sábado, 22 de março de 2025

Marias ( Ludmila Curi;2024)


 MARIAS
BRASIL|2024|Documentário|Direção e Roteiro:Ludmila Curi|78 min
O documentário percorre o Brasil e a Rússia em busca de sua protagonista. Campesina, nordestina, clandestina, Maria Prestes teve vários nomes: foi militante do PCB, escritora e esposa de Luis Carlos Prestes com quem teve sete filhos e passou anos no exilio por conta da perseguição da ditadura militar brasileira .Nessa trajetória, o filme atravessa as histórias de outras mulheres que também participaram ativamente de grandes momentos do último século. Entre elas, Olga Benário, Maria Bonita,Dilma Rousseff e Marielle Franco. Marias reconhece a importância das lutas cotidianas das mulheres para conciliar papéis e escolhas, como a maternidade, o trabalho e a luta por um mundo melhor.
APÓS A EXIBIÇÃO 
RODA DE CONVERSA COM A DIRETORA DO FILME LUDMILA CURI





quinta-feira, 20 de março de 2025

Sem Teto,Sem Lei ( Agnès Varda,1985)


 SEM TETO NEM LEI
(Sans toit ni loi)
FRANÇA;REINO UNIDO|1985|
Direção e Roteiro: Agnès Varda| 105min |
No filme, Mona (Sandrine Bonnaire), uma andarilha, é encontrada congelada em um vinhedo no interior da França. A partir do relato das pessoas que cruzam com ela nos seus últimos dias de vida, o filme constrói um retrato da jovem, dos tipos sociais e do ambiente hostil onde ela circula.O resultado compõe um retrato da França naquele momento histórico, ao mesmo tempo que propõe uma discussão sobre a atitude anticapitalista da personagem principal. Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1985

domingo, 16 de março de 2025

Moolaadé (Ousmane Sembène;2004)


 MOOLAADÉ
SENEGAL,BURKINA FASO,FRANÇA|2004| 
Direção e Roteiro: Ousmane Sembène|123 min
Numa aldeia africana em Burkina Faso, o costume da mutilação genital feminina é temido por todas garotas. Quando uma mulher protege um grupo de meninas de sofrer a excisão ela inicia um conflito que divide sua aldeia.
INDICAÇÃO E APRESENTAÇÃO DO FILME: ANNA NABUCO




Momento de Decisão ( Herbert Ross.1977)


MOMENTO DE DECISÃO (The Turning Point)
EUA |1977| Direção:|119 min
Elenco Principal: Anne Bancroft ,Shirley MacLaine,Mikhail Baryshnikov
O balé clássico sempre foi associado a beleza, disciplina e perfeição, mas por trás da leveza dos movimentos, esconde-se um mundo de sacrifícios ,pressões e dilemas pessoais. O  filme mergulha nesse universo, explorando as vidas de duas mulheres que seguiram caminhos opostos dentro do mundo da dança, mas que, anos depois, se reencontram para questionar as escolhas que fizeram.
INDICAÇÃO E APRESENTAÇÃO DO FILME:
WALDYR LINS DE CASTRO

 

domingo, 9 de março de 2025

Os 80 Gigantes (Joana Nin;2024)


 



Canina ( Marielle Heller ;2024)


 CANINA
(Nightbitch)
EUA| 2024|Direção: Marielle Heller | Roteiro: Rachel Yoder| 99 min |
Elenco: Amy Adams, Scoot  McNairy, Jessica Harper
Uma mulher, que abdica dos seus sonhos profissionais para cuidar do filho, confronta a expectativa da maternidade com a realidade de sua condição de mãe e de sua vida doméstica.
INDICAÇÃO E APRESENTAÇÃO DO FILME: CELINA SODRÉ







quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Chega de Fiu-Fiu (Amanda Kamanchek e Fernanda Frazão;2018)


CHEGA DE FIU-FIU
BRASIL|2018|Documentário 
Direção: Amanda Kamanchek e Fernanda Frazão|79 min
Através de imagens coletadas por câmeras escondidas, o dia a dia de três mulheres é retratado, mostrando como a violência de gênero é constantemente praticada no espaço público urbano. As diretoras  procuraram especialistas para discutir sobre o assunto, buscando encontrar respostas e alternativas para a uma questão fundamental: será que as cidades foram feitas para as mulheres?
Por meio de ativismo, arte e poesia resistem e propõem novas formas de (con)viver no espaço público.



Conclave (EdwarbBerger;2024)


CONCLAVE
EUA;REINO UNIDO|2024
Direção: Edward Berger|120 min.
O Cardeal Lawrence é encarregado de liderar um dos eventos mais secretos e antigos do mundo: a eleição de um novo Papa, O Cardeal se vê no centro de uma conspiração, desvendando segredos que ameaçam não apenas sua fé  mas também as fundações da própria Igreja Católica.



sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar (Marcelo Gomes;2019)


 ESTOU ME GUARDANDO PARA QUANDO O CARNAVAL CHEGAR
BRASIL|2019|Documentário ‧ 
Direção:Marcelo Gomes|85 min.
A cada ano ,milhões de jeans são produzidos em fábricas de fundo de quintal em Toritama,no agreste de Pernambuco. Os moradores locais trabalham sem parar, orgulhosos de serem os donos do seu próprio tempo. Durante o Carnaval, transgridem a lógica da acumulação de bens, vendem seus pertences e fogem para as praias em busca da felicidade efêmera.




domingo, 16 de fevereiro de 2025

Ele Não Usam Black-Tie ( Leon Hirszman;1981)


 ELES NÃO USAM BLACK-TIE
BRASIL|1981|120 min|Direção: Leon Hirszman| Roteiro: Leon Hirszman e Gianfrancesco Guarnieri
Elenco Principal: Gianfrancesco Guarnieri, Fernanda Montenegro, Francisco Milani, Bete Mendes, Carlos Alberto Riccelli, Milton Gonçalves.
Baseado em peça homônima de Gianfrancesco Guarnieri escrita em 1958, o filme tem como tema central conflitos e contradições da classe trabalhadora brasileira no final dos anos 1970 durante a ditadura militar, com preocupações e reflexões universais que  justificam a atualidade do texto.




sábado, 15 de fevereiro de 2025

Trilha Sonora Para Um Golpe de Estado (Johan Grimonprez ;2024)

TRILHA SONORA PARA UM GOLPE DE ESTADO
(Soundtrack to a Coup d'Etat)
FRANÇA;BÉLGICA|2024 |145 min| Direção: Johan Grimonprez 
No documentário jazz ,descolonização e geopolítica se entrelaçam a partir de um episódio da Guerra Fria: o protesto dos músicos Abbey Lincoln e Max Roach no Conselho de Segurança da ONU, em 1961, contra o assassinato de Patrice Lumumba, líder da independência do Congo. A história traz à tona a relação entre a música jazz e a luta pela descolonização, ao mesmo tempo em que revela as tensões políticas do período. Uma denúncia da opressão contemporânea que ainda recai sobre os territórios africanos.



domingo, 9 de fevereiro de 2025

Uma Casa em Jerusalém ( Muayad Alayan ;2023)


 UMA CASA EM JERUSALÉM
(A House in Jerusalem)
PALESTINA;REINO UNIDO;ALEMANHA|2023|1O3 min|Direção: Muayad Alayan 
Elenco Principal:Johnny Harris,Miley Locke,Sheherazade Makhoul Farrell
Rebecca é uma garota inglesa que muda-se para Jerusalém após a morte da mãe. Ela e seu pai passam a viver na casa que era dos avós, judeus que conseguiram o imóvel após a expulsão de palestinos na Nakba em 1948. Após a chegada de Rebecca, coisas estranhas passam a acontecer.




Tio Vanya em Nova York ( Louis Malle;1994)



 
TIO VANYA EM NOVA YORK
(Vanya on 42nd Street)
EUA|1994|119 min|Direção:Louis Malle| Roteiro:David Mamet
Elenco Principal: Wallace Shawn, Andre Gregory, Julianne Moore, George Gaynes;Brooke Smith
Na Nova York contemporânea, atores se dirigem a um teatro em ruínas. Sem cenário ou figurinos especiais, interpretam "Tio Vânia", de Anton Tchecov, trazendo à cena a atualidade e os dilemas de Vânia .





terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

César Tem Que Morrer ( Paolo e Vitorio Taviani, 2013)


CÉSAR TEM QUE MORRER
(Cesare Deve Morire)
ITÁLIA|2013|76 min|Direção e Roteiro:Paolo Taviani, Vittorio Taviani
Elenco Principal: Cosimo Rega,Salvatore Striano,Giovanni Arcuri
A peça teatral "Júlio César", de William Shakespeare, é encenada por um grupo de prisioneiros numa prisão de segurança máxima na Itália.O paralelo entre esse drama clássico e o mundo de hoje mostra como a universalidade de Shakespeare ajuda os detentos a entenderem as próprias questões.


domingo, 2 de fevereiro de 2025

CINEMA E TEATRO: APROXIMAÇÕES


 CINEMA E TEATRO:APROXIMAÇÕES

No mês de fevereiro, o Lumière Cineclube  e a Casa dos Saberes exibirão três filmes que destacarão as aproximações entre as linguagens do cinema e do teatro. 
Por ser o cinema a arte que sintetiza várias formas e concepções artísticas diferentes, diversos elementos estruturam um filme, a saber, roteiro, direção, fotografia, figurino e cenografia, atuação (representação; mise en scène), montagem, som, trilha sonora, efeitos especiais e produção:
A atuação/representação do teatro nos filmes é muito recorrente nas conversas e debates após as exibições do Lumière Cineclube, não só em termos de adequação do texto teatral e roteiro adaptado, mas principalmente a interpretação e dramatização. 
O teatro e o cinema são duas das formas mais antigas de expressão artística. O diálogo entre teatro e cinema remonta aos primeiros anos do cinema, sobretudo o do cinema falado, com filmes produzidos com textos de teatro. 
Esse período é conhecido como a idade de ouro do teatro filmado. Na década de 1960, a adaptação de peças teatrais conquista mais originalidade, (...) São filmes que rompem com a estrutura do puro teatro filmado, o qual condensa a energia dramática apenas no diálogo, já que o cinema, ao invés de fazê-lo falar, fá-los agir: o que o teatro conta por palavras, o cinema mostra através de imagens. (Andrea Sulzbach - O Diálogo entre o Teatro e o Cinema: a intertextualidade na encenação do filme Anna Karenina; 2022)
 Desta forma o cinema possibilitou transformações de situações teatrais e essas duas formas de arte evoluíram de maneiras diferentes ao longo do tempo. Enquanto o teatro permaneceu fiel às suas raízes ao vivo, o cinema se desenvolveu para se tornar uma forma altamente tecnológica de arte visual e produto da indústria cultural 
Como o teatro e o cinema estão se influenciando mutuamente?  O que essa convergência significa para a natureza do teatro e do cinema? Como equilibrar os elementos que compõem um filme e manter a base de um cinema inteligível ao contar uma história partindo do texto teatral, adaptado ou original? 
A linguagem cinematográfica e a teatral possuem limites distintos, mesmo assim, apresentam convergências. Esse trabalho afirma a possibilidade de uma intertextualidade entre esses dois segmentos artísticos que, ao longo da pesquisa, foram percebidos como possíveis diálogos. Essa dualidade entre o cinema e o teatro pode acontecer sem tornar o filme, que dela se apropria, rudimentar, quando rompe com certos padrões presentes no cinema hegemônico, ao aplicar em sua estrutura diferentes relações entre conteúdo e obra quando seleciona as Artes Cênicas como complemento da encenação. (Andrea Sulzbach - O Diálogo entre o Teatro e o Cinema: a intertextualidade na encenação do filme Anna Karenina; 2022)
Na realidade é o equilíbrio entre. imagem e palavra. Afinal muitas produções fílmicas contemporâneas exageram na utilização de outros elementos transformando o filme em expressões desequilibradas e que por isso torna secundaria ou irrelevante a interpretação e a atuação dos atores.


CINEMA E TEATRO: APROXIMAÇÕES
PROGRAMA:
CASA DOS SABERES 
Rua Rodrigues Alves, 455- São Pedro da Serra-Nova Friburgo/RJ
HORÁRIO:19 HORAS
ENTRADA FRANCA
CURADORIA E APRESENTAÇÃO DAS SESSÕES: 
Celina Sodré (Coordenadora do Instituto do Ator; Diretora do Studio Stanislavski; Professora Adjunta da Universidade Federal Fluminense)


SEXTA-FEIRA, 7 de FEVEREIRO
CÉSAR TEM QUE MORRER
(Cesare Deve Morire) ITÁLIA|2013|76 min|Direção e Roteiro:Paolo Taviani, Vittorio Taviani Elenco Principal: Cosimo Rega,Salvatore Striano,Giovanni Arcuri
A peça teatral "Júlio César", de William Shakespeare, é encenada por um grupo de prisioneiros numa prisão de segurança máxima na Itália. O paralelo entre esse drama clássico e o mundo de hoje mostra como a universalidade de Shakespeare ajuda os detentos a entenderem as próprias questões.


SEXTA-FEIRA,14 de FEVEREIRO
TIO VANYA EM NOVA IORK
(Vanya on 42nd Street) EUA|1994|119 min|Direção:Louis Malle| Roteiro:David Mamet; Elenco Principal:Wallace Shawn,Andre Gregory,Julianne Moore,George Gaynes; Brooke Smith
Na Nova York contemporânea, atores se dirigem a um teatro em ruínas. Sem cenário ou figurinos especiais, interpretam "Tio Vânia", de Anton Tchekhov, 
trazendo à cena a atualidade e os dilemas de Vânia.


SEXTA-FEIRA,21 de FEVEREIRO
ELES NÃO USAM BLACK-TIE
BRASIL|1981|120 min|Direção:Leon Hirszman| Roteiro:Leon Hirszman e Gianfrancesco Guarnieri; Elenco Principal: Gianfrancesco Guarnieri,Fernanda Montenegro,Francisco Milani,Bete Mendes,Carlos Alberto Riccelli,Milton Gonçalves.
Baseado em peça homônima de Gianfrancesco Guarnieri escrita em 1958, o filme tem como tema central conflitos e contradições da classe trabalhadora brasileira no final dos anos 1970 durante a ditadura militar, com preocupações e reflexões universais que justificam a atualidade do texto.




Bianca ( 2013) ; O Pião (2020) ( Karina Mello)


 

BIANCA 

BRASIL|2013|15 min
Direção:Karina Mello 
Elenco: Karina Mello;Clara Choveaux;Camilo Beviláqua;David Emmanuel Pasqualine;Rafael Theophilo
Um filme de encontros entre duas mulheres que por muito tempo se davam por vencidas por suas próprias realidades. A opressão dá lugar a liberdade  e ao encantamento de um novo destino.


O PIÃO
BRASIL|2020| 12 min
Direção e Roteiro: Karina Mello
Elenco:Cauã Antunes;Heloísa Jorge;Osvaldo Mil;Wilson Rabelo
Uma mulher tem suas lembranças trazidas pela mão de seu filho através de um pião. Uma fábula urbana.
APÓS A EXIBIÇÃO,RODA DE CONVERSA COM A DIRETORA KARINA MELLO



sábado, 1 de fevereiro de 2025

Amnésia ( Christopher Nolan;2001)


 AMNÉSIA
(Memento)
EUA|2001|116 min|Direção:Christopher Nolan 
Um ladrão ataca um casal,mata a mulher e deixa o homem à beira da morte.Porém,ele sobrevive e a partir de então passa a sofrer de uma doença que o impede de gravar na memória fatos recentes.Ele  parte para uma jornada  a fim de descobrir o assassino de sua mulher e tem como obstáculo sua amnésia.
INDICAÇÃO E APRESENTAÇÃO DO FILME:
RODRIGO NIN





domingo, 26 de janeiro de 2025

Farhrenheit 451( François Truffaut,1966)



FAHRENHEIT 451
REINO UNIDO;FRANÇA|1966
DIREÇÃO:François Truffaut|110 min.
ELENCO PRINCIPAL:Oskar Werner,Julie Christie,Cyril Cusack 
Em um Estado totalitário futurista  os bombeiros têm como função principal queimar livros,pois foi convencionado que literatura propaga infelicidade e ameaçã a estabilidade social.Mas,o bombeiro Montag,começa a questionar tal linha de raciocínio quando vê uma mulher preferir ser queimada com sua vasta biblioteca ao invés de permanecer viva.

APRESENTAÇÃO DA SESSÃO:
JESSÉ RODRIGUES (Antropólogo e mobilizador de projetos)


FAHRENHEIT 451’ (1966): A ANGUSTIANTE ATUALIDADE DO FILME DE TRUFFAUT

Postado por Renildo Rodrigues | maio 31, 2018 | Classic Movies

Disponivel em http://www.cineset.com.br/fahrenheit-451-1966-a-angustiante-atualidade-do-filme-de-truffaut/

Antes de começar a falar sobre Fahrenheit 451, o filme de 1966, é preciso alertar sobre Fahrenheit 451, o filme de 2018 que acaba de entrar em cartaz: o original de Truffaut é uma criação bem mais inquietante e inteligente, e uma adaptação cinematográfica muito mais rica do romance de Ray Bradbury (As Crônicas Marcianas).E, no entanto, a impressão de muitos críticos sobre o filme, à época e agora, é de fracasso – um dos trabalhos menos admirados do grande diretor francês, ponta-de-lança da Nouvelle Vague nas décadas de 1950 e 60 e autor de obras-primas como Os Incompreendidos (1959), Jules e Jim: Uma Mulher para Dois (1962) e A Noite Americana (1973).

Por esse padrão, até entendo que Fahrenheit 451 seja considerado um filme menor do cineasta – uma sombra modesta, digamos, perto da arquitetura imponente de um Os Incompreendidos. Mas Truffaut, um dos criadores mais vitais e apaixonados da Sétima Arte, era constitucionalmente incapaz de fazer um filme meia-boca, sem propósito. E, aqui, em sua única investida pela ficção científica, ele também deixaria a sua marca, criando um exemplar visualmente fascinante e rico em subtextos, num dos períodos mais elegantes e artisticamente ambiciosos do gênero (a poucos anos de distância, por exemplo, de 2001: Uma Odisseia no Espaço [1968], Planeta dos Macacos [1969], O Enigma de Andrômeda [1971] e Solaris [1972].

A primeira surpresa da obra são os créditos: sobre uma série de imagens de antenas de TV, os nomes do elenco, da equipe de produção e do diretor não aparecem escritos, mas sim ditos em voice-over. O que parece bizarro se revela uma escolha absolutamente lógica, pela história a seguir.

No futuro imaginado por Bradbury, os bombeiros não apagam incêndios: eles os provocam. Operando lança-chamas em vez de mangueiras, eles ateiam fogo a livros, esses instrumentos inconvenientes de livre-pensamento e imaginação, que só servem, como explica o chefe da brigada (Cyril Cusack), para tornar as pessoas infelizes, inspirando sonhos e fantasias impraticáveis no mundo real. Nesse quadro totalitário, que não admite dissidências, Montag (Oskar Werner, de Jules e Jim) é um despreocupado funcionário-padrão, vivendo um casamento opaco com Linda (Julie Christie). Cotado para uma promoção, Montag parece estar indo de vento em popa na corporação, mas o encontro com a misteriosa e tagarela Clarisse (Christie também – numa decisão arriscada, mas plenamente justificada, do diretor, a atriz tem de representar duas personagens femininas moralmente opostas, mas cuja semelhança física empresta ambiguidade, e que seria ainda mais acertada se Christie desse conta do desafio) atiça no bombeiro uma curiosidade irresistível por esses trecos com capas, lombadas e páginas.

É um mundo, portanto, livre da leitura (o que explica aqueles créditos iniciais) – a formação cultural das pessoas se dá diante das “paredes convertidas”, com seus televisores dominados por programas produzidos pelo governo, e que propagam a condição de felicidade geral da população, ao mesmo tempo em que convocam jovens com aptidão física para “treinamentos de campo” contra possíveis tumultos – mascarando uma guerra contra dissidentes fora dos muros da cidade, algo a que o filme de Truffaut só alude, mas está bem presente no romance de Bradbury.

Como toda grande ficção científica – e qualquer outro filme, na verdade –, o enredo de Fahrenheit 451 fala profundamente à sensibilidade de seu realizador. Truffaut cansou de dizer em entrevistas que teve a vida salva por seu amor aos filmes e à literatura. Em Os Incompreendidos, o alter-ego do diretor, o menino Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud), acende uma vela para Honoré de Balzac antes de dormir. E, em Fahrenheit 451, mais do que uma alegoria sobre totalitarismo, censura e alienação, o que está patente é o profundo amor de Truffaut pela literatura. As cenas mais icônicas do longa, não por acaso, são os planos em que a câmera registra dezenas de livros, com suas lindas capas e ilustrações, sendo lentamente consumidos pelo fogo. O final pungente, com o idílio (e martírio) das Pessoas-Livro, coloca de forma ainda mais explícita essa devoção do diretor.

Também como toda grande ficção científica, Fahrenheit 451 tem muito a dizer sobre a sua época, e sobre todas as outras. Num mundo dominado por fake news, alienação voluntária em redes sociais, tumultos econômicos e sociais, governos totalitários mascarando-se de democráticos e demais malaises, a obra é um espelho amplificado de nossos temores e dos piores aspectos de nosso dia-a-dia, e um lembrete, sempre relevante, de que o conhecimento sempre há de ser maior e mais duradouro do que a opressão.

Esteticamente, Fahrenheit foi mais um golpe de ousadia e inovação da Nouvelle Vague. Num tempo em que o processo da fotografia em cores ainda era restrito a filmes de grande orçamento, Truffaut aproveitou a oportunidade para criar um visual único para seu longa, que antecipa várias sacadas de filmes posteriores. As paisagens dominadas por concreto, o vermelho intenso do quartel dos bombeiros e o uso repetido de travellings parecem ter influenciado bastante o Laranja Mecânica de Stanley Kubrick, por exemplo. As cores fortes e contrastantes, pré-psicodélicas, têm um parentesco com os experimentos de Fellini (Julieta dos Espíritos [1965]) e Antonioni (Blow-Up: Depois Daquele Beijo [1966]) na mesma época. E a trilha sonora de Bernard Herrmann, colaborador de Alfred Hitchcock, ídolo de Truffaut, também é uma maravilha, com seus tons ominosos e cheios de instrumentos percussivos. A energia típica da direção, com a montagem rápida e a movimentação incisiva da câmera, prova mais uma vez que Truffaut é o precursor mais direto de Martin Scorsese.

Mas Fahrenheit 451 tem mesmo os seus desapontamentos. Os diálogos duros, não-naturais, em inglês, idioma que Truffaut nunca dominou (foi o seu único filme nele, aliás), atrapalham as cenas de maior voltagem emocional, ao mesmo tempo em que criam um tom de détachement que serve bem à humanidade anestesiada do romance de Bradbury. Christie, provavelmente por falta de experiência, tanto dela como do diretor, está apática, quando seus dois personagens pedem registros mais nuançados. E a produção complicada, cheia de brigas, sobretudo entre Truffaut e o protagonista Werner, impediu que Fahrenheit chegasse às alturas que as ideias do cineasta pareciam anunciar.

O que saiu, porém, é um trabalho belo e contundente, que se sustenta por mérito próprio décadas depois, e que cavou um lugar especial na ficção científica tanto por suas brilhantes ideias visuais quanto pelo humanismo de sua mensagem de amor à cultura.




sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Dias Perfeitos ( Wim Wenders;2024)

DIAS PERFEITOS(Perfect Day)

JAPÃO/ALEMANHA|2024|125 min|Direção:Wim Wenders
Hirayama trabalha como limpador de banheiros em Tóquio.Ele parece satisfeito com sua vida simples e dedica seu tempo livre à paixão pela música, livros e fotografia. Aos poucos, seu passado é gradualmente revelado através de uma série de encontros inesperados

INDICAÇÃO E APRESENTAÇÃO DO FILME:MARIA GARCIA




 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Um Dia Muito Especial ( Ettore Scola;1977)


 UM DIA MUITO ESPECIAL
(Una Giornata Particolare)
ITÁLIA|1977|106 min| Direção:Ettore Scola.
Roma,6 de maio de 1938.No dia em que a cidade celebra a visita de Adolf Hitler a Benito Mussolini, dois vizinhos se conhecem: a dona de casa Antonietta, casada com um militante fascista e mãe de seis filhos, e o radialista homossexual Gabriele. Ao longo do dia, vivem uma intensa relação humana, compartilhando seus dramas e esperanças. Aos poucos desenvolvem um tipo muito especial de amizade.



quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Drive My Car (Ryûsuke Hamaguchi ;2021)


 DRIVE MY CAR
( ドライブ·マイ·カー;Doraibu mai kâ)
JAPÃO|2021|170 min
Direção:Ryûsuke Hamaguchi 
Um renomado ator e diretor de teatro tem que aprender a lidar com uma grande perda pessoal, quando recebe uma oferta para dirigir uma produção multilíngue de Tio Vanya em Hiroshima.



quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

A Noite do Triunfo ( Emmanuel Courcol ;2022)


 A NOITE DO TRIUNFO
(Un Triomphe) FRANÇA|2023|107 min
Direção e Roteiro: Emmanuel Courcol 
Baseado em fatos,o filme conta a história de Etienne um ator que, em busca de um trabalho, acaba dirigindo uma oficina de teatro dentro de uma prisão de segurança máxima. Encantado com os talentos que encontra entre os prisioneiros ele prepara seus alunos para encenar "Esperando Godot", de Samuel Beckett, em um teatro de verdade, fora da prisão.


terça-feira, 1 de outubro de 2024

Curral ( Marcelo Brennand ;2022)


CURRAL
BRASIL|2022 |Direção: Marcelo Brennand | 87 min
Elenco Principal:Thomas Aquino,Rodrigo Garcia, Carla Salle
Joel é um advogado que está na disputa para eleição de vereadores numa cidade em Pernambuco. Ele decide convida um antigo companheiro para participar da campanha, angariando votos de um bairro simples do município através da promessa do fornecimento de água. Apesar de receoso, Chico aceita, mas se vê atravessado por forças conflitantes enquanto questiona a ética desse tipo de campanha. 

sábado, 7 de setembro de 2024

Aranha( Andrés Wood;2019)

 










ARANHA
(ARAÑA) CHILE|ARGENTINA|BRASIL|2019|105 min
Direção: AndrésWood|Elenco Principal:MercedesMorán,MaríaValverde, Marcelo Alonso,Pedro Fontaine, Gabriel Urzúa, Felipe Armas ,Caio Blat

O FILME
Durante o período de movimentações políticas pré-golpe de 1973, o chileno Andrés Wood, em Aranha, coloca foco sobre a relação tortuosa nascida entre três fictícios membros do grupo paramilitar, terrorista e de extrema direita Pátria e Liberdade, peça importante no processo de desestabilização do governo Allende. Representante do Chile no Oscar 2021 de Melhor Filme Internacional, o longa acompanha dois momentos da vida de Inés , seu esposo Justo e Gerardo Na juventude, os dois primeiros eram garotos ricos, hipócritas ,conservadores e sádicos, aproveitando o período de convulsão política e social como uma permissão conjuntural para extravasar energia, fazendo da violência um jogo. Gerardo, por sua vez, abraçava o delírio nacionalista com fanatismo. Os três compartilhavam atividades no Pátria e Liberdade e acabaram envolvidos num triângulo amoroso. Porém, o desenrolar de um crime político que cometeram juntos separa seus destinos. Quarenta anos depois, Gerardo reaparece em busca de vingança e ainda mais obcecado pela causa que defendia. O problema é que suas ações ameaçam revirar o passado de Inés e Justo, agora empresários influentes, um casal tradicional com uma imagem a zelar. Com o brasileiro Caio Blat no elenco, Aranha, cujo título faz referência ao símbolo do Pátria e Liberdade, muito parecido à suástica nazista, questiona: onde se escondem os articuladores de ditaduras quando elas acabam?

O DIRETOR
O chileno Andrés Wood é diretor, roteirista e produtor de cinema. Nascido em Santiago em 1956, iniciou sua carreira com o curta” Reunião de família” (1994). Após a realização de seus longas-metragens iniciais, “Histórias de Futebol“ (1997), “O Desquite (1999) e “A Febre do Louco” (2001), tornou-se revelação internacional com o filme  “Machuca” (2004), drama memorialístico que, pelo olhar de um menino da classe média, observava o início dos anos 1970, que culminariam na ditadura do general Pinochet Em 2008, com o longa “A Boa Vida” foi premiado na Espanha na categoria de melhor filme estrangeiro. Outro destaque de sua carreira é o filme “Violeta Foi Para o Céu” (2011) sobre a vida da cantora chilena Violeta Parra, que ganhou o grande prêmio internacional do Festival de Sundance, nos Estados Unidos. Em 2013 escreveu e dirigiu a minissérie televisiva “Ecos do Deserto”, inspirada na história da advogada   Carmen Hertz e sua luta por levar a justiça os responsáveis pela morte de seu marido assassinado pelo Exército chileno durante o massacre conhecido como "A Caravana da Morte" perpetrada pouco depois do golpe de Estado de 1973.




domingo, 1 de setembro de 2024

Rasga Coração ( Jorge Furtado;2018)








O AUTOR
Oduvaldo Vianna Filho (1936 –1974), o Vianninha, é um dos mais importantes nomes da cultura brasileira. Seu principal legado foi no teatro. Escreveu mais de 20 peças, além de roteiros para cinema e televisão. Também foi ator e agitador cultural Sua vida e sua obra foram marcadas por intensa preocupação política e social. Vianninha foi participante ativo do Teatro de Arena, fundador do Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE) e do Grupo Opinião e militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
O teatro de Vianinha produziu peças como “Chapetuba Futebol Clube”, “Papa Highirte”, “A Mais-Valia Vai Acabar, Seu Edgar”,” A longa noite de cristal”, “Rasga Coração”, dentre outras. Vianinha faleceu aos 38 anos, em 1974.Sua última peça, "Rasga Coração", foi concluída durante sua hospitalização.

A PEÇA
Peça de Oduvaldo Vianna Filho, o Vianninha, escrita em 1972 e proibida pela Censura Federal. Encenada pela primeira em vez em 1979, em Curitiba e no Rio de Janeiro,” Rasga Coração” fala da relação entre Manguari Pistolão, homem de 57 anos e militante do PCB desde a juventude, e seu filho Luca, de 17 anos que enfrenta repressão na escola por ter o cabelo comprido. O debate entre pai e filho que Vianinha aborda é uma crise do impasse colocado por um sistema econômico e social degradante e decadente, mas que não termina de morrer porque para isso depende da estratégia consciente de seus coveiros - a classe trabalhadora." O autor diz que foi motivado a fazer "uma peça que estudasse as diferenças que existem entre o 'novo' e o ‘revolucionário'. O 'revolucionário' nem sempre é novo absolutamente, e o 'novo' nem sempre é revolucionário"

O FILME
Em 2018, o diretor Jorge Furtado, adaptou para o cinema o texto de “Rasga Coração”. 
No filme, depois de quarenta anos de luta, Custódio/Manguari Pistolão,militante comunista vê o filho Luis Carlos( Luca)  acusá-lo de conservador. Intercalando fragmentos de vários momentos da vida de Manguari, o filme destaca a vida política brasileira a partir de uma relação entre pai e filho.
Teatro e cinema dialogam, se integram e mostram a atualidade de Vianninha sobre a realidade brasileira .

O DIRETOR
Nascido em Porto Alegre, em 1959, ganhou notoriedade com o curta-metragem "Ilha das flores", vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim de 1990. Ainda em curtas-metragens fez "O dia em que Dorival encarou a guarda" (1986) premiado em Gramado e Havana, "Barbosa" (1988) e "Essa não é a sua vida (1991)" e "A matadeira" (1994). No final dos anos 1980 fundou a produtora Casa de Cinema de Porto Alegre. Em 2002, realizou seu primeiro longa-metragem de ficção, "Houve uma vez dois verões", filmado quase simultaneamente com o seu segundo longa, "O homem que copiava". Na sua extensa filmografia, destacam-se também os filmes "Saneamento básico – o filme (2007)" e  "O mercado de notícias" (2014).Em 2017, lançou o documentário Quem é Primavera das Neves, em codireção com Ana Luiza Azevedo.Em 2018, dirigiu "Rasga Coração"


sexta-feira, 23 de agosto de 2024

O Caso dos Irmãos Naves (Luiz Sérgio Person;1967)


 Nos 70 anos da morte de Getúlio Vargas, sua representação como personagem é bastante polêmica devido à complexidade e à magnitude de suas ações como presidente do Brasil. Durante um período de quinze anos (1930-1945) - A “Era Vargas” -, ocorreram grandes e importantes mudanças para o país. Entretanto, Vargas não é visto de forma favorável por todos. Se muitos o consideram como um fervoroso nacionalista e "Pai dos Pobres", existem outros tantos que o definem como ditador, simpático ao fascismo e amigo das elites.Pela perspectiva do autoritarismo de Vargas, as relações entre Estado e Sociedade sintetizadas na Constituição de 1937, perpassam as questões de estado e revelam o impacto, de uma maneira geral, das ditaduras nos cotidianos das sociedades, completando o arco de domínio necessário as suas permanências e extensão dos seus domínios.  Na ditadura do Estado Novo como exemplo, temos o “Caso dos Irmãos Naves”, considerado por muitos como o maior erro judicial da história do Brasil e que revela o cotidiano para o homem comum de toda a face da estrutura autoritária. A história que abrange o caso tem início em uma cidade do interior de Minas Gerais, Araguari, e origina-se com a acusação dos irmãos agricultores Sebastião Naves e Joaquim Naves pelo Tenente Francisco Vieira dos Santos, como responsáveis pela morte de seu primo. Os irmãos são presos, torturados e obrigados a confessar um crime que não cometeram O processo, conhecido a partir daí como "O caso dos irmãos Naves", transformou-se em filme e livro.  O filme, de 1967, baseado na obra de Alamy Filho é adaptado para o cinema com roteiro de Jean-Claude Bernardet e direção de Luís Sérgio Person.
Um dos méritos do filme é a relação temporal sugerida e que também podemos sugerir para os dias atuais. A demarcação de uma estrutura judiciária autoritária que o diretor Luís Sergio Person faz, relaciona a repressão da Ditadura Militar com o caso dos Irmãos Naves.  O filme nesse sentido, contribui para uma reflexão sobre a herança judicial e política que a formação do Estado brasileiro nos legou.  Afinal, que República é essa que prestes a completar 135 anos de sua instalação ainda mantem aspectos autoritários e discriminatórios na sua aplicação legal? 


Joaquim Ferreira

sexta-feira, 26 de julho de 2024

I.R.M.A. Invasão Russa na Mata Atlântica (Murundu de Livros) ( Celina Sodré e Clara Choveaux ;2021)


Recebi o filme de Celina Sodré e depois que o assisti, procurei a diretora para registrar minhas impressões. Celina perguntou:- É meio estranho, né? A inflexão da diretora gerou para mim um insight. 
Na realidade, diante de uma reação coloquial, a estranheza referida revestiu-se para mim do sentido antropológico de estranhamento.
A rigor, no exercício do estranhamento me identifico, me vejo e me afirmo como sendo, da mesma maneira, o Outro. O momento de contato com o Outro é o reconhecimento em outro indivíduo ou de um conjunto deles, suas diferenças e suas equivalências, buscando compreender sem julgamentos ou sobreposições, identificando, valorizando- e, acima de tudo, respeitando-o indivíduo. E é neste contexto que nasce a alteridade, atitude necessária para a compreensão do filme I.R.M.A. Nesse sentido, a percepção da estranheza é fundamental para a superação da alienação.
Ao fazer sua crítica o filme demarca importantes modelos culturais ligados a relação modernidade /pós-modernidade que confluem para o entendimento e construção das identidades. 
O filme I.R.M.A. faz justiça ao "estranho" dominado por séculos pela cultura europeia. ocidental. E na sua centralidade histórica sugere o domínio do mundo europeu ocidental sobre outras regiões da Europa, nesse caso a parte oriental, a Rússia/URSS, ao recorrer a autores como Dostoievski Tolstói, Tchekhov, Clarice Lispector, Tarkovsky, dentre outros. É como se fosse uma ponte, um auxílio para os dominados. 
Narrativamente o filme é complexo pela qualidade dos aportes teóricos apresentados e representados. Mas com atenção e alteridade, o enredo e os textos escolhidos, ao discorrerem sobre a relação homem x natureza contextualizam os problemas e desafios enfrentados pela sociedade pela condição e qualidade daquilo que não é afetado pelo tempo e, no mesmo ritmo, explicando nosso tempo. É uma questão didática de aprendizado e paciência diante da tela. Nesse caso o recorte teórico utilizado pelo viés da natureza supera uma mera ecologia oportunista e imediata.
E se repararmos bem a personagem central, a indígena, xamâmica, convida visualmente os autores citados através de um realismo magico, a dialogarem sobre as relações homem x natureza. Por ser um elemento catalisador das ações representadas, a indígena sugere também, a meu ver,  uma reconciliação entre Fé /Religião e Natureza/Ecologia pela perspectiva das religiões da natureza que acredita que a natureza e o mundo natural são uma personificação da divindade, sacralidade ou poder espiritual. Nelas se incluem as religiões indígenas praticadas em várias partes do mundo por culturas que consideram o ambiente imbuído com espíritos e outras entidades sagradas, equivalendo a religiões primitivas, sem hierarquias ou salvacionismo ou castigo.
Em termos dos elementos fílmicos , que a síntese das artes que o cinema promove, eles se apresentam no filme bem equilibrados em pouco mais de uma hora de exibição.: planos sequências, enquadramentos de expressões, distorções visuais e efeitos especiais econômicos, trilha sonora, música incidental e também a invasão cênica do teatro , necessária a qualquer filme  pela importância da representação e da atuação,
Enfim, “o filme é um poema”, como bem disse um espectador de I.R.M.A.  numa sessão cineclubista. Assim, a inicial e citada complexidade do filme é diluída a partir uma percepção poética e subjetiva.  
De uma maneira geral, o filme indica a cura da sociedade e da natureza pela literatura e pelo cinema. Por extensão é a própria condição do cinema como expressão artística e de transformação do homem e da sociedade.

Joaquim Ferreira