da Guerrilha do Araguaia.Dessa vez o relato é feito pelos próprios soldados de baixa patente que
precisaram combater guerrilheiros nas matas do Araguaia sem que houvesse preparo
adequado para isso.E pior,foram submetidos a praticamente os mesmo tipos de
tortura e humilhações que deles se queriam no confronto com os combatentes
esquerdistas.
Há relatos de soldados que se tornaram mutilados físicos e
mentais após o conflito,Praticamente todos foram abandonados à própria sorte
logo que a Guerrilha foi exterminada.Sem amparo econômico e psicológico, restaram
aos soldados os traumas e seqüelas de uma campanha militar inglória.
O pontapé inicial para o documentário foi uma série de
reportagens feitas por Ismael Machado no Pará em 2013 abordando relatos de
ex-soldados da guerrilha.A reportagem, publicada no jornal Diário do Pará, chegou a ser finalista
do Prêmio Esso.Já atuando como roteirista, Machado levou a história até a Giros, iniciando a partir dai o trabalho de pesquisa e seleção de
personagens junto a produtora executiva do documentário, Michelle Maia.
As filmagens foram realizadas em Belém, Barcarena, Marabá e
Rio de Janeiro.Os depoimentos colhidos por Machado e Belisário Franca relatam situações
onde a violência imposta pela ditadura militar não poupava sequer seu próprio braço armado.O episodio é descrita pela psicóloga
paraense Jureuda Guerra ,como o "Vietnã brasileiro", pois também se
tratou de uma guerra suja , que o Exercito buscou manter sob o mais profundo silêncio.
"Soldados do Araguaia" tem um grande diferencial
em relação a outros filmes do gênero.É um documentário que foge das amarras dos
simples depoimentos, buscando complementar os relatos com imagens e sons característicos
da região.É uma experiência fílmica e sensorial
impactante.
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